JUIZ DE FORA:


Surgimento da Cidade:
Por contingências de natureza histórica e geográfica, Juiz de Fora e a região da Zona da Mata mineira ficaram à margem do caminho e de todo o processo cultural e econômico marcado pelo ciclo da mineração.
Com o objetivo de dar passagem a burros de carga com ouro e diamantes, a pedido do rei de Portugal, foi aberto o Caminho Novo por Garcia Rodrigues Paes em 1703. Já em 1709, tropeiros percorriam o caminho com regularidade. Se deve a este fato o surgimento de ranchos, hospedagens e postos de fiscalização do transporte de riquezas. Em torno deles foram surgindo roças e pequenos núcleos de povoamento que deram origem a cidades como Santo Antônio do Paraibuna, atual Juiz de Fora.
A região foi parcelada e apropriada pelo sistema de concessão de terras através das sesmarias. Porém, a ocupação efetiva só se fez durante a segunda década do século XIX, quando as minas já se encontravam em processo de esgotamento.
Em 1820, houve a necessidade da criação de uma estrada que viesse facilitar a comunicação entre Minas Gerais e o Rio de Janeiro. A cosntrução ficou a cargo do alemão, Henrique Guilherme Fernando Halfeld, nomeado em 1836 engenheiro da província. Era a estrada Nova que trouxe o desenvolvimento para a margem direita do Paraibuna.
O Caminho Novo se deu como ponto de partida para a criação da estrada, porém a rota foi mudada a partir da região hoje conhecida com Benfica. Foi traçada uma reta à margem direita do Rio Paraibuna, em torno da qual se desenvolveu a cidade, deixando em abandono o núcleo de povoação que surgiu em torno da velha fazenda do Juiz de Fora e levando a cidade rumo à colina do Alto dos Passos. Em pouco tempo a estrada já se tornara uma rua. Primeiro rua Principal, depois rua Direita e hoje a atual Avenida Barão do Rio Branco.
Desejando construir uma estrada nos moldes das que vira em sua viajem à Europa, o barbacenence Mariano Procópio Ferreira Laje, propõe ao governo Imperial não só a contrução, mas também a concervação da primeira via de rodagem do Brasil, a União e Indústria. Foi aplicado em sua construção o que havia de mais moderno para que a estrada pudesse ser usada mesmo em dias de chuva. A União e Indústria foi muito importante para a região devido ao fato da grande explosão da cultura cafeeira em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. A estrada facilitou o transporte da produção até a Corte, transformando a cidade em um centro de convergência da produção regional de café e em principal núcleo urbano da Zona da Mata Mineira. Sua construção também possibilitou a formação de uma colônia de imigrantes alemães, contratados por Mariano Procópio para trabalhar na obra e que seriam responsáveis pelos primeiros núcleos industriais da vila. Estes contribuiram para a criação de manufaturas reponsáveis pelo desenvolvimento industrial futuro que marcará a cidade no final do século XIX e início do XX.
A estrada foi inaugurada em 23 de junho de 1861 com a viajem da família Imperial vindo de Petrópolis para Juiz de Fora, já nesta época, a empresa encontrava-se com problemas financeiros sendo encampada em 1864 pelo governo que assumia a responsabilidade de suas dívidas.
Mariano Procópio tinha uma amizade muito estreita com o Imperador Pedro II, amizade esta que lhe rendeu favores e cargos, além de apoio à iniciativas empresariais. Com o objetivo de obter recursos para a Companhia, para contratar mão-de-obra alemã especializada, Mariano ingressou no negócio da colonização e comprou terras para localizar dois mil colonos.
Mariano terminou seus dias em 1872 como presidente da Estrada de Ferro D. Pedro II, a ferrovia que era, atribuida por muitos, o motivo da precoce decadência da União e Indústria.

