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São Francisco
SÃO FRANCISCO

REGIÃO CULTURAL DO SÃO FRANCISCO

Um Dia na História de São Francisco
Bomba Retardada

7 de janeiro de 1878. Nesta antiga Vila de São José das Pedras dos Angicos o clima era de euforismo, de alegria ruidosa.

Acabara de ser feita, solenemente, a proclamação que elevava a categoria de cidade. Sessão solene da Câmara Municipal, pregoeiros pelas ruas, toques de campainhas. Tudo como mandavam os figurinos da época; tudo com o soar das trampas dos oficlides e das clarinetas, com o espoucar dos foguetes de rabo, dos rojões e das girândulas; com luminárias nas fachadas das casas embandeiradas; com vinhos capitosos que deleitavam até a embriagues os participantes daquela festa, única na história de uma comunidade.

Tudo azul. Nenhuma nuvem toldava o céu dos conservadores, donos incontestáveis de todas as glórias daquele acontecimento.

Dias depois a bomba estourou! Uma bomba? Não. Passamos isso para o plural. Por cima da queda vem o coice, como diz o caboclo no seu linguajar simplório mas repleto de sabedoria.

A tormenta começou com a notícia da queda fragorosa dos conservadores. Os liberais haviam sido chamados ao poder organizado Sinimbú o penúltimo ministério liberal da monarquia. O último cairia em 1889 com a Coroa. Os chimangos estavam exultantes antegosando as delícias do poder. Viria dentro de poucos dias a derrubada geral das autoridades maragatas. Na Corte, nas Províncias, nas cidades e nas vilas. Era assim na monarquia. O gabinete que caia arrastava na sua desdita todo o partido. No Brasil inteiro.

Por cima de tudo veio aquele ofício do Presidente da Província, de 22 de fevereiro, suspendendo as solenidades que tornavam efetiva a promoção. A sede municipal continuaria sendo vila mesmo. O pretexto invocado era a falta de instalação condigna de determinados serviços públicos. Água na fervura.

Nas entrelinhas do ofício estava talvez oculta uma manobra dos adversários já que os prédios haviam sido oferecidos e aceitos.

A Câmara Municipal, presidida pelo conservador João Rodrigues Néri Gangana recebeu estarrecida o impacto daquela ordem que chegava em momento tão impróprio. E temerosa do ridículo... moita; quardou completo silêncio.

Que prato delicioso para os chimangos!... Matéria farta para os comentários da esquina. O prato do dia. E a proclamação que já estava feita? E as trompas, os oficlices e as clarinetas cujos sons ainda se perdiam no ar? Os foquetes de rabo, os rojões e as girândulas que já haviam espoucado? Os vinhos capitosos que haviam consumidos?

Que fazer? O presidente João Gangana não se deteve em meditações. Enfaticamente assumiu uma atitude algo temerária. Formulou a resistência, mas adoçou-a com protestos de submissão e respeito. A Câmara, respondeu ele, recebia submissa a decisão e longe estava de pretender opor-se a ela. Mas... cumpria lhe fazer algumas considerações. Contestou em seguida as razões invocadas para terminar peremptório.

"Esclarecida como fica a questam, esta Câmara continua a reconhecer a categoria de cidade de cujos foros entende estar legalmente gosando esta localidade, convicta de que V. Excia. lhe fará luminosa justiça..."

Uma resposta hábil que bem reflete a manha e a astúcia do político mineiro. Em resumo: A cidade menina não perdeu os brasões que, ancha e orgulhosa, vinha ostentando a vários dias.

E a decisão em contrário do Presidente da província?

FOI UMA BOMBA... (não foi possível recuperar a última frase)

*Matéria publicada no SF - O Jornal de São Francisco, Ano IV - em 05.11.1964, nº 964,pág. 3


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