TROPAS E TROPEIROS

 

JOÃO DORNAS FILHO

 

Transcrição de partes do trabalho do mesmo título
publicado pela Universidade Federal de Minas
Gerais de conferências pronunciadas no Primeiro
Seminário de Estudos Mineiros, realizado de 3 a
12 de abril de 1956

"... a hipertrofia do latifúndio, pois, criando gânglios de povoamento disseminados por solidões imensas, (Paracatu pertencia à comarca de Sabará...) rendeu-se ao único meio de transportes que as condições locais permitiam - a tropa de muares. Os trilhos do bugre, lançados ao capricho das migrações de granjeio e de caça, numa topografia eriçada e hostil, não permitiam estradas que comportassem o uso das carretas, como nos pampas de Castela. Impunha-se aqui a solução que o Inca encontrara para vencer com o lhama os socavões da Cordilheira.

Por todos os quadrantes, seguindo os rastros das bandeiras, as tropas de muares entraram a sulcar o território já rasgado pelo aluvião, de onde sangravam arrobas e arrobas de ouro mais fino.

A função das tropas era drenar essa riqueza para o litoral e refluir conduzindo o sal, o ferro e os mantimentos para as Minas, onde se desdenhava da agricultura pela fome incontestável do metal.

Em 1779 o marquês de Montalvão, já sentia a irracionalidade de se morrer de fome com os bolsos atulhados de ouro, e lançava as suas vistas para as riquezas mais sólidas da agricultura e da indústria.

Eram famosas as crises de mantimento que periodicamente assolavam as Minas. Bastava o ano ser mais chuvoso, para que as tropas e os carros de bois não pudessem cumprir a missão de alimentar os mineiros e a escravaria.

Uma ligeira inspeção ao volume de impostos e taxas cobrados nos postos fiscais do Paraibuna, nos mostram a importância do comércio de tropas do litoral com as Minas, pois mais de 90% do consumo de necessidades dos mineiros a Capitania opulenta não produzia. Não achavam razoável deslocar um escravo para a agricultura, quando esse mesmo escravo, empunhando a bateia, dava lucro cem vezes maior ao seu senhor. Dai a importância das tropas na movimentação da produção desde os primeiros dias da conquista.

Depois do declínio da mineração do ouro, cuja extração e transporte exigiam um número considerável de muares, a cultura extensiva de café iria aumentar mais ainda a procura desses animais, quando se ampliou o campo de ação das tropas no sul do Brasil.

O homem de hoje talvez não tenha idéia real do que seja uma "tropas", no sentido econômico assumido no Brasil. Grandes lotes de muares, esfalfando-se por centenas de léguas, estirando-se por todos os quadrantes para conduzir drogas do litoral e refluir à orla marítima com os produtos da terra - tal era a "tropa", o primeiro meio de transportes e comércio que o Brasil possuiu, e o seu maior elemento econômico e social de colonização e fixação do homem. Ao tempo do Descobrimento e das primeiras povoações, o índio de carga" era o único meio que dispunha o colonizador.

Fenômeno tipicamente americano, é natural que o verbete "tropa, com a significação de que aqui tratamos, só nos seja oferecido pelo velho e brasileiríssimo Morais, que consigna no seu dicionário: "Termo do Brasil. Bestas de carga que fazem o transporte de mercadorias onde não há vias férreas ou fluviais, e seguem com os seus condutores como que em caravanas". E quanto ao tropeiro: "Condutor de tropa; homem que viaja com cavalgaduras de carga, em cáfila, onde não há vias férreas e fluviais".

Havia tropeiros que possuíam ate dez lotes de burros, sendo que no oeste mineiro, um lote era constituído de sete animais. Daí se calcula, o volume de interesses econômicos e sociais que empunhava um simples tropeiro naqueles tempos. E os mais inteligentes e operosos adotavam roteiros magníficos, com o fim de melhor aproveitar o esforço da romagem. Um, para exemplo - Joaquim Gonçalves de Freitas, de Santana do São João Acima, hoje Itaúna - obedecia, no tempo da seca, o alucinantes itinerário que se segue: partia de Santana com a tropa carregada de gêneros e tecidos de algodão da incipiente indústria local com destino ao porto de Estrela, no fundo da baía de Guanabara. É claro que havia fretes para as localidades do percurso, mas o destino era o velho porto fluvial, onde recebia cargas para o norte da Mata do Rio e sul do Espírito Santo, procurando Grão-Mogol, que ele chamava de Grã-Magu; ali recebia carregamento de algodão e couros para retornar ao porto da Estrela, onde finalmente se provia de cargas com destino à Santana e praças de permeio. Gastava nesse giro os seis meses da seca.

Roteiros dessa envergadura levaram por todos os cantos da Colônia a vida nascente do comércio, e são inúmeras as cidades hoje florescentes que nasceram em torno dos ranchos de tropas, ao calor da trempe dos tropeiros.

