SERRA
DO BRIGADEIRO
COMO
CHEGAR
O Parque
Estadual da Serra do Brigadeiro fica na Zona da Mata, no sudoeste de Minas
Gerais, a 330 Km de Belo Horizonte. Ocupa uma área de 32,5 mil hectares,
dividida entre sete municípios: Fervedouro, Abre-Campo, Araponga, Matipó,
Ervália, Miradouro e Muriaé. Há uma única estrada que corta o parque,
ligando as cidades de Araponga e Fervedouro, às margens da rodovia
Rio-Bahia, com trechos em estado precário de conservação. O parque
está localizado a 230 Km de Juiz de Fora e 60 Km de Viçosa e Carangola.
AS
BELEZAS DE UM PARAÍSO AINDA VIRGEM
No Parque
Estadual da Serra do Brigadeiro a natureza criou uma defesa praticamente
insuperável para suas riquezas. O relevo acidentado e os grotões úmidos
impediram que o homem destruísse uma das maiores reservas de Mata
Atlântica. O Parque foi incluído no Projeto Reserva da Biosfera da ONU,
ao lado dos parques nacionais do Caparaó e da Serra dos Órgãos e do
Parque Estadual do Rio Doce.
O valor real desse tesouro só agora está começando a
ser calculado por pesquisadores da região, que contam com o apoio de
cientistas de várias universidades do mundo inteiro. As descobertas de
novas espécies de plantas ou de espécimes raros de animais em extinção
surpreendem os maiores especialistas e motivam uma dupla de pesquisadores
de Carangola - o biólogo Braz Antônio Pereira Cosenza e o botânico
Lúcio Souza Leoni - a continuar o trabalho pela criação definitiva do
Parque.
Levantamentos feitos por imagens de satélite mostram
que 40% da área do parque ainda estão cobertos por matas nativas e 25%
por matas secundárias, reflorestadas. O restante é composto por campos
de altitude (10%) e áreas degradas pelo homem (25%). A serra é uma
"caixa d'água" para a Zona da Mata. Os rios e ribeirões que
nascem nas serras abastecem as bacias do rio Doce e do rio Paraíba. As
matas preservadas durante séculos da ação do homem, escondem ainda uma
grande variedade de animais em extinção e de árvores encontradas apenas
em reservas bem protegidas, além de plantas ainda desconhecidas. Seu
clima é bem característico. A serra passa boa parte do ano encoberta por
uma espessa camada de neblina. Nos meses mais frios, os pesquisadores têm
de enfrentar temperaturas abaixo de zero. Seu ponto mais alto é o pico do
Soares, a dois mil metros de altitude. A vegetação tem a chamada
floresta de encosta, até 1,4 mil metros de altitude, campos de altitude
no alto da serra, acima de 1,6 mil metros, e mata de transição nos
trechos intermediários. Os mesmo canyons florestais que protegem as
árvores da ação dos madeireiros e das queimadas são também um
empecilho para os pesquisadores.
OS
PESQUISADORES
A flora é um
grande bandeira que o Brigadeiro acolheu, já que o trabalho do botânico
Lúcio de Souza Leoni, especialista em orquídeas, responsável pela maior
parte das descobertas de espécies raras ou desconhecidas, foram
organizados nestes dez anos de laboriosas pesquisas. O Herbário Guido
Pabst, de Carangola, representado pelo seu curador, professor Leoni,
conseguiu determinar até agora 107 famílias de fanerógamas (plantas
superiores) e 24 de criptógramas (plantas inferiores), num total de 1.600
espécies, com a descrição de quatro novas espécies para a ciência.
Leoni já identificou 170 espécies de orquídeas no Parque, mais do que
nos Estados Unidos (exceto o estado da Flórida) ou do que no Canadá
inteiro e pouco menos do que na Amazônia.
Nos trabalhos de identificação de espécies, o
herbário sempre contou com a ajuda e cooperação de vários
pesquisadores do Brasil e do exterior. Cadastrado no Index Herbarium, o
herbário Guido Pabst ofereceu auxílio em atividades de campo no
Brigadeiro a diversos pesquisadores de várias instituições, além de
conceder empréstimos de coletas botânicas a pesquisadores nacionais e
internacionais, que regularmente trabalham em conjunto na Serra do
Brigadeiro.
Depois de anos de incansáveis pesquisas no
detalhamento e levantamento da fauna existente na floresta nativa do
Brigadeiro, o biólogo e professor Braz Cosenza descobriu, recentemente,
na Fazenda Neblina, localizada na região, a existência de seis
espécimes de primatas, cinco dos quais ameaçados de extinção feita
pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (IBAMA).