A Organização do Espaço Urbano:
A área do povoamento recém surgido à margem direita do Paraibuna teve início com a partilha das terrras do tenente Antônio Dias Tostes entre seus doze filhos. A parte compreendida hoje pelo centro da cidade foi dividida em 12 faixas paralelas, tranversais à atual Rio Branco. As primeiras ruas foram abertas a partir da doação de terras num traçado sempre norteado pela Estrada Nova, transversais e paralelas à esta.
Os limites geográficos que direcionaram a criação do núcleo foram de um lado o Rio Paraibuna, tendo como limite o Morro do Imperador, de outro, a estrada traçada por Halfeld, eixo que orientou o desenvolvimento do povoado, e posteriormente, a estrada União e Indústria. Estas últimas iriam originar duas avenidas importantes na cidade, a Avenida Rio Branco e a Getúlio Vargas, respectivamente.
Em 31 de maio de 1850, por determinação da Lei Provincial, é criado o município de Santo Antônio do Paraibuna, com sede na vila de mesmo nome.
A Câmara do município foi instalada em 1853, numa casa comprada de Halfeld e que atraiu o desenvolvimento para a região mais central da vila, originando o largo onde seria construído o jardim municipal, atual Parque Halfeld.
Em 1856 a vila era elevada à cidade e para comemorar, varias ruas são abertas nos arredores do centro do poder, do comércio e da cultura. Em 1860 é elaborada a Planta de Arruamento da Cidade. Foi encomendada pela Câmara Municipal e deveria"desenhar a cidade tal qual ela se acha edificada" e "traçar o plano da mesma tal qual deve ser para o futuro edificada" incluindo a previsão de que"as ruas perpendiculares à rua Direita fossem abertas até a serra adjacente à cidade", o Morro do Imperador. Esta planta já previa a abertura da Avenida Independência. Eram também recomendações da Câmara que o engenheiro se encarregasse de regularizar o alinhamento e a demarcação de praças e ruas, para disciplinar a ocupação.
Outro fato importante no traçado da cidade foi a criação do Cemitério Municipal. Devido ao problema de doenças e pestes, os mortos não podiam mais ser enterrados nos terrenos das igrejas, e sim fora dos limites do povoado. O terreno foi prontamente doado e para acessá-lo foi necessário a abertura de uma via de ligação ao centro da vila. Existente até os dias de hoje, são as ruas Espírito Santo e Osório de Almeida.
Os trilhos da Estrada de Ferro D. Pedro II foram outro importante eixo orientador da ocupação urbana da cidade, chegaram na década de 1870 para facilitar ainda mais o transporte da produção cafeeira. A inauguração da estação aconteceu em julho de 1877, antes em 1876 inaugurada no bairro de Mariano. O centro da cidade teria sua estação aumentada em 1883, mas só em 1902 ganhou a forma atual. Um dos quarteirões históricos da cidade se situa à Praça João Penido, onde está a origem da ferrovia.

A chegada da Luz:
Para iluminar a cidade, o pioneiro Bernardo Mascarenhas enfrentou uma série de dificuldades. Os equipamentos encomendados `a Westinghouse, nos Estados Unidos, vieram com peças faltando, fora das especificaçõs, e os técnicos que chegavam não tinham especialização em correntes alternadas, o que era necessário para a isntalação. Então o próprio Bernardo Mascarenhas dedicou-se aos estudos dos equipamentos e à supervisão da sua montagem.
Em agosto de 1889, é feita por Mascarenhas a primeira experiência de iluminação pública gerada pela força de um rio, através da cachoeira dos Marmelos, no rio Paraibuna, da América do Sul.
Foi superando dificuldades que a Companhia Mineira de Eletrecidade deu um novo impulso à economia local, permitindo a expansão do parque industrial. Além da iluminação pública, a empresa explorou também a telefonia e serviós de bondes.
Sua decadência consolidou-se pela contestação por outras empresas do monopólio da energia, insatisfação da população quanto às tarifas cobradas e crescimento de acordo com a expansão urbana e industrial, causando uma defasagem entre produção e demanda de energia e cortes constantes no fornecimento.
Em 1980, a CEMIG obtém o controle acionário da CME e anuncia a encampanação oficial da empresa, assumindo todos os seus serviços.
Em janeiro de 1983, as instalações da antiga CME são tombadas como patrimônio histórico da cidade.

