A família Moura

e

seus

colaterais

 

Antonio de Paiva Moura

 

Belo Horizonte

1999


Sumário

        1 – Prefácio .........................................................pag..

         2 – Introdução ...................................................... “

         3 – Toponímia do Paraopeba ...............................  “

         4 – Histórico ........................................................   “

         5 – Índice Onomástico .........................................   “

         6 – Catálogo genealógico ....................................    “

        

                                Ficha catalográfica

                ___________________________________

                Moura, Antonio de Paiva. (1939)

                A família Moura e seus colaterais.

                Belo Horizonte:_________________, 1999.

1.        Moura. 2. Brasil. 3. Minas Gerais.

Genealogia.

Título.   

                        CDD-929.1

                _____________________________________


Introdução

A história deste trabalho genealógico vem de 30 anos de incubação, ou seja, da década de 60. Havia no meio social em que militava uma preocupação com o suceder histórico e com tudo que representasse um fenômeno social ou cultural singular, digno de investigação científica. Ainda como acadêmico eu achava que tudo que caísse na rede era peixe. Daí passar a ver a família Moura e seus colaterais, como portadora de tradições, valores e traços culturais significativos para trabalhos analíticos na área de ciências sociais. Em face dos ônus da pesquisa e da publicação. Cheguei a desistir, mas os familiares continuaram o incentivo. Em 1999, Gilberto de Moura, Paulo de Moura e João Evangelista de Moura propuseram a formação de um consórcio para cooperar na realização da pesquisa. A partir daí, o primeiro passo foi a eleição de uma lista de colaboradores na pesquisa genealógica, como segue:

Ana Celestina Lodi Bechelany

Nascida e radicada em Belo Horizonte. Dados da descendência de José Gomes de Moura e Maria Carolina Oliveira Quites, código “F”.

Bertiê Simão de Moura

               Residente em Moeda.   Dados da descendência de Joaquim de Moura Lima e Ambrozina Rodrigues Braga, código “E”, além de uma pesquisa etnográfica no âmbito do Município de Moeda que merece ser publicada, não só pela extensão mas também pela qualidade. 

Celso Ricardo de Moura

            Residente em Belo Horizonte – Dados sobre a família Cláudia de Moura e Ricardo Aleixo Quites (código BC).

Edson  Rodrigues de Carvalho

            Belo Horizonte. Dados sobre a descendência de Josina de Moura Pedrosa e Augusto Renovato Pedrosa, código “EE”. Publicado o livro I encontro da família Pedrosa. Belo Horizonte: 1998.

Eunice Braga Moura

            Residente em Belo Horizonte. Dados sobre a descendência de Francisco Antonio de Moura e Adalgisa Braga Castro Moura, código “DH”.

Geraldo de Moura

            Radicado em Belo Horizonte. Dados sobre os descendentes de José Roxo de Moura ae Luiza Salles Moura, código “DJ”.

José Gomes de Moura

            Residente em Belo Horizonte. Atualização dos dados dos descendentes de Antonio Gomes de Moura e Ana Filomena de Moura, código “DC”.

José Teodoro de Moura

            Reside em Belo Horizonte. Responsável pelos dados sobre a descendência de Olga Fernandes de Moura e Manoel Teodoro,  código “DF”.

Luiza Moura Ramos

Residente em Belo Horizonte. Pesquisa de dados sobre os descendentes de Joana Fernandes de Moura e Joaquim Alves de Brito, código “DB”.

            Maria das Graças Cunha

Nascida e radicada em Belo Horizonte. Responsável pelos dados dos descendentes de Ana Fernandes de Moura e Antonio de Paiva Campos, código “DD”.

           

Maria de Moura Lima (Lia)

Informações complementares sobre a descendência de Francisco Gomes de Moura e Ana Fernandes de Araujo, código “B”.

            Marisa Moura Duarte Andrade

                        Nascida e radicada em Belo Horizonte. Forneceu informações sobre a

descedência de Ana de Moura e _______________________, código “BI”

            Marlene de Moura Teixeira

Residente em Belo Horizonte. Dados sobre os descendentes de João Vicente de Moura e Luzia Conceição de Moura, código “DG”.

            Tânia Vieira de Moura Braga

Gonçalo de Moura e Leonor  de Oliveira Moura, código “BA”

Terezinha Teodoro da Rocha Salles

Residente em Vargem Alegre. Pesquisa e informações biográficas sobre os  descendentes de Maria Fernandes de Moura e Joaquim Rocha, código “DA”.

            Vicente Gonzaga de Moura

                        Nascido em Vargem Alegre e radicado em Belo Horizonte.  Colaborador  na

pesquisa de dados sobre os descendentes de Alice Fernandes de Moura e Luiz     Gonzaga, código “DI”.

A simbologia da árvore que representa iconograficamente este trabalho genealógico tem o seguinte esquema: as raízes são as partes encobertas, nossos antepassados desconhecidos, os pais de Francisco Gomes de Moura e de Anna Jesuina de Oliveira Lima,  os avós de Francisca Fernandes de Moura; os avós de Ambrozina Rodrigues Braga.

O tronco é o casal Francisco Gomes de Moura e Anna Jesuina de Oliveira Lima,

Os galhos são os elementos  da primeira geração biografados com uma só letra, cujos nascimentos ocorreram de 1855 a 1875, como segue:

A – Francisca de Moura Lima

B – Francisco Gomes de Moura

C – Joana de Moura Lima

D – João Gomes de Moura

E – Joaquim de Moura Lima

F – José Gomes de Moura Lima

G – Josina Domingas de Moura Lima.

H – Leopoldina de Moura Lima

Os ramos da árvore sãos os elementos da segunda geração, biografados com duas letras. Exemplo: Joana Fernandes de Moura é a segunda filha de João Gomes de Moura. Seu código será, então, DB. A segunda geração é constituída pelos elementos nascidos na faixa de 1875 a 1910. Nesta data são raros os viventes, encontrando-se com mais de 90 anos, a exemplo de Alice Fernandes de Moura e  Josefina de Moura Lima, sendo irmãos os pais e as mães de ambas. As folhas da árvore representam os elementos da terceira geração, biografados com três letras. Exemplo: José Alves de Moura é o terceiro filho de Joana Fernandes de Moura. Logo seu código será DBC. A terceira geração é  constituída pelos elementos nascidos no período de 1910 a 1950, cuja faixa etária varia de oitenta a cinqüenta anos.

As flores da árvore representam os elementos da quarta geração, biografados com quatro letras, a exemplo de: Joaquim que é o primeiro filho de José Alves de Moura, então seu código será DBCA. A faixa de período de nascimento dessa geração é muito ampla, podendo não mais ocorrer a partir do ano 2040.

Os frutos da árvore representam os elementos da quinta geração, biografados com cinco letras, como no exemplo: O primeiro filho de Joaquim do José Alves é José Edmar, portanto seu código será DBCAA.

As sementes produzidas pela árvore são lançadas novamente no solo, representando a sexta geração cujo código é de seis letras. A maioria desses familiares já não traz mais os sobrenomes dos velhos troncos, mas nem por isso perde o caráter genealógico.


Prefácio

Após três décadas de incentivo da parentela, o Professor de História – Antonio de Paiva Moura – decidiu empreender a grandiosa tarefa de registrar, analisar e sintetizar a saga de sua família, das origens portuguesas à atualidade.