A cidade do Rio de Janeiro deve à sua opulência e grandeza ao fenômeno das tropas. Descobertas as minas de ouro e aberto o Caminho Novo de Garcia Paes, foram as tropas conduzindo o ouro para o litoral e retornando carregadas de utilidades, que deram ao Rio tal preponderância que, em pouco, era transferida da Bahia para as margens da Guanabara a sede do governo colonial.

Das tropas falou Caio Prado Júnior que "Sem elas o Brasil teria andado mais devagar que andou". E Henderson arregalou os olhos diante da variedade e complexidade do arreiamento de uma tropa que ele vira no Rio de Janeiro, em que se misturavam os cabrestos, buçais, cangalhas com retrancas e peitorais, seligotes, bastos, socadinhos, catuchas, lombilhos, pelegos, caronas, albardas, mantas e baixeiros sobrecilhas, sobrecargas, badanas, arrochos, topes de baeta vermelha ou de panos de cores vivas nos fardos, cabeçadas, couros crus dobrados ao meio e com o pêlo para dentro a cobrirem as cargas e defendê-las do mau tempo, "formando um conjunto bizarro para quem estava habituado às magníficas estradas européias - lisas, polidas, ensombradas, percorridas por luzentes parelhas e, hoje, cortadas pelas rodas fofas dos ofegantes Rolls-Royces"...

A lucidez do governo imperial reconhecia a importância da tropa e do tropeiro, quando isentava este do recrutamento militar, como determinava o aviso do Ministério da Guerra, datado de 14 de outubro de 1822.

Sorocaba constituiu em fins do século XVIII e durante quase toda a centúria o maior centro de comércio de asininos trazidos dos pampas. Era lá que os tropeiros de Minas, Mato Grosso e Goiás iam renovar as suas tropas. Chegou a impressionar ao excelente observador Saint -Hilaire o movimento comercial da sua feira de animais. Milhares de cabeças de burro eram negociadas ali, anualmente, e o desgarre dos muladeiros (assim se chamavam os compradores de muares) ficou sempre lembrado pela sua generosidade e dissipação.

Os animais vendidos em Sorocaba eram geralmente chucros, ou não domados ainda, e quem os comprava para revender os amansava e acertava" para carga ou sela, triplicando o seu valor comercial.

A importância que o muladeiro e o tropeiro assumiram na história econômica do país, mormente depois da intensificação da cultura cafeeira, é das mais significativas e não foi ainda julgada com a atenção que merece. Numa época em que o correio não passava de uma instituição quase inexistente, o tropeiro era o único agente de comunicações, conduzindo as cartas, notícias, encomendas e recados de toda a espécie.

O príncipe Maximiliano, que percorreu as Províncias do Rio de Janeiro, Espírito Santo e parte das de Minas e Bahia em meados do século XIX, falou longamente do fenômeno das tropas e confessa a sua admiração pelo que observou: "É espetáculo interessante o de uma dessas tropas, aliás características dos campos gerais. Sete burros formam um lote, conduzido e atrelado por um homem que dele cuida. O primeiro animal da tropa tem uns arreios pintados e guarnecidos de numerosos guisos. O chefe da tropa vai a cavalo, na frente, com alguns de seus associados ou ajudantes; todos vão armados de cumpridas espadas e vestem botas de couro castanho, que sobem até muito em cima. Cobre-lhes a cabeça um chapéu de feltro cinzento claro. Essas tropas quebram, às vezes, a triste uniformidade dos campos".

Para arreiar-se o burro, põe-se-lhe primeiro, ao lombo, uma albarda, "que é de madeira e tem uma forte saliência vertical nas suas extremidades da parte superior; suspendem-se nelas, de cada lado, as caixas ou sacos a se transportarem. A fim de diminuir a pressão dessa cangalha, forram-se internamente com capim seco, de longas folhas estreitas e que é estendido bem por igual; põe-se por cima desse colchão de capim um coxim feito de esteiras e cobre-se este com um pano de algodão. A albarda assim acolchoada é, ainda, guarnecida de um couro recortado; a parte externa deste tem dois orifícios para deixar passar as pontas da cangalha, em se suspendem as cargas. Amarra-se, na frente dessa cangalha, uma correia larga e, atrás, uma outra comprida: estas duas correias são indispensáveis quando se sobe ou desce uma montanha. Uma tira de couro cru fortemente amarrada e presa a um nó, dá a volta da cangalha e fixa-a solidamente.