O Crescimento da Cidade:

Morro do Imperador:
Batizado com este nome pelo fato de constantes visitas do Imperador D. Pedro II, que observava não só os vales mas também se entusiasmava com atronomia e aproveitava de sua localização para observação das estrelas.
Situado na parte oeste do centro da cidade, o Morro do Imperador é um monumento natural que não poderia deixar de ser atração turística e área de lazer. Foi tombado em maio de 1990 por ser de valor histórico, cultural, paisagístico e ambiental. É "uma barreira natural que orientou a expansão urbana de Juiz de fora, em cujo sopé encontra-se a área central da cidade".
Rio Paraibuna:
O Paraibuna e sua bacia são marcos geográficos delimitadores que direcionaram a organização do espaço desde os primórdios da instalação de núcleos populacionais. O Caminho Novo corria paralelo à sua margem esquerda, onde foi construída a casa do Juiz de Fora. As terras alagadiças eram distribuídas através de sesmarias. O rio era também motivo de parada dos ambientalistas que por ele passavam em viajens do Rio à Minas.
Halfeld mudou o rumo do desenvolvimento e da expansão urbana da cidade, quando construiu a Estrada Nova, orientando-os para a margem direita do rio. Traçou uma imensa estrada na planície sedimentada pelas cheias, que determinou também os traçados da União e Indústria e da estrada de ferro D. Pedro II. Quando essas já estavam assentadas, no fim do século XIX, é que vão surgir construções nesta baixada periodicamente inundável.
Em Juiz de Fora duas enchentes marcaram o século passado, a de 1906 e a de 1940. Em 1946 é elaborado o Plano de Defesa de Juiz de Fora contra as inundações do Paraibuna, do Departamento Nacional de Obras de Saneamento, executado com recursos financiados pelo governo Getúlio Vargas. Os trabalhos envolveram obras de saneamento, dragagem, desmonte de rochas, aterros, proteção das margens, reconstrução e alargamento de pontes, desvio da rodovia União e Indústria e desapropriações.

Os Imigrantes:

Alemães:
Em meio a tantas crises internas chega a Alemanha H.F. Eschels, representante do Companhia União e Indústria, recém fundada empresa juizforana. A fim de contratar mão-de-obra para a construção da estrada União Indústria, ele prometia prosperidade, palavra mágica para quem estava acostumado a viver sem perspectiva. Não foi preciso muito esforço para que Eschels pudesse convencer os germânicos a virem para Juiz de fora transformar o sonho de Mariano Procópio em realidade.
De uma hora para outra, a pacata Juiz de fora teve sua população aumentada em 20%. Nunca tinha sido vista nessa região tanta gente com pele tão branca e cabelos tão loiros, de forma que no ano de 1858 se tornou um marco na história da cidade.
Além de mão-de-obra barata e especializada , foram contratados também mecânicos, fundidores, ferreiros, folheiros, ferradores, carpinteiros, marcineiros, ponteiros, pedreiros pintores e oleiros. Somando as famílias e os trabalhadores independentes o total chegou a 1193 pessoas, pouco mais da metade pretendida por Procópio.
Apesar da propaganda, Juiz de Fora não possuia infra-estrutura para acomodar tantos habitantes. Os colonos germânicos ficaram temporariamente instalados num acampamento na subida do antigo Morro da Gratidão, atual Morro da Glória, ao lado de um lago fétido o que trouxe de volta o tifo e a morte de velhos e crianças. Em cinco anos todos estavam instalados na Colônia Agrícola Dom Pedro II (Bairro São Pedro), na Colônia de Baixo (Bairro Borboleta) ou no Villagem (Bairro Fábrica).
Poucos colonos vieram com algum dinheiro. Isolados, não podiam fazer muito. Juntos abriam pequenos negócios e contratavam os conterrâneos como seus empregados. Timidamente os germânicos e seus descendentes começaram a contribuir para a industrialização de Juiz de Fora, mais tarde conhecida como "Manchester Mineira", numa comparação com o poderoso centro industrial inglês.
O Natal e a Páscoa eram as festas mais esperadas pelos germânicos e seus descendentes. À medida em que dezembro se aproximava, dava-se início à época de fazer reformas nas casas, cuidar do jardim com mais atenção e enfeitar a sala e o quarto com sinos natalinos. Foram os alemães que trouxeram para o Brasil o costuma de fazer ávores de Natal.
Aos poucos, o idioma alemão foi deixando de ser falado em casa, mas alguns rituais mantinham-se intactos, como os cuidados com os jardins, a rigidez na educação e a preservação da culinária.
Italianos:
Ao contrário dos italianos que povoaram a região sul do país antes de 1870, os imigrantes que chegaram à Juiz de Fora não formaram colônias, não tendo direito à terras nem incentivos para iniciar seus primeiros empreendimentos. A maioria dos que vieram no final do século XIX foi obrigada a abandonar os sonhos para sobreviver a longas jornadas em fábricas e fazendas de café. Seus dialetos e costumes perderam força e se misturaram aos hábitos nacionais.
Durante as primeiras décadas do século XX, a zona da mata concentrava cerca de 80 % da produção de café em Minas. Por ser o principal centro econômico da região e bem servida de ferrovias, Juiz de Fora foi escolhida para a instalação de um abrigo de imigrantes. A intenção era mandar para as fazendas os italianos que tinham habilidade com o campo e empregar todos os demais nas fábricas da cidade. Nada de terras como diziam as propagandas lá fora.
Projetada para abrigar 400 pessoas, a hospedaria erguida na Tapera chegou a comportar cerca de dois mil italianos logo no segundo mês de operação, em novembro de 1888. O imigrante poderia ser acolhio por apenas dez dias, tempo estabelecido pelo estado para que fosse contratado.
A estação de Mariano Procópio recebia cerca de 600 a 1500 famílias de imigrantes, enviadas por autoridades cariocas, com destino `a hospedaria de Juiz de Fora. Não demorou para que a cidade se visse ameaçada por surtos de varíola, febre amarela e cólera. Muitos italianos se suicidaram no rio, por desespero e saudade.
No ano de 1936, Francesco Imbroinise, veio por conta própria engrossar a longa história dos calabreses de Paola, que abocanharam o mercado de jornais e revistas em Juiz de Fora. Vendia em média 200 a 300 jornais por dia. Fatos extraordinários aumentavam a procura pelos noticiários impressos.
Foi inaugurado na cidade em 1939, um prédio em estilo art-déco, erguido pela Companhia Industrial e Construtora Pantaleone Arcuri, com verba arrecadada pela colônia italiana e com ajuda do governo fascista de Benito Mussolini, era a Casa d'Itália. O símbolo do Fascio ainda resiste na fachada e no piso de taco do salão nobre. Em 1942, quando o Brasil declarou guerra aos países do Eixo, a casa foi ocupada pelos militares e só devolvida aos italianos em 1953.
Outro edifício ainda existente é a Associação Cultural e Beneficente Ítalo-Brasileira Anita Garibaldi, criada em 1946 e cinco anos depois fundiu-se com a Associação dos Irmãos Artistas, criada por operários em 1908. A nova organização instalou-se na Avenida Rio Branco, 1262 e encerrou suas atividades na década de 60. A Casa de Anita só voltou a funcionar em 1993, com atividades culturais. O prédio foi restaurado com apoio da UFJF e de iniciativas privadas.
Resistindo a quase um século de história, a Igreja São Roque, é mais uma herança desse povo que deixou marcas na identidade de Juiz de Fora, tornando-se conhecida como a mais italiana das cidades mineiras no final do século XIX.
Árabes:
Compre água e venda água mas não trabalhe para ninguém.. Com essa filosofia, sírios e libaneses ganharam a vida em Juiz de fora e retribuiram a acolhida dando vida às ruas centrais com o colorido de suas mercadorias, principalmente tecidos.
Atraídos pelo potencial da cidade, vinham dispostos a trabalhar e prosperar, deixando para trás um passado sob constante ameaça de guerras.
Não trabalharam no campo e nem nas fábricas, nem contaram com incentivos ou subvenções do governo. Sírios e libaneses cristãos se instalaram na cidade espontaneamente a partir do século XIX.
Da Síria, 69 e do Líbano, cerca de 300 famílias se radicaram em Juiz de Fora. Na última década do século XIX, um libanês, Monsieur Howyan, elaborou um projeto revolucionário de água e esgoto para a cidade, antes de se mudar para Paris.
A Revolução de 30 estourava, inaugurando a segunda República, governada por Gettulio Vargas. O café da Zona da Mata já não conseguia bons preços no mercado, e as indústrias de Juiz de Fora resistiriam por mais um década aproximadamente. Enquanto isso, o comércio dos árabes se expandia pelas ruas Marechal Deodoro, Batista de Oliveira, Halfeld e Avenida Getulio Vargas.
Nos cem anos de Juiz de Fora, José Gattás entrega à cidade o prédio que construiu para abrigar o Hotel Centenário, que funciona até hoje. Dez anos depois homenageou a capital do país com o edifício Brasília, de 11 andares, erguido para sua família. Os altos edifícios começavam a mudar a paisagem da cidade.
Em 1965, o libanês Massaud Slayman Chahar partiu para o ramo da construção civil ao lado do amigo Alencar Medeiros, com quem loteou o bairro Progresso em cinco anos.
Existe ainda na cidade o Clube Sírio e Libanês fundado em 1964, com sede na Avenida Rio Branco, onde ocorrem reuniões anuais. Há também a Igreja Melquita Católica de São Jorge, criada em 1953, herança deixada pelos procedentes de Yabroud.
Algumas fábricas de tecidos foram abertas, dentre elas a fábrica Santa Rosa, a Malharia Master, a Viúva Salomão e Filhos e outras.
Longe das guerras os árabes encontraram paz em Juiz de Fora. Graças ao espírito empreendedor, libaneses e sírios guardam com orgulho a história construída com trabalho e determinação. Sábios, sociáveis, festeiros, grandes negociadores e incansáveis batalhadores.
Portugueses:
Vieram para Juiz de Fora em busca de um emprego, e não de enriquecimento. Não tinham sonhos, apenas objetvos. Muitos tiveram que driblar as medidas de controle de estrangeiros adotadas logo no Primeiro Império. Posteriormente os estrangeiros seriam mão-de-obra disputada, em detrimento dos trabalhadores negros, segregados mesmo depois da abolição da escravatura em 1888.
Ao contrário dos imigrantes germânicos e italianos, os portugueses não chegavam em grandes grupos. Muitos já tinham inclusive parentes na colônia. Era natural que os portugueses se tornassem pequenos comerciantes, pois não possuiam capital suficiente para grandes negócios. A garantia do conforto das gerações futuras só poderia ser obtida através de muito trabalho, aproveitando o crescimento urbano da época.
A Sociedade Portuguesa foi fundada em 1891com intuito de ajudar conterrâneos com dificuldades financeiras. Além de caráter solidário, a Sociedade sempre foi o lugar onde os patrícios se encontraram para cultivar suas tradições.