A  solicitação insistente da linhagem começou no momento em que Antonio se graduou em História, na década de sessenta. Mereceu primeiramente um longo período de elaboração isolada da idéia, pelo historiador, e, em um segundo momento, a formação de um núcleo de planejamento para efetivar o plano. A partir desse, Antonio, juntamente com Gilberto de Moura, Paulo de Moura e João Evangelista de Moura criaram um consórcio de colaboradores, formado por quatorze familiares, para a pesquisa genealógica. O longo roteiro estabelecido incitou o Professor Antonio a desenvolver uma metodologia de arrolamento de dados peculiar, adequada à sistematização das histórias de vida, inseridas nos respectivos contextos históricos, e, posteriormente, à redação deste livro, objetivo final do meticuloso trabalho.

O Professor Antonio criou um modelo de registro para a pesquisa muito atualizado ao buscar as facilidades do computador para armazenar e para manipular a grande massa de informações  - numéricas ou textuais – arroladas pelo “consórcio de parentes”. Ele foi persistente na difícil tarefa de aliar a criação histórica com a informática. Esse feito, considerado como impossível por alguns historiadores, foi um dos desafios vencidos por Antonio Moura. Ele demonstrou que essa união, tal como a que conservou coesa a família Moura, ao longo dos séculos, pode ser feita e fortalecida por um trabalho consciencioso e persistente. Antonio Moura demonstrou que é possível desatar os “nós” que provocam incompatibilidades tanto aos relacionamentos de cunho afetivo, no caso a formação e a manutenção da estirpe, como aos técnicos, de registro, de compreensão, de interpretação e de narração da saga familiar.

Através do uso da simpática figura de uma árvore, Antonio teceu de forma metafórica a história familiar, das raízes, onde ele arrola os antepassados desconhecidos;  o tronco, onde ele identifica os casais fundadores;  os galhos, que são os elementos da primeira geração; Os ramos, que se referem à segunda; as folhas, à terceira; as flores, à quarta; os frutos, à Quinta até a Sexta geração, as sementes, que segundo ele, são lançadas no chão, simbolizando a eterna perpetuação do grupo pelos descendentes jovens.

A família Moura, juntamente com o professor Antonio, pode respirar tranqüila: a sua história está registrada. Ao folhear estas páginas, a parentela vai encontrar os nomes de seus antepassados remotos, os mais próximos e os seus próprios. Isso certamente lhe trará um sentimento de conforto e de tranqüilidade. De um lado, pela constatação da proximidade entre os que aqui estão e aqueles que já morreram, pela percepção visual possibilitada pelos nomes escritos, em cronologia, no espaço de um livro. De outro, pela sensação de pertencentes ainda ao grande grupo familiar, pelos laços de sangue, os quais ligam a linhagem autal dos Moura aos tempos passados, rumo ao futuro. Afinal , como afirma Agnes Heller: “Naquele tempo havia um homem lá. Ele existiu, já não existe. Existiu, logo existe, porque sabemos que naquele tempo havia um homem e existirá, enquanto alguém contar a sua história”.

O livro “A família Moura e seus colaterais” é indubitavelmente muito significativo para os seus membros, mas também para a História Brasileira, uma vez que, ao trilhar o caminho dessas pessoas, o Professor Antonio apresenta fatos históricos regionais pouco conhecidos, quando entrelaça as sagas individuais de sua parentala com conjunturas específicas da História de Minas Gerais.

Dra. Margaret Marchiori Bakos

Professora Adjunta da Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul.


Toponímia do Paraopeba

                       

Bação

Conforme José Bastos o nome de Bação vem da corruptela de Vaçon. O português de origem francesa, de nome Antonio Alves Vaçon, vindo da cidade de Amarante, em 1740. Com o tempo, passou a ser chamado de Baçon e mais tarde, Bação. Acometido por uma doença, presumidamente incurável, fez promessa ao Santo de sua terra natal: ir a Portugal e trazer uma imagem de São Gonçalo. Como obteve a graça, cumpriu a promessa. A partir de então o local tomou o nome do Santo e do proprietário das minas de ouro do local. BASTOS, J. 1992)

Pertence ao município de Itabirito desde 1923, foi elevado a distrito antes que Itabirito, extinto  por Lei régia nº 198, de 1841. Restituído pela Lei Régia de 1844. Elevado a paróquia por lei de 1882. O viajante inglês Richard Burton, indo de Congonhas para Itabira do Campo, em 1867,  passando por Bação observou que o ouro de aluvião exauriu muito cedo ali e logo os seus habitantes migraram-se para as regiões agrícolas. (SILVA,   O. A .1996)

Belo Vale

            Os primeiros a se estabelecerem na região compreendida pelo município de Belo Vale foram os bandeirantes Paiva Lopes e Gonçalo Álvares, da expedição de Fernão Dias Paes Leme, no local denominado Morro de Santana, onde foram sepultados. Os agricultores dos primórdios da colonização procuraram os lugares melhores para a prática da agricultura como a Vargem de Santana e São Gonçalo da Ponte. Em São Gonçalo estabeleceram-se Manoel Sobreira e José de Paula Peixoto, notáveis pelas fortunas que acumularam. O último era apelidado de “Milhão e Meio”, em razão de sua riqueza. Tais tesouros eram explicadas em face do alto valor dos bens alimentares colocados no mercado de Ouro Preto.

 Depois da Independência do Brasil outros homens afortunados continuaram fixando residência na localidade, a exemplo da família Monteiro de Barros. Romualdo Monteiro de Barros, o Barão do Paraopeba. Em 1824 inaugurou a sede da Fazenda Boa Esperança, com presença do presidente da Província de São Paulo, o seu irmão, Lucas Monteiro de Barros, o Barão de Congonhas.  Estava presente também o escritor padre Silvério, conhecido como “O Vigário do Paraopeba”.(1) irmão do Barão do Paraopeba era o coronel Ronaldo Monteiro de Barros, que atuou com Caxias na Revolução Liberal de 1842. A Fazenda Boa Esperança abrigou ainda, o célebre cientista alemão, Barão de Eshiweg. Vale notar também as memórias do professor Antonio de Lara Resende que narra com seriedade e sentimento de saudade os momentos vividos no Alto Paraopeba, desde a infância até a juventude. São Gonçalo da Ponte (Belo Vale), Bonfim, Boa Morte (Moeda), Congonhas e Lages são cenários de acontecimentos familiares e rotineiros de enorme significado sócio-histórico, como diz o próprio escritor:

“Hoje percebo e sinto ao vivo que ali nada mais faziam os meus pais sofredores, do que se reverem, amarem-se entre carinhos, devaneios e poesia de tempos idos. Aqueles que ali empunhavam, à janela, o óculo de alcance e, à noite, entre filhos, tiravam das cordas plangentes a expressão dos seus sentimentos, conseguiam rever-se ao longe, lá nas cercanias do arraialzinho de Nossa Senhora da Boa Morte (Moeda), bem dentro dos vastos domínios da Fazenda Boa Esperança”. (RESENDE, A.L, 1970)

O distrito de São Gonçalo da Ponte foi suprimido e restaurado pela Lei 472, de 31 de maio de 1857. Foi elevado a freguesia e transferiu-se para Santana, voltando a São Gonçalo em 1870. Em 1880 a matriz da paróquia volta para Santana. Em 1914 mudou a denominação do distrito para Belo Vale. Com a passagem da estrada de ferro na sede do distrito, houve uma melhora, o que contribuiu para a sua elevação à condição de município e cidade em 1938. Além do distrito da sede Belo Vale conta com o distrito de Santana. (BARBOSA, W. 1971)