Nos quase 2.000 hectares de mata nativa da Fazenda
Neblina, o biólogo identificou exemplares do sagui-da-serra,
sagui-da-serra-escuro, sauá, barbado e do mono-carvoeiro. Um dos momentos
que mais encantou Cosenza, desde que começou a estudar a fauna e a flora
da Serra do Brigadeiro, foi o resgate, em 1987, de uma fêmea do
mono-carvoeiro, ou muriqui, o maior macaco das Américas e um dos animais
mais ameaçados de extinção no mundo. O mono-carvoeiro (Brachyteles
arachnoides), primata de cerca de 18 quilos e que mede 125 centímetros na
fase adulta, em sua formação nativa, distribuía-se desde São Paulo,
até a Bahia
A seguir o relato do biólogo Braz Cosenza sobre a
descoberta e o resgate da fêmea do mono-carvoeiro:
"Baseando-se em informações de caçador,
agrimensores, e de um historiador (Rogério Carelli), obtivemos alguns
dados superficiais para tentar encontrar algum resíduo da passagem desta
espécie pelo município de Carangola. Todos os indícios nos levaram ao
Vale das Serras do Madeira. Com todos os dados recolhidos e analisados,
partimos numa viagem de reconhecimento. Fiquei muito admirado com a
riqueza da região e muito mais ainda o companheiro de viagens e
excursões, Lúcio de Souza Leoni (especialista na família Orquidacea). A
primeira visão é alucinante, pois os maciços que formam por estas
serras são semelhantes aos do Parque Nacional do Caparaó, e ainda uma
beleza e grandiosidade de matas nativas, representadas por matas de
encostas e campos rupestres e uma área imensa de Mata Atlântica nativa.
À medida que chegávamos mais perto, a beleza
aumentava. Ali era um local onde o homem não tinha colocado sua mão
destruidora, e a natureza permanecia, como no princípio de tudo.
Na volta para Carangola foi que
uma pessoa da região nos indicou que num sítio existia um
"macaco". Foi quando houve o confronto visual e a confirmação,
logo a seguir, de que estávamos à frente de uma raridade, ou melhor,
estávamos à frente de um animal sujeito à extinção: o mono-carvoeiro.
O animal era um filhote, uma fêmea de mais ou menos
300 gramas de nome "Mônica", nome dado pelos filhos de seu
José Amado, o dono do sítio. O animal, além de lindo, era dócil e
muito carente. Localizado o animal numa quinta-feira, foi realizado o seu
resgate logo na segunda-feira. Explicamos ao proprietário a importância
daquele animal, principalmente em se tratando de uma fêmea, e
mostramo-lhes os cartazes que anunciavam os animais da fauna silvestre
brasileira ameaçados de extinção. Ele não revidou. Nos entregou o
pequeno animalzinho e ainda nos acolheu muito bem em sua propriedade.
A pequenina "Mona" ficou durante um dia
inteiro em minha casa. Durante o final de semana já haviam sido
contatados os professores Célio Vale e Ilmar Santos, especialistas no
assunto. Na terça à noite, um carro da UFMG chegou para buscar o animal,
que foi levado para Belo Horizonte, onde uma equipe pode fazer
observações mais detalhadas. Isto feito, o animal seguiu para Magé,
onde localiza-se o Centro de Primatologia do Rio de Janeiro. Uma gaiola
especial esperava por "Mônica", para que ela, daqui a algum
tempo, junto a um macho, possa formar uma família e ir aos poucos
repovoar as áreas que um dia por lá existiam."
CENTRO DE
ESTUDOS ECOLÓGICOS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL - CECO
Criado
há alguns anos, o CECO (Centro de Estudos Ecológicos e Educação
Ambiental), é uma entidade civil, autônoma e de utilidade pública,
sendo criada por ambição de algumas pessoas em tratar a questão
ambiental fora da conversa informal. O CECO vem há muito tempo auxiliando
entidades ambientais e de pesquisa, assim como o bem público nas
questões tocantes ao meio ambiente e a pesquisa científica. Através do
trabalho do biólogo Braz Cosenza, que é também o presidente da CECO,
conseguiu-se a construção de um "laboratório de campo",
localizado dentro da área do Parque da Serra do Brigadeiro, na Fazenda
Neblina. O laboratório está montado com toda a infra-estrutura mínima e
pronta a receber até dez pessoas por estação de pesquisa. A CECO,
entretanto, trabalha na região com reduzidos recursos para enfrentar
tantos desafios, incluindo-se a ação de depredadores e os vários
incêndios criminosos que já destruíram milhares de hectares.
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