A Avenida Rio Branco:

Mais que um marco geográfico, a av. Rio Branco é uma referência histórica, não só por desviar o núcleo original de povoamento, mas também porque assume uma dimensão maior que seus quatro quilômetros em linha reta, ao se destacar como o centro para onde convergem as forças e instituições de poder. Segundo Pedro Nava, escritor juizforano "É assim que podemos dividir Juiz de Fora não apenas nas duas direções da Rua Direita, mas ainda nos dois mundos da rua Direita. Sua separação é dada pela Rua Halfeld. Esta, desce como um rio, do morro do Imperador, e vai desaguar na Praça da Estação. Entre sua margem direita e o Alto dos Passo estão a Câmara; o Fórum; a Academia de Comércio; o Stella Matutina, a Matriz, a Santa Casa de Misericórdia, a cadeia, toda uma estrutura social bem pensante... Esses estabelecimentos tinham sido criados, com a cidade, por cidadãos prestantes que praticavam ostensivamente a virtude e o amontoavam discretamente cabedais que as gerações sucessivas acresciam à custa do juro bancário e do casamento consanguíneo...Já a margem esquerda da Rua Halfeld marcava o começo de uma cidade mais alegre, mais livre, mais despreocupada e mais revolucionária. O Juiz de Fora projetado no trecho da Rua Direita que se dirigia para os que conduziam a Mariano Procópio era, por força do que continha, naturalmente oposto e inconscientemente rebelde ao Alto dos Passos. Nele estavam o Parque Halfeld e o Largo do Riachuelo, onde a escuridão noturna e a solidão favoreciam a pouca vergonha... Esse lado de Juiz de Fora, revolucionário, irreverente, oposicionista, censurante e contraditor - dizia sempre não! ao outro, ao do Alto dos Passos- conservador, devoto, governista, elogiador e apoiante."