O município continua ainda com atividade agrícola e pastoril. Divididos e subdivididos por heranças, os latifúndios se dissolveram dando lugar a uma estrutura minifundiária e da mesma forma os outros municípios da região. O recenseamento geral de 1950 registrava no município de Belo Vale 12.442 habitantes, sendo na zona urbana apenas 2.651, correspondendo a apenas 21 %  da população. (FERREIRA, J.P. 1958)

Bonfim                          

                  Segundo Cunha Matos, no começo do século XIX, (1837) a região do Alto Paraopeba que se constituirá na abrangência do futuro município de Bonfim, contava com poucos arraiais e vilas. Descreve minuciosamente os afluentes do Paraopeba porém omite o Rio Macaúbas, na época habitado mas coberto  por uma densa floresta virgem em toda  a sua extensão. O  Rio Paraopeba tem sua origem na Serra da Noruega, contígua ao arraial de Catas Altas da Noruega. Corre por espaço de 60 léguas aos rumos SE-NO, com uma navegação para canoas por espaço de muitas léguas. Recolhe o Rio das Congonhas do Campo, pouco considerável, o qual banha o arraial do mesmo nome e entra no Paraopeba pela margem direita. O rio Manso vem do NO corre depois de longo espaço SN e banha o arraial de Bonfim ; entrando no Paraopeba pela margem esquerda, numa extensão aproximada de 20 léguas. Os ribeirões da Areia (Santa Quitéria), São João (Itaúna), Águas Claras e Brumado, com 12 léguas, não são navegáveis e entram na margem esquerda do Paraopeba. (MATOS, R.J.C, 1979)

            Após a Inconfidência Mineira a situação social de Minas sofre uma substancial alteração. O quadro urbano antes sustentado pela administração pública e por alto poder aquisitivo, era muito carente  de produtos artesanais, industriais e agropecuários. A vida nas cidades tornou-se insustentável em face das perseguições políticas e da carestia. Mineradores, artífices, artesãos e comerciantes espalharam-se por todas as partes do país e para os distantes lugares da província de Minas. A agricultura, a pecuária, o artesanato rural e a agroindústria substituíam os produtos importados da época áurea. As terras que circundavam as cidades auríferas foram  as primeiras a serem  ocupadas pelos novos fazendeiros e pelos desafortunados do ouro. A região do Alto Paraopeba, por sua localização no centro mais populoso da província; pelo clima temperado e agradável de suas montanhas; pelas inúmeras nascentes d’água; pelas boas pastagens e fertilidade do solo constituiu-se numa forte atração a pequenos agricultores.

            De l7l8 a l790, isto é, durante 72 anos do século XVIII o município de São José Del Rei, atual Tiradentes, abrangia toda a margem esquerda do Alto Paraopeba até Mateus Leme. Somente em 19/ll/l890 é que aquele imenso território foi desmembrado com a criação do município de Queluz, atual Conselheiro Lafaiete. Na época colonial, século XVIII, não há quase referência sobre o arraial de Bonfim, estrangulado pelas imensas propriedades de Manoel Teixeira Sobreira, Luiz Machado Borges, Manoel Carvalho de Matos, Manoel Fernandes Borges e Manoel Machado, que não permitiam as divisões de seus latifúndios. Mas a partir da época monárquica, século XIX, o arraial se organiza, toma forma de vila e transforma-se em cidade. É passagem para o Sul de Minas e para São Paulo.

            O lado paraopebano do município de Ouro Preto era constituído dos distritos de Ouro Branco, Itabira do Campo (Itabirito) e Congonhas. Curiosamente, o território do distrito de Congonhas do   Campo era dividido entre os municípios de Ouro Preto e Queluz (Conselheiro Lafaiete). Segundo Cunha Matos a toponímia e a divisão administrativa do Alto Paraopeba, em l836 apresentava a seguinte configuração:

            Município de Ouro Preto: Distrito de Ouro Branco, com o povoado de Passagem. Distrito de Itabirito com o povoado de São José de Paraopeba.

            Município de Queluz (Conselheiro Lafaiete): Distrito de            Congonhas do Campo, com os seguintes povoados: Suaçui, São Brás do Suaçui- Redondo, atual Alto Maranhão- Camapuã, atual Jeceaba- São Gonçalo da Ponte, Belo Vale- Santa Cruz do Salto- Santana do Paraopeba- Bonfim -  Conceição do Pará- Rio do Peixe- Piedade das Gerais- Dores de Piedade- Brumado- Conceição de Itaguá, atual Bumadinho e Conquista, atual Itaguara . Distrito de Itaverava, com os povoados de Catas Altas da Noruega, São Francisco, São Gonçalo, Lamim.

            Bonfim, em 1836, era o terceiro povoado mais populoso do  distrito de Congonhas do Campo. São Brás do Suaçui, com 1619 e Brumadinho com 1235. Enquanto a sede do Distrito de Congonhas contava com 134 casas e 1112 habitantes, o arraial de Bonfim contava com 158 casas e 1216 habitantes. O município  e a vila de Bonfim foram criados pela Lei Provincial 134, de 16 de março de 1839. A Câmara Municipal só foi instalada em 24/0l/l842, sendo seu primeiro presidente o tenente-coronel José Manoel de Campos. Entre os primeiros vereadores salienta-se a figura do padre João Batista Tristão, que em fins de julho de 1842 foi preso, condenado e anistiado como participante do Movimento Liberal de 1842. Das tradicionais famílias bonfinenses participaram ativamente do referido movimento os políticos Antônio Souza Maciel, Fortunato Nogueira Penido e Francisco de Paula Teixeira.

            Bastante complicada era a situação administrativa conjugada com a eclesiástica. Do ponto de vista eclesiástico, em 1832, Bonfim  já se constituía em uma paróquia do município de Queluz, mas do ângulo administrativo era um povoado do distrito de Congonhas, no mesmo município. Embora sediasse um imenso município desde 1839, a vila de Bonfim só foi elevada à  categoria de cidade em 7/10/1860, pela Lei Provincial  n° 1094.

            No momento da criação, o município de Bonfim compreendia o distrito da sede; Piedade do Paraopeba, incorporado ao município de Nova Lima em 1901 e Mateus Leme. Em 1840 foi criado o distrito de Piedade dos Gerais que se emancipou em 1962. Em 1847 o município adquiriu o distrito de São João Acima, hoje Itaúna, que no ano seguinte, 1848, passou para o município de Pitangui. O distrito de São Gonçalo da Ponte, atual Belo Vale, havia sido criado em 1839, mas não chegou a ser instalado, tendo sido incorporado ao distrito de Santana do Paraopeba. Em 1850 adquiriu o distrito de Capela Nova do Desterro, atual Desterro de Entre Rios, que em 1854 passa a pertencer ao município de São João Del Rei. Criado em 1854 o distrito de São Sebastião do Itatiaiuçu (Itatiaiuçu) incorporado ao município de Itaúna em 1901.

            Em 1855 foi criado o distrito de N.S. Das Necessidades do Rio do Peixe, atual Piracema, que em 1878 foi incorporado ao município de Entre Rios de Minas. Adquire em 1870 o distrito de N.S. Das Dores de Conquista, atual Itaguara, mas logo em 1872 foi incorporado a Itatiaiuçu. Em 1873 adquire o distrito de Boa Morte, atual Moeda, que em 1923 passa a pertencer ao município de Itabirito. Criado o distrito de Santa Luzia do Rio Manso (Rio Manso) em 1880, que se emancipou em 1962. Ainda em  1880 foi criado o distrito de Santa Cruz das Águas Claras, atual Crucilândia, que foi emancipado em 1948.  Por desdobramento do distrito da sede, em 1890, foi criado o distrito de Santo Antônio da Vargem Alegre. Brumadinho era o distrito  de Brumado do Paraopeba, atual Conceição de Itaguá, cuja  sede transferiu-se para a estação ferroviária de Brumadinho, em 1923, tendo se emancipado em 1938.(COSTA, J.R. 1970)

            Atualmente o município de Bonfim conta com os distritos da cidade e de Santo Antônio de Vargem Alegre, com a seguinte estrutura:

                       

            Distrito da cidade de Bonfim: povoados de Aroucas, Caetano José, Campestre, Campinho, Campos Fernandes, Córrego dos Cavalos, Florentina, Guedes, Ramos, Seio de Abraão.