O animal, na cabeça, só leva um cabresto de couro cru, ou de crina de cavalo trançada, que passa por trás das orelhas e deixa a boca do animal livre para pastar e beber. A rédea, que se prende ao cabresto e com a qual se amarra o burro, quando este esta arreiado, é presa à cangalha; uma vez tudo isto pronto, deixam-se os animais marchar livremente uns atrás dos outros. No fim de cada dia de viagem dá-se a cada burro, depois de aliviá-los da carga, uma ração de milho: esta é posta, como para os cavalos de guerra, num pequeno saco (bornal) suspenso ao pescoço do animal, ou então espalhada sobre pedaços de couro. É quando o arrieiro raspa os animais com um instrumento próprio chamado "raspadeira", e os solta no pasto, geralmente próximo ao rancho".

O barão de Pati do Alferes, grande fazendeiro de café na Província do Rio de Janeiro, escrevia em 1848, acentuando a importância das tropas: Ainda em nossa Província se fazem todos os transportes às costas de bestas, e nelas se conduzem milhões de arrobas de café, açúcar, aguardente, toda a casta de legumes que vão ao nosso mercado, galinha, os toucinhos, carne de porco, os belos queijos que nos vêm das Províncias do interior, os seus algodões em tecidos e em rama, o chá que nos propicia a ver como um gigantesco ensaio, tudo, em uma palavra, vem carregando às costas destes animais, que nos trazem também o ouro de suas minas, os seus diamantes e pedras preciosas. Esta, pois, demonstrado, que sem tropa não se pode ser fazendeiro de serra-acima; custa ela tão pouco a ser montada, e importa em uns poucos contos de réis. Seu custeio traz a despesa diária de meia quarta de milho por besta, de imensa forragem, couros, sola e outros misteres. Cada lote consta de sete bestas, que conduzem regularmente 56 arrobas de peso, e que demanda um tocador, além do arreiador e seu ajudante, que superintendem todos os serviços".

"A disciplina de uma tropa é rigorosa, observa Afonso Arinos; para dirigi-la é necessária uma soma de previsão, de cuidados, uma prática e uma energia de que só podem fazer idéia justa os capitães das expedições. Não só as dificuldades próprias dos caminhos, o mau tempo, as passagens dos rios, as travessias custosas, os atoleiros, os "roladores" das serras, - mais ainda o tratamento diários dos animais, as aguadas, os pastos, os transvios, as ervas venenosas, as moléstias comuns dos cargueiros, os meios de evitá-las ou curá-las - tudo isso constitui preocupação e ocupação constante do tropeiro. E, além de tudo isto, o zelo pela carga, que é um depósito sagrado e não pode sofrer detrimento algum".

Os tropeiros de Minas que iam ao Rio preferiam entregar e receber suas cargas no porto de Estrela, à margem do rio Inhomerim, a tocar diretamente na Capital. Ainda hoje o local onde se desembarcava na Corte, vindo do porto de Estrela, se chama "Cais dos Mineiros", que foi depois o porto de Mauá.

Luccok, viajante inglês, que o visitara por duas vezes, escreve em 1816 entusiásticas palavras sobre o porto Estrela: "Embora não possua muitas casas, algumas delas são insolitamente boas. A igreja fica sobre uma colina escarpada e redonda, a cerca de duzentos pés acima do nível da água, tendo pela situação vantagem que lhe falece no tamanho, dominando extensos panoramas de ricas plantações para o sul e para leste, e de montanhas cobertas de matas para o norte. O que mais importa é que ali existem dois cais com armazéns apropriados, donde se embarcam para a Capital muitos dos produtos do interior. De vez que as estradas principais do país começam ou terminam nesta localidade, ali também se desembarcam e carregam em lombo de burro todas as mercadorias que se destinam à região norte da Capitania do Rio de Janeiro, à Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, lugares estes dos, quais alguns se encontram de mil e quinhentas a duas mil milhas de distância. Por esse motivo, a vila vive cheia ainda de burros, tropeiros e gente arrebanhada de quase todos os pontos das Províncias centrais; às margens do rio apinham-se os saveiros; novas terras se demarcam e cultivam, sociedades novas se constituem, e o povo progride em instrução e civilização. Na manhã de domingo, dia seguinte àquele em que chegamos ao porto da Estrela, saiu o povo muito cedo para a missa, dali seguindo, como de costume, para a sua lida. A cena era de grande azáfama, pois que na venda (rancho) em que me instalara, além da comum tarefa de acondicionamento do sal, que se coloca em pequenos sacos de couro cru (bruacas), havia no mínimo quinhentas mulas a serem carregadas e suas carga a serem arrumadas e ajustadas".

Em torno dessa indústria primitiva nasceram e viveram com largueza várias profissões e indústrias organizadas, como a de "rancheiro", proprietários de "rancho" ou alojamento em que pousavam as tropas. Geralmente não era retribuída a hospedagem, cobrando o seu proprietário apenas o milho e o pasto consumidos pelos animais, porque as tropas conduziam cozinhas próprias. A profissão de ferrador também foi criada pelas necessidades desse fenômeno econômico-social, consistindo ela em pregar as ferraduras nos animais das tropas e acumulando geralmente a profissão de aveitar ou veterinário. A incumbência de domar os animais ainda chucros era também uma decorrência do regime de transportes e chamavam-se "paulistas", porque conduziam ao destino os animais adquiridos em Sorocaba.

No norte de Minas "paulista", "peão" e amontador" eram sinônimos, mas tinham significação específica. Assim é que "paulista" era o indivíduo que amansava as bestas à maneira dos peões de São Paulo. Peão era todo amansador de eqüinos e muares à moda do sertão, e amontador era apenas o que montava animais bravios para efeito de quebrar-lhes o ardor. Depois é que vinha o "acertador", homem hábil e paciente, que ensinava as andaduras ao animal e educava-lhe a boca ao contato do freio. É a mais nobre de todas.

O primeiro era profissional convencido da sua arte, usando freios vistosos, com laço traçado enrolado à garupa e trazendo aos pés as esporas de rosetas enormes, chamadas "chilenas". Montava quase sempre asininos, com predileção pelos animais grandes e fogosos, "burro de São Paulo". O segundo era o amansador genuíno do sertão. Montava com destreza e destemor, preferindo os eqüinos, e nesta classe entra a maioria dos vaqueiros. O terceiro montava indistintamente asininos e eqüinos, já mediante salário, já por simples exibição. Eram os noviços da profissão, que geralmente acompanhavam os veteranos nas viagens à Sorocaba.

O "adomador" é o mais forte e rude dos peões, que monta pela primeira vez os grandes animais chucros, "igualados", "pagões". O "acertador" é o airoso mestre de equitação, que mete passo ao animal redomão ou ensina os sendeiros a marchar, pondo-os certos de rédea. É o picador.

Outra profissão possibilitada pela difusão dos muares é a de "barganhista", que exigia qualidades especiais de dissimulação e argúcia. Barganhista era o homem que vivia de permutar animais de sela ou de transporte, e só aceitava dinheiro nas suas transações na importância restrita das necessidades da sua manutenção pessoal.

A escassez do meio circulante é que teria indicado esta forma primária de comércio, primeiro aos ciganos, que negociavam também em escravos, comprados ou permutados no Valongo e trocados no interior do país por tudo que representasse valor.

A operação se baseava sempre na importância da "volta", parcela em dinheiro que arredondava o preço do objeto a ser permutado. Um burro bom, novo, de boa figura, era trocado, por exemplo, por uma égua parida, uma espingarda, um tacho de cobre e cinco cruzeiros em dinheiro. Era profissão olhada com certo desprezo, considerada como meio de vida pouco honesto. A velhacaria e a argúcia eram as suas qualidades principais, e no oeste de Minas o barganhista era desdenhosamente chamado de "cigano".

Burton, estudando a evolução dos "pousos de viajantes", em meiados do século passado, observou que foram eles os germens de aldeia e vilas populosas, hoje tornadas cidades importantes. Considera o naturalista inglês que a fase seguinte do "pouso" é o "rancho". Consiste essencialmente num longo telheiro coberto, tendo à frente, às vezes, uma varanda de postes de madeira ou pilastras de tijolos; outras vezes tem as paredes exteriores e ainda compartimentos interiores de adobes ou taipa. Aqui, os tropeiros descarregavam; os animais vagueiam livremente pelo pasto, enquanto os patrões fazem uma fogueira, penduram a chaleira ao modo dos ciganos em um tripé de madeira e estendem no chão, como camas, o couro que protege as cargas, improvisam um dormitório, com divisões paralelas, feitas com cestos bem tecidos (jacás) e albardas. O poeta brasileiro assim descreve o rancho:

E por grupos apinhoados

em cestos estão arreios,

sacos, couros e bruacas...

A terceira fase da evolução do rancho, Burton considera a "venda", progresso decidido, mas não integralmente respeitável. É a pulperia das colônias espano-americanas, o empório da aldeia inglesa combinado com a mercearia e a hospedaria. Nela tudo se vende - desde cabeças de alho a livros de missa e cachaça. A hospedagem é gratuita, cobrando-se apenas o milho para a tropa e outras necessidades.

A estalagem ou hospedaria é a quarta e última face da evolução do rancho, não se falando no hotel, que naquele tempo não se diferençava muito da hospedaria. Dava cama e comida para o hóspede e "camaradas"(empregados dos viajantes) e pasto para os animais.

"A probidade do tropeiro era um dos traços característicos da profissão e rarissimamente a mercadoria ou dinheiro, entregues aos seus cuidados, deixavam de chegar ao seu destino. Eram homens reforçados e corajosos, prontos a debelar todos os acidentes da viagem, como práticos e honrados nos negócios", na apreciação de Antônio de Paula Freitas, no seu livro "A engenharia nos tempos coloniais".