Santa Casa de Misericórdia e a Saúde nos Dias Atuais:

Fundada em agosto de 1854, graças ao Barão de Bertioga, José Antônio da Silva Pinto, a irmandade sem fins lucrativos segue a inspiração de Frei Miguel de Contreiras, que pedia esmolas pelos enfermos e esfomeados.
Assim foi fundada a Irmandade dos Passos ou Santa Casa de Misericórdia, para promover o culto religioso e socorrer os irmãos pobres, prestando serviços médicos e cirúrgicos gratuitamente. Em 1859, a Santa Casa já atendia à Vila de Santo Antônio do Paraibuna.
Naquela época, a casa de Caridade era uma construção de um único pavimento, formando um conjunto com a capela ao lado e tendo em frente a coluna hidráulica para abastecer os vizinhos com água potável.
Hoje a Santa Casa de Misericórdia é uma das mais importantes instituições assistenciais do país, que emprega mais de 1300 funcionários e onde podem ser feitas cirurgias, incluindo transplantes e neurocirurgia com auxílio de aparelhagem de alta tecnologia.
Atualmente a cidade oferece serviços de alta complexidade e pode contar com hospitais modernos e bem equipados, Juiz de Fora é referência em saúde. A rede pública atende, além da população local, pacientes de 34 municípios integrantes da Diretoria Regional de Saúde (DRS), de outras DRSs e de estados como Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Quanto à rede particular, a cidade conta com algumas das unidades mais complexas do país, como o Hospital Albert Sabin, Hospital Monte Sinai e Hospital Unimed Bom Pastor, todos capacitados em pediatria, cardiologia, clínica médica, traumatologia e ortopedia.
A cidade conta também com o Hospital Universitário, referência regional no tratamento de pacientes portadores de vírus HIV.
É interessante notar que a partir da Santa Casa de Misericória, indo em direção ao Bairro Santa Luzia, estão cada vez mais se instalando clínicas médicos. A região está se caracterizando como ponto de importantes consultórios, laboratórios, pousadas para idosos e outros.

Juiz de Fora e suas Características Geográficas:

A temperatura mais baixa registrada em Juiz de Fora nos últimos 25 anos foi de 3,1ºC, em junho de 1985 e a temperatura mais elevada, foi de 34,4ºC em setembro de 1997, conforme dados do Laboratório de Climatologia/Departamento de Geociências da Universidade Federal de Juiz de Fora.
O mês de Janeiro é o que apresenta maior pluviosidade e o mês de julho, a menor. Em Juiz de Fora chove em torno de 1.500mm ao longo do ano.
Os ventos predominantes partem do norte.
A umidade do ar é elevada, variando ao longo do dia e dos meses do ano.
O clima é do tipo tropical, com duas estações: verão chuvoso, com temperaturas elevadas e inverno seco, com temperaturas amenas.

Juiz de Fora e sua Localização:

O município de Juiz de Fora, junto com um grupo de municípios próximos, forma a microrregião 65, que é uma divisão estabelecida pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para todo o país. Nesse conjunto, Juiz de Fora limita-se com alguns municípios. As cidades que fazem divisa com Juiz de Fora são Matias Barbosa, Belmiro Braga, Santa Bárbara do Monte Verde, Lima Duarte, Pedro Teixeira, Bias Fortes, Ewbank da Câmara, Santos Dumont, Piau, Coronel Pacheco, Chácara, Bicas, Pequeri e Santana do Deserto. A área da microregião 65 é de 35.748/ Km2.
Um cojunto de municípios forma a Zona da Mata, que é uma mesoregião situada a sudeste de Minas Gerais. A Zona da Mata é composta por 07 microregiões, das quais Juiz de Fora é a que possui maior área e população. É considerada polo regional devido a sua infra-estrutura, comércio e serviços.
A Zona da Mata se localiza num espaço de transição de relações externas, estabelecendo contatos com o Sul/Sudoeste de Minas, Campo das Vertentes, Região Metropolitana de Belo Horizonte e Vale do Rio Doca. Os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, situdos nas fronteiras desta mesoregião, são importantes contatos externos para o Estado.

Juiz de Fora Hoje:

Uma cidade cujo Produto Interno Bruto (PIB) cresce acima da média estadual e um município considerado entre os dez melhores do país para receber investimentos e o único de Minas classificado como centro submetropolitano.
Dos teares aos robos da indústria automotiva, da primeira usina hidrelétrica ao gás natural, a cidade evolui sem jamais perder de vista a qualidade de vida.
Estudo de Análise Sócio-Econômica feito pelo Instituto de Aviação Civil (IAC), culo resultado baliza o Plano Aeroviário do Estado de Minas Gerais (Paemg-1999), comprova que Juiz de Fora é o município que possui o maior potencial sócio-econômico de Minas, seguido de Betim e Poços de Caldas. Para esse diagnóstico foram considerados como fatores de relevância o PIB, o consumo de energia elétrica industrial e comercial e a população urbana. Também levou-se em conta o estudo de polarização e hierarquia funcional e os projetos de desenvolvimento previsto para cada região, a exemplo da duplicação da BR-040, entre Juiz de Fora e Belo Horizonte.
Dentre os municípios brasileiros que receberão maiores investimentos da iniciativa privada entre 1988 e 2005, Juiz de Fora ocupa a nona colocação. A previsão é que ao final deste período, a cidade tenha atraído um volume de novos negócios da ordem de US$ 1,47 bilhão. Boa parte, ou seja, algo em torno de US$ 820 milhões, se deve à instalação da Mercedes-Bens e seus fornecedores.
A população de Juiz de Fora é 447.141 habitantes e o PIB é estimado acima da média de Minas. Nos últimos anos, segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (SMDE), foram gerados cerca de seis mil postos diretos de trabalho e 18 mil empregos indiretos, a partir dos que foram criados diretamente.
A economia de Juiz de Fora apresenta traços de amadurecimento, com consumo semelhelhante ao de metrópoles e concentração em atividades tipicamente urbanas. Os setores industrial de de prestação de serviço, incluindo o de comércio, são responsáveis por mais de 99% do PIB do municépio. Esta concentração também se evidencia na arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercado e Serviços (ICMS).
A prova do crescimento da atividade econômica na cidade no período entre 1995 e 2000 se traduz ainda, pelo incremento da participação do município no bolo da arrecadação estadual, que saltou de 2.03% em 1995 para 3.08% em 1999, de acordo com a Secsretaria de Estado da Fazenda.
Se for considerado o Índice de Potencial de Consumo (IPC), segundo o levantamento da "Gazeta Mercantil", com base nos gastos das famílias, o município é ainda mais expressivo.
Com o IPC em R$ 3.08 bilhões em 2000, o município responde por 5,17% do total previsto para Minas, que é de R$ 59,5 bilhões. A cidade vive um surto de qualidade de vida. Do início da década de 90 aos dias atuais, a mudança é visível, alterando o dia-a-dia das pessoas que moram ou dependem de Juiz de Fors para a aquisição de bens e serviços. Houve um salto de qualidade. As pessoas que antes precisavam sair da cidades, para encontrar mais opções, já conseguem satisfazer suas necessidades no próprio município.
No que se refere ao setor urbano, a cidade possui 292 estabelecimentos de ensino básico e médio, com índices de alfabetização superiores a 95% para população em idade ativa, e maiores que 97% para a faixa entre 12 e 30 anos. O percentual de profissionais de nível superior por habitante é um dos mais elevados do país, atingindo 224 para cada grupo populacional de dez mil pessoas.
Cerca de 93% da população urbana têm redes coletoras de esgoto e 95% têm água tratada. No Brasil estes índices são de 34% e 64% respectivamente. Em relação à energia elétrica, 99% dos domicílios são atendidos e, na área de saúde existe um leito hospitalar para cada 120 habitantes.

Bibliografia:
NEVES,M. e ARBEX, D. Rua Halfeld, Suplemento Comemorativo do 148º aniversário de Juiz de Fora. Minas Gerais: Tribuna de Minas , 1988.
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Tribuna de Minas. Minas Gerais: 2000/Especial, relatório 2000.
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AGUIAR,V. T. B. de. Atlas Geográfico de Juiz de Fora. Minas Gerais: UFJF, 2000.
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PASSAGLIA, L. A. P., Preservação do Patrimônio Histórico de Juiz de Fora. Prefeitura de Juiz de Fora-Minas Gerais.