            Distrito de Santo Antônio de Vargem Alegre, com os povoados de Barreiras, Dumbá, Engenho , Fundão, Germano, Grota de Cima, Jordão, Juliões, Macaúbas de Baixo, Matos, Pari, Pires, Ribeiro, Suro e Toné.

Brumadinho

            Até 1923 a sede do distrito era em Conceição de Itaguá, quando foi transferida para Brumadinho, por força da Lei Estadual 843.

Também Brumadinho se originou da atividade agrícola. Somente a passagem da Estrada de Ferro pelo antigo distrito de Brumadinho de Paraopeba, permitiu sua melhora urbana e a emancipação, em 1938, através da Lei Estadual nº 148. Conta com o distrito da sede e o de Conceição de Itaguá, Aranha e São José do Paraopeba. Atualmente constitui-se de um amplo parque industrial da Região Metropolitana de Belo Horizonte.

        Congonhas

                                               

                   Congonhas do Campo, a exemplo de toda a margem esquerda do Rio Paraopeba, começou  a ser povoada como alternativa de produção de alimentos, em face da tremenda fome dos primeiros anos do século XVIII, nas proximidades das jazidas auríferas. Os mineradores famintos instalaram-se na região onde acabaram por encontrar mais ouro. Mas a produção do precioso metal foi efêmera e o arraial permaneceu atrofiado durante toda a primeira metade do século XVIII. Consta que conforme alvará régio de 13 de abril de 1745, foi criada a paróquia, espécie de distrito, sem, contudo, nunca ter sido elevada à categoria de vila.

                        De 1718 a 1790, isto é, durante 72 anos do século XVIII o município de São José del Rei, atual Tiradentes, abrangia toda a margem esquerda do Alto Paraopeba até Mateus Leme. Aí estava localizado o distrito de Congonhas. Somente em 19/11/1890 é que aquele imenso território foi desmembrado com a criação do município de Queluz (atual Conselheiro Lafaiete). Pertenciam ao distrito de Congonhas os seguintes povoados: Suaçuí ( atual São Brás do Suaçuí), Redondo (atual Alto Maranhão), Camapuã ( atual Jeceaba), São Gonçalo da Ponte,(atual Belo Vale), Santa Cruz do Salto, Santana do Paraopeba, Bonfim, Conceição do Pará, Rio do Peixe, Piedade dos Gerais, Dores de Piedade, Brumado (atual Entre Rios de Minas), Conceição de Itaguá (atual Brumadinho) e Conquista (atual Itaguara). Com a emancipação do povoado de Bonfim, em 1839, elevado à categoria de vila e transformado em município, Congonhas perdeu todo o território do seu distrito.

                        Entre os inúmeros imigrantes portugueses destaca-se a figura de Feliciano Mendes, da cidade de Guimarães para tentar a fortuna na mineração. Frustrado em seu intuito e vencido por uma doença, formulou uma promessa ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos com o intuito de recuperar a saúde. Satisfeito o pedido da graça, Feliciano Mendes tomou providências no sentido de cumprir a referida promessa. Fincou no alto do morro do Maranhão uma modesta cruz, ao lado de um singelo oratório de madeira, com a imagem do Senhor Bom Jesus. Tornou-se ermitão e requereu do bispo de Mariana licença para erguer a ermida. Em provisão de 21 de junho de 1757, o bispo Dom Frei Manoel da Cruz concedeu-lhe o favor. Desde o momento em que as obras foram iniciadas os romeiros não paravam de visitar o santuário. A população flutuante do arraial foi sempre maior que a população ativa. Foram os fiéis e devotos os verdadeiros financistas de todo o conjunto de obras.

                        As idéias estereotipadas ou correntes que se tem é que Congonhas ganhou notoriedade a partir da participação de Aleijadinho, Athaíde, Vieira Servas, Nepomuceno e outros artistas, na construção do Santuário do Senhor Bom Jesus do Matosinhos. Então, no período pré-aleijadinho o arraial não existia? Aleijadinho só foi atraído para Congonhas exatamente porque o local era mais que notável. A sociedade mineira formada no interior das concepções barrocas; do poder total do catolicismo; de uma religião exteriorista, voltada para o populismo consagrado, Congonhas era considerada a “Meca” portuguesa plagiada da teocracia oriental. Onde estava o povo carente, dependente e crente, ali estava e está até hoje a majestade triunfante. Desta forma, mesmo antes das edificações hoje consagradas de Congonhas, ali já existiam romarias. É nesse sentido que Tomás Antonio Gonzaga observou em “Cartas Chilenas”, escritas em 1784.

                                                “Distante nove léguas desta terra

                                                Há uma grande ermida que se chama

                                                Senhor de Matosinhos; este templo

                                                Os devoltos fiéis a si convoca                                 

                                                Por sua arquitetura, pelo sítio

                                                em ainda muito mais pelos prodígios

                                                Com que Deus enobrece a santa imagem” (OLIVEIRA, T.J.B, 1972)   

                        Entretanto, Aleijadinho só começa a trabalhar em Congonhas do Campo a partir de 1796, como escultor dos Passos da Paixão, em 66 imagens de madeira. Quatro anos mais tarde, em 1800, começa a trabalhar no adro da Basílica de Bom Jesus esculpindo 12 imagens de tamanho natural em pedra-sabão, terminadas em 1805.

                        Com trabalho de outros artistas notáveis durante as duas primeiras décadas do século XIX, somado ao de Aleijadinho, Congonhas passa a ser um centro de atrações de estudiosos estrangeiros. O primeiro a fazer referência a Aleijadinho em visita a Congonhas foi o alemão W.L. Eschwege, em “Diário de uma viagem a Vila Rica, na capitania de Minas Gerais, no ano de 1811”. Diz que Congonhas ficava a uma légua de Alto Maranhão. “Chega-se primeiro a uma elevação, acima de Congonhas, onde está a igreja de Nossa Senhora de Matosinhos, afamada por toda parte, pela sua milagrosa imagem da virgem”. A referência correta é a Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Continua: “Esta igreja é opulenta pelas muitas doações, presentes e esmolas que para lá correm e, assim, grandes somas se consomem na sua ornamentação.(...) A escada para a entrada principal está profundamente ocupada por estátuas de santos, esculpidas em pedra-sabão natural. (...) Ao lado da igreja existe um longo edifício destinado aos romeiros”.  Naquele momento (1811) Aleijadinho já se encontrava enfermo em Ouro Preto. Pouco se sabia sobre o importante artista. O povo informava e o estudioso anotava. Parece ter nascido aqui a lenda de que Antônio Francisco de Lisboa era um homem aleijado: “o principal escultor, que se salientou, é um homem aleijado, com as mãos paralíticas, ele se faz amarrar o cinzel e executa desta maneira mais artísticos trabalhos. Somente as suas roupagens e figuras são, por vezes, sem gosto e desproporcionados; de resto, não se deve desconhecer os belos dotes do homem, que se tornou artista por si mesmo e que nunca viu nada”(MELLO FRANCO, A. 1939). Curiosamente, o depoimento de Eschwege é o mais antigo e o mais desconhecido de todos os estrangeiros, embora seja o que mais se aproxima do atualizado Germain Bazim, mais de um século depois.

                        O francês Augusto Saint Hilaire chega a Minas quatro anos depois da morte de Aleijadinho. Parece basear-se em Eschwege mas torna-se mais fantasioso e mais minucioso em suas observações.

                        Depois vem John Luccock, por volta de 1818. Começa a tratar Congonhas pelo nome indígena primitivo:  Caacunha, situada sobre as íngremes barrancas do rio, apresenta agradável aspecto, quando contemplada pelo norte. Contém cerca de duzentas casas e algumas igrejas. Uma delas, posto que diminuta em tamanho, rivaliza por seus esplêndidos ornatos com os mais admirados edifícios eclesiásticos do Brasil. Constitui ela o objeto principal da minha visita à localidade. Sob mais de um ponto de vista, merece consideração como a Loretto deste país”. Continua dizendo que a igreja do Senhor Bom Jesus era mais importante no seu interior que na parte externa. Admira a facilidade com que os artistas trabalham as rochas duras e macias com a mesma precisão. Depois de descrever o conjunto escultural dos profetas continua Luccock: “Dizem ser obra de um artista que não tinha mão, sendo o martelo e o cinzel fixados em seus pulsos por um ajudante e dessa maneira executados os mais delicados trabalhos”. Ressalva, contudo, que a pedra saponácea utilizada nas esculturas é muito mole o que facilitou o trabalho do escultor”.

                        Apesar de Congonhas ser importante como centro urbano durante o século XIX, nunca passou da categoria de distrito de paz. Lá foi instalada, com o auxílio de Eschwege, a segunda fábrica de ferro de Minas, em 18l8, tendo como empresário Romualdo José Monteiro de Barrros, barão de Paraopeba. Foi também um importante centro de educação religiosa conforme registra Cônego Raimundo Trindade: “Os padres lazaristas do Caraça aceitaram em 1827, a doação que o imperador lhe fez do santuário de Congonhas; aí fundaram um grande colégio, donde saíram gerações de homens eminentes que muito serviram à Igreja à Pátria. Ainda está, em Congonhas, o grande edifício desse colégio, que funcionou até 1855, quando por dificuldades insuperáveis, entre elas a falta de padres, desistiram da doação e foram para o Caraça parte para Campo Belo (TRINDADE, C.R. 1953). Figuras ilustres da história da Província e do Movimento Republicano, como Rodrigo Bretas, Joaquim Felício dos Santos, Dom João Antônio dos Santos e Aureliano Lessa estudaram no colégio de Congonhas.

                        Somente em 1938, Congonhas foi elevada à categoria de município e cidade, em face da lei estadual n. 148 de 17 de dezembro do mesmo ano.

                                                                       

Itabirito

            O nome primitivo do lugar era Itabira, que em tupi quer dizer pedra pontiaguda. Em 1852 passa a denominar-se Itabira do Campo O cientista alemão Eschwege encontrou na região uma rocha metamórfica,  xistosa, que se associa à hematita e a denominou de Itabirito e daí o nome do atual do município, cujo território foi desbravado pelos bandeirantes Fernão Dias Paes Leme e Borba Gato. Aí encontraram os índios Arêdes.

                        Paróquia de N.S. da Boa Viagem de Itabira do Campo, por alvará de 1852, no município de Ouro Preto. Município e vila, com o nome atual por lei nº  843, de 7 de novembro de 1923. Naquele momento compreendia os distritos da sede, São Gonçalo do Bação, Moeda, São José do Paraopeba e Aranha. Em 1938 adquire os distritos de São Gonçalo do Monte e Acurui. No mesmo ano perde os distritos de São José do Paraopeba e Aranha para Brumadinho e perde também  Moeda para Belo Vale.(COSTA, J.R. 1970)

                        O subsolo de Itabirito é rico em grande variedade de minérios. Com o esgotamento das jazidas, já no século XIX, os mineiros tentaram penetrar na rocha matriz para extrair ouro. Em 1844 a mina de Cata Branca desabou sepultando cerca de 100 operários que nela trabalhavam. Esse acontecimento causou muito pavor aos moradores de Itabira do Campo que migraram para as margens do Paraopeba com a atividade agrícola. O município de Itabirito localiza-se na região Metalúrgica de Minas Gerais, constituindo-se de população urbana maior que a rural. A renda maior é proveniente da indústria de transformação. Os setores do comércio, da indústria extrativa e do agropecuário juntos não superam a renda do setor de indústria de transformação.

Moeda

                A fundição de barras de ouro ou moedas falsas era uma forma de burlar o fisco português. A fiscalização colonial era terrivelmente ambiciosa e cruel. Portanto, nada mais natural que surgissem sucessivas tentativas de sonegação. A primeira fábrica de moedas falsas foi a da serra até então denominada de Paraopeba. O governo português, em Lisboa, tomou providências conforme carta régia de 1208/1732, no sentido de desmantelar a referida fábrica. Junto á carta vieram os nomes dos envolvidos que eram graduados senhores do Reino. Entre eles estão, Antônio Pereira Santos e Carlos Quentel, que eram cunhadores oficiais de moedas no Rio de Janeiro e em Ouro Preto; Francisco Bravo, ouvires; Antônio da costa, apelidado de Farçola, que era o viajante da empresa e o líder Inácio José de Souza. Segundo Diogo de Vasconcelos, “a fabrica foi instalada num rincão escuro da serra que até hoje se ficou chamando de Moeda”. Ali permaneciam comunicando-se por código. Tudo faziam para não serem descobertos até que o Ouvidor de Sabará, Dr. Diogo Cotrim prendeu seis sócios da fábrica. Os que escaparam conseguiram transferir a fábrica para Itaverava.

                        O episódio marcou a região de tal forma que a serra que antes era conhecida com o nome de Paraopeba passa a se chamar Serra da Moeda. Na verdade existiam duas localidades com o nome de Moeda, isto é, Moeda Velha e Moeda Nova, inspirando-se no fato histórico da fábrica de moedas e no relevo da região. O distrito de Côco é que primitivamente denominava-se São Caetano da moeda e também São Caetano da Casa da Moeda, ligado ao município de Ouro Preto.

                        A Lei 843 de 7 de Setembro de 1923 mudou a denominação do distrito para Moeda, vinculado ao município de Itabirito. Mais tarde o distrito de Moeda Velha passa a denominar-se Côco, por força da Lei 148, de 17/12/1938. A sede desse distrito transferiu-se para a localidade de Boa Morte onde havia sido construída a estação ferroviária, com o nome de Moeda, por força da Lei Estadual nº 1035, de 20/09/1928. Elevado à categoria de município e cidade com o nome de Moeda, nos termos da Lei Estadual  nº 1039, de 12 de dezembro de 1953. (MOURA, A P. 1995)

                        A estação  ferroviária possibilitou o aumento da produção agro-pecuária. A batata inglesa passou a ser o principal produto do distrito, colocado com facilidade no mercado de Belo Horizonte.

Vargem Alegre

        Seu primeiro nome foi “Fazenda de Macaúbas”. Do tupi:  “Ma Ka i  ba “, que significa árvore da macaba, ou coqueiro macaúbas .

          Em 1837, quando Cunha Matos concluiu o levantamento corográfico da Província de Minas, relacionou Bonfim como pertencente ao município de Conselheiro Lafaiete, juntamente com Santana do Paraopeba, Belo Vale e Piedade dos Gerais, povoados que em 1839, iam compor o Município de Bonfim. Não menciona “Fazenda de Macaúbas” e nem “Macaúbas de Baixo” . Descreve os rios  componentes da bacia do Paraopeba mas não faz referência alguma ao Rio Macaúbas.  Isto nos leva crer que naquela data o lugar ainda não era  um povoado. Poderia ter algumas fazendas esparsas, com matas fechadas e caminhos indefinidos entre uma fazenda e outra.

           Em 1855, encontramos registros de terras e partilhas de heranças de diversas famílias na  “Fazenda de Macaúbas” . Joaquim da Rocha Machado, com 27 alqueires de plantas de milho, dividida com Jácomi Miguel de Campos, Josefa dos Mattos, José da Silva Fonseca, José da Silva Miranda, Joaquim José de Castro. O mesmo José da Rocha Machado divide outra de oito alqueires de planta de milho com José Ribeiro da Silva, João Fernandes da Silva, Joaquim Rodrigues de Medeiros, Francisco Rodrigues de Medeiros, Antônio Lourenço da  Cunha, Francisco Pedro Soares, Joaquim José da Costa, na localidade “Fazenda de Macaúbas” , divide 30 alqueires  de  plantas de milho, com os filhos Lúcio Roberto Campos, Silvano Pinto de Queiróz, Jácomi Miguel de Campos, José  da Rocha Machado, José Luiz de Miranda e José Rufino da Silva. Fazenda de quinze alqueires dividida com os herdeiros Francisco Fernandes  de Araújo, Jácomi  Miguel de Campos  e  Joaquim José de Castro, Cristiano Pinto de Queiróz possui na fazenda denominada Dumbá, oito alqueires de planta de milho.

            São estes, provavelmente, os nomes dos primeiros componentes do povoado e posteriormente vila. Em 1886, João Gomes de Moura, vindo de Bação, da região de Itabirito, instala a primeira casa de comércio, no local onde é  hoje a Casa Paroquial. A pequena casa foi entregue aos cuidados da esposa Francisca Fernandes de Moura. Posteriormente adquire uma fazenda muito  bem instalada no Córrego do Cambão.

           Os raros escravos existentes, fixaram-se no lugar denominado Fundão, após a libertação em 1888. A população branca situou-se em Macaúbas de Baixo e Vargem Alegre.

           Seu segundo nome foi Santo Antônio de Vargem  Alegre. Santo Antônio, o padroeiro. Vargem, do latim: “várzea” , terreno plano.  Alegre, talvez pelo comportamento do povo  e talvez pelo colorido vivo e alegre oferecido pela natureza. Passa a constituir-se um distrito do Município de Bonfim, conforme decreto nº 151, de 21 de julho de 1890, cujo artigo primeiro tem o seguinte texto: “ Fica criado no lugar denominado Macaúbas de Baixo, no município de Bonfim, comarca de Entre Rios, um distrito de paz, com o nome de Santo Antônio de Vargem Alegre”.  Parece-nos ter existido erro na sua redação. Se o povo tivesse cumprido ao pé da letra o artigo 1º  do referido decreto, a sede do distrito teria se deslocado quatro quilômetros pela margem direita do rio para ser instalada no povoado de Macaúbas de Baixo.

Para corrigir o erro na redação do decreto teria que mencionar “Fazenda de Macaúbas” e não “Macaúbas de Baixo”. O Decreto nº 175, de 25 de agosto de 1890 traça as divisas do distrito da seguinte forma:  “Começam na fazenda  de D. Lúcia de Campos  e filhos, águas vertentes, fazenda do sul dos herdeiros de Joaquim Rodrigues, seguindo a fazenda do falecido João Rodrigues, seguindo a fazenda do falecido João Alves de Brito, daí ao Campo Celeste às fazendas de Frederico Teixeira Souza, Miguel Pereira e Mutuca, até ao Rio Paraopeba, e por  este abaixo  até a ponte; e desta pelo córrego acima da fazenda do finado Salviano Pinto, à grota do vale Dumbá  excluindo  daí a Fazenda do Bom Destino, de Antônio Pedro Braga, fechando esta divisa onde teve  seu princípio.”

         No final do Século XIX, outras famílias continuaram adquirindo terras nas proximidades  do Rio Macaúbas e se dedicando  à agricultura, cuja produção era destinada ao abastecimento   da grande Ouro Preto e posteriormente   de Belo Horizonte. Por isso, não se preocuparam com a plantação  de café.  Por esse tempo chega o Professor Francisco Sales Xavier, que ali viveu e deixou como legado a constituição da família Sales e sua obra educadora.   O emigrante de origem árabe, Luiz Abdon, instala uma ampla casa comercial, revelando-se capaz de rápida assimilação da Cultura local, expressa no entrelaçamento   de seus filhos e netos com as famílias vargem-alegrenses.

            Seu terceiro nome foi Campo Alegre, instituído pela lacônica Lei nº 622, de 18 de novembro de 1914 . Não sabemos qual foi a semântica a que pretendeu-se dar à palavra campo, de vez que esta significa terreno extenso sem mato, com ou sem árvores esparsas.

O terreno focalizado não tem característica de campo  e daí  se justificar este prefixo. Permanece o sufixo “alegre” , formando então o nome  de Campo Alegre. Novas famílias tomam lugar na terra, fixando-se ao lado do crescimento  populacional  natural. Em 1920, a população do distrito era  de 2.500 habitantes, com a densidade demográfica de 32 habitantes por Km2, acima da média do total do Município  de Bonfim que era de 27 habitantes por Km2.

          Seu quarto nome tem origem no tupi: “toryba-y ”  , que significa rio alegre.  O nome foi instituído pelo Decreto-Lei nº 1.058, de 31 de dezembro de 1943. Muda o prefixo de “campo”  para o de rio, mas permanece o sufixo  “alegre”.(4) A mudança do nome parece-nos ter sido  uma atitude  de simples reformismo romântico, sem consulta da opinião pública local, como era o estilo do momento nacional. Período  de crise que coincide com a segunda guerra mundial  e seus efeitos. Diversas famílias migram-se para Goiás, São Paulo e Paraná. Pequenas casas abandonadas e alguns terrenos cultivados deixam espaço para criação de gado.Volta a denominar-se Santo Antônio  de Vargem Alegre, por força da Lei nº 1.039, de 12  de dezembro de 1953. Algum tempo depois de 1953, frequentemente o vargem-alegrense explicava que a mudança do nome  teve causa na chamada “Briga dos Marrecos”. Este fato foi um tremendo horror para o vargem-alegrense ordeiro  e trabalhador.  Cumpria, portanto, mudar o nome de Turibai  para o de Santo Antônio de Vargem Alegre, pois estaria naquele nome a causa de fato tão lamentável. Não foi, evidentemente, o episódio dos “ Marrecos”  que provocou a mudança do nome. Há tempos, vinha sendo defendida pelo Padre Antônio Guilherme Pires da Costa que, em sua retórica justificativa a necessidade de homenagear o santo padroeiro. Dizia que turibai, na língua tupi, significava lugar de orgia e portanto, oposto ao nome de Santo Antônio. Não haveria sentido em dizer Santo Antônio de Turibai. Caberia, finalmente, voltar o seu nome de origem que foi Santo Antônio da Vargem  Alegre. Procedeu-se uma consulta de opinião pública local, para efetivar a proposta de mudança do nome, cujo resultado foi favorável ao conteúdo da oratória do Padre Antônio Guilherme.

           As migrações para Belo Horizonte  desfalcaram o distrito de um bom contigente humano. Mas mesmo assim a estimativa estatística para 1955 registra um crescimento populacional na ordem  de 50% , com relação ao ano de 1920.

Isto é, uma população de 3.755, e uma densidade demográfica na ordem de 47 habitantes por Km2 , acima da média do total do Município de Bonfim que era de 26 habitantes por Km2.(5). (MOURA, A P. 1981)

(1) – Padre Silvério Ribeiro de Carvalho (1767/1847), nasceu em Itabira do Campo, hoje Itabirito, filho do capitão Simão Ribeiro de Carvalho e Joana Tereza de Oliveira. Conhecido com o pseudônimo de Vigário do Paraopeba. Possivelmente tenha parentesco, pelo lado materno, com a matriarca Izabel de Oliveira Lima. A história da literatura mineira faz muitas referências ao padre Silvério, por seu estilo jocoso e satírico. Também conhecido como o Gregório de Matos de batina.  Residia na fazenda Contenda, ao pé da Serra da Moeda, hoje em ruinas. A viagem que fez à Fazenda Boa Esperança foi registrada em uma epístola que dedicou a uma certo “Silva”. (MOURA,  A, P 1990).

 

BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família, 1971.

BASTOS, José. Promessa de viagem faz nascer o Bação. “Imagens”, Itabirito, abr. de 1992.

COSTA, Joaquim Ribeiro. Toponímia de Minas Gerais.  Belo Horizonte:  Imprensa Oficial.1970.

FERREIRA, Jurandir Pires. (org). Enciclopédia dos municípios. Rio de Janeiro: IBGE, 1958.

MATOS, Raimundo José da Cunha - Corografia histórica da província de Minas Gerais  (1837), Belo Horizonte:  Arquivo Público Mineiro, 1979

            MELO FRANCO, Affonso Arinos de. O primeiro depoimento estrangeiro sobre Aleijadinho. “Revista do PHAN”, Rio de Janeiro, 1939.

MOURA, Antônio de Paiva. O Alto Paraopeba em verso e prosa. “Revista Minas Gerais”, Belo Horizonte, nº 27, jul. 1990.

MOURA, Antônio de Paiva. Toponímia de Moeda. “Folha do Paraopeba”, Moeda

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            OLIVEIRA, Tarquínio José Barbosa. As Cartas Chilenas. (fontes textuais). São Paulo. Referência, 1972.

              RESENDE, Antonio Lara. De Belo Vale ao Caraça. Belo Horizonte: Autor, 1970.

            SILVA, Olímpio Augusto da. Itabirito, minha terra. Itabirito: Prefeitura Municipal, 1996,

                TRINDADE, Cônego Raimundo. Arquidiocese de Mariana. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1853, p.  

            VASCONCELOS, Diogo de. História Média de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1974, p.  100.

Histórico

         Logo após a descoberta do ouro em Minas Gerais, 1696, a região começou a ser povoada por portugueses radicados no Nordeste do Brasil a exemplo de Manoel Nunes Viana, que entrou em conflito com os paulistas na busca de conquista de domínio da região. Em seguida começou a chegar de Portugal, verdadeiras caravanas de novos colonos. Foram tantos que a Coroa portuguesa acabou por proibir a saída de Portugal, temendo um esvaziamento de seu próprio território na Península Ibérica,   conforme relata Salvador.  O surto demográfico operado nas Minas, graças aos esvaziamento de outras áreas da Colônia e de Portugal, causou apreensão no Reino. Em ambas constatou-se desde logo a carência de trabalhadores nas mais diversas atividades. Foi tal monta a avidez pelo ouro, que muitos sujeitos resolveram dispor dos bens, pensando ressarcir-se prodigamente assim que chegassem às lavras, confiados na boa sorte. (SALVADOR, J.G. 1992, p.16)

            Já na Colônia do Brasil os portugueses eram registrados com seus nomes de batismo. Predominavam os nomes de Antônio, João, Pedro, Joaquim, Manoel, Francisco e José, acrescido do nome da cidade de origem, a exemplo de Antônio Francisco de Lisboa, Joaquim José de Coimbra, José de Guimarães, Manoel Nunes Viana, Francisco Gomes de MOURA. Seguem as famílias provenientes do Porto, de Braga e outras localidades.

            Além dos portugueses de procedência definida, chegavam os chamados cristãos novos. Eram cidadãos procedentes de outros países e que passavam uma temporada em Portugal até abandonar a língua de origem; converter-se ao credo católico de modo a não deixar nenhuma dúvida quanto à fidelidade. (CARRATO, J.F. 1968, p.83) Substituir o nome de origem por um nome comumente usado em Portugal. Não estando ligado a uma cidade portuguesa, o cristão novo escolhia um prenome para designar a família, originados de plantas ou animais, como Manoel Gomes de Carvalho, José Soares Leão, José Joaquim Lobo. O certo é que os cristãos novos integravam-se de corpo e alma à nacionalidade portuguesa, havendo, contudo, desvios e resistências. O entrelaçamento matrimonial muito contribuiu para a incorporação dos cristãos novos à nacionalidade portuguesa, tendo Manoel de Melo, chegado a ser contratador dos diamantes, em 1734; o Pe. Antônio de Mendanha Soutomaior, vigário da paróquia do Serro.

            Um traço cultural português,  marcante nas famílias Gomes de Moura e Moura Lima é a fidelidade ao catolicismo; uma forma  espontânea e alegre de conviver com as pessoas e especial cuidado com a unidade da família. Existe nessa linhagem familiar uma tradição de  responsabilidade e honestidade na vida profissional, mesmo que a modernidade imponha algumas mudanças. Estou certo de que o exemplo mais fiel desta assertiva é a vida do cartunista Moura: conservou sua religiosidade e ao mesmo tempo uma honrosa militância na imprensa nacional.(1) Contemporâneo do cartunista é o advogado Gonçalo de Moura: criou e custeou estudos para as suas três irmãs mais novas como filhas adotivas. Exercia a advocacia não para o enriquecimento pessoal, mas para defender a causa dos pobres oprimidos. (2) De Ouro Preto, espalhou-se para as regiões agrícolas no começo do século XIX e hoje concentra-se mais em Belo Horizonte. O Gomes de Moura inclina-se à origem portuguesa ou propriamente, ao cristão velho, enquanto Pereira Lima tende ao cristão novo (3) Oliveira Lima e Gomes Moura são as colunas básicas sobre as quais foi edificado o primeiro pavimento da família Moura. Nos andares de cima foram adicionadas outras colunas que em passado mais remoto foram sobrenomes ligados aos cristãos novos e velhos, mas com o entrelaçamento deixaram tais caracteres. Uma incursão pelas origens e significado dos sobrenomes pode nos auxiliar na compreensão da ideologia que norteou a ocupação do território mineiro pelos portugueses, na época da mineração, com sobrevivência de traços culturais presentes na família em estudo.

             Alves de Brito. Alves é uma variável recente do sobrenome Alvares, que é uma freguesia no termo de Góes, da diocese de Coimbra em Portugal.  Brito é um povoado do município de Guimarães, em Portugal. A primeira personalidade a usar este sobrenome foi D. Soeiro de Brito em 1080. Em Minas Gerais, Alves de Brito é um sobrenome associado, remontando desde os descendentes de Manoel Nunes Viana, figura principal da Guerra dos Emboabas.

 Araújo, sobrenome de origem toponímica, advindo de uma localidade com este nome na Galiza, Espanha, fronteiriça com Portugal. Os Araújo estabeleceram-se entre o Minho e Douro, depois do século XV.

Braga, originários da cidade de Braga em Portugal. O sobrenome é antigo em Portugal. O roteirista da viagem de Vasco da Gama à Índia, em 1497, chamava-se Álvaro Braga.

 Campos.  Sobrenome de origem toponímica, de vez que existia em Portugal diversos locais com ente nome, a exemplo de um termo da vila de Carmo. Os primeiros a usarem este sobrenome foram os descendentes do conde D. Gomes de Maçanedo de Campo.

             Fernandes, variante de Fernando. Homenagem ao Rei de Aragão, Fernando V (1474-1516), denominado “o católico”, que expulsou os mouros e os judeus da Espanha;

 Gomes vem de Goma. Antigamente era nome de batismo como Gomes Freire de Andrade;

Gonçalves, corruptela do nome Gonçalo. Em latim é gundi salvus, que significa salvo na guerra, o mesmo que invencível;

Lima, de origem botânica, relacionado com a fruta lima; nome de cristão novo.

 Machado, sobrenome surgido em combate de cristãos contra os mouros quando um português rompeu a machado as portas de um santuário, em um assalto;

 Moura é sobrenome destinado a identificar os imigrantes portugueses provenientes da vila de Moura, no Conselho de Beja, região produtora de minério de ferro e água mineral. O primeiro a adotar o sobrenome Moura foi Vasco Serrão Martins de Moura, que foi o primeiro senhor da Vila de Moura, ao tempo do rei Afonso VI. (1656/1667). Segundo Hermann o sobrenome Moura desde o seu surgimento, oferece oportunidade de enriquecimento, acompanhadas de transportações mágicas. A figura dos Moura aparece como algo de fazedores de milagres. Os descendentes de judeus odoravam casar-se com as gentes de Moura. (HERMANN.  J. 1998, p. 159)

Oliveira. Este sobrenome tem uma dupla origem: botânica e toponímica. Na botânica corresponde à árvore da ólea, fruto destinado à produção de azeite. Na toponímica, há mais de uma localidade portuguêsa, como o distrito da diocese do Porto, em Portugal. O sobrenome Oliveira é encontrado desde o começo do atual milênio.

Pinto, sobrenome que vem de apelido, sendo de pessoa de pouca estatura;

Pedrosa, corruptela de Pedro que tornou-se sobrenome. Os primeiros a adotá-lo são oriundos da Galiza e de lá passaram a Portugal ao tempo do rei D. Afonso V, com Diogo de Pedrosa.

Pereira, sobrenome de origem botânica que memoriza a árvore da fruta pêra adotado pelos cristãos novos de origem judaica.

Reis, nome de origem religiosa. São numerosas as famílias Reis, pois foi muito comum dar sobrenome de Reis aos filhos nascidos no dia 6 de janeiro. 

 Rocha. Um guerreiro cristão forçou os mouros que se encontravam fortificados em uma rocha (caverna), a entrarem em luta, recebendo a alcunha de Rocha. Como alcançou a vitória, o rei Afonso VII de Castela oficializou nome como Rocha. De Castela passou a Portugal em 1156.

 Rodrigues vem de Roderico, o último rei visigodo da Espanha. Os cristãos passaram a adotar o nome Rodrigo e o sobrenome Rodrigues, depois de 711;

 Sales é sobrenome de orgem religiosa, sendo um castelo na Sabóia, onde nasceu São Francisco de Sales, no século XVI;

Santos, sobrenome de origem religiosa. Todos os Santos. Baseado na comunhão dos santos, festa celebrada no dia 1º de novembro, glorificação dos cristãos perseguidos e que se tornaram excepcionais testemunhos cristãos, de vidas exemplares.

 Silva, sobrenome de origem botânica que significa rosa. É o sobrenome preferido pelos cristãos novos de origem judaica, a exemplo de Antônio José da Silva que foi apelidado de “o judeu”. Seus filhos casaram-se todos com cristãos velhos;

Silveira, é o mesmo que roseira;

Souza, é nome de um rio e de um povoado em Portugal;

Teodoro, Theodoros, é o mesmo que dado por Deus; dádiva de Deus. Nome próprio que tornou-se sobrenome a exemplo de Teodoro Sampaio.

Vieira é sobrenome de origem toponímica, sendo uma vila de Portugal. (Enciclopédia, 1973).

O controle dos nomes das famílias mostra que Portugal queria perpetuar sua cultura entre os colonos como forma de impedir a sublevação e o separatismo.

Ninguém saiu da Europa e se instalou no Novo Mundo sem o ideal de se enriquecer, de tornar-se independente. A terra prometida redundou, muitas vezes, em tremendo desencanto. Talvez a Independência do Brasil tenha sinalizado, a boa parcela da sociedade, uma oportunidade de buscar as fortunas soterradas por seus antepassados. Havia chegado a hora de ingressar-se  na ordem negada pelos colonizadores. No período colonial tanto rico como pobre estavam excluídos. Somente o reinol ocupava papel ou  “status” e podia acumular fortunas. Após a Independência todos almejavam tornar-se grandes senhores rurais. O matrimônio torna-se meio importante nessa busca de estabilização. Um bom matrimônio implica em viajar e sondar conveniências.

Algranti reforça a importância do casamento na época colonial e por extensão à monarquia, levando em conta um total desamparo institucional. Os indivíduos eram lançados em um mundo em que só se podia contar com compromissos de seguridade social dos parentes: pais, avós, irmãos e tios. Diz a autora: “O casamento sacramentado conferia “status” e segurança a homens e mulheres. Pessoas de origem humilde, inclusive escravos, uniram-se em matrimônio perante a Igreja, conforme indicam vários estudos. A prática de oferecer dotes a moças órfãs e desprotegidas institucionalizou-se ao longo do tempo. O casamento dignificava as pessoas” ( ALGRANTI, L. M. 1997 p 87).

O respeito à instituição família vem de sua função social, isto é, sua capacidade de proteger os indivíduos contra o competitivo próprio de cada época. O indivíduo nascido de um casal cujos laços foram consagrados pelo registro eclesiástico e também civil está assegurado na vida, ao contrário dos filhos bastardos, fora do matrimônio. O alemão H. Burmeister, estudioso de Ciência do Direito, em viagem à província de Minas Gerais, em 1853, observou que era difícil ver-se um branco casado com uma mulher de cor, pois cada um tratava de conservar na família a pureza de sua raça, evitando qualquer parentesco com gente de outra cor. (BURMEISTER, H. 1970)

No consórcio Gomes Moura e Oliveira Lima, todos os filhos legítimos, que nessa genealogia  chamamos de primeira geração, (1855/ 1875), tiveram filhos fora do matrimônio; que viveram inteiramente à margem. A segunda geração que nasceu de 1890  a 1910, entre homens, quase todos tiveram filhos fora do matrimônio. A terceira geração que nasce de 1910 a 1940, diminui a proporção de filhos extraconjugais, mas começa a separação de casais, embora ainda prevalecesse a indissolubilidade legal do casamento. Na quarta geração desaparecem os filhos bastardos e aumenta consideravelmente a separação de casais. Isso é um dos traços culturais deixados pelos portugueses em nossa sociedade. Muitos deixaram mulheres e filhos em Portugal e viviam aqui em amancebia. Outros, mesmo que casados e residentes na colônia, mantinham concubinas de modo discreto e velado. Podemos dizer que há entre portugueses e espanhóis uma certa diferença. Enquanto estes são conquistadores mais abertos, revelando em público suas paixões, a exemplo de “Dom Juan”, da novela de Tirso de Molina, os portugueses são mais sorrateiros na forma de praticar o adultério. Ninguém melhor que o português Saramago para ilustrar nossa conversa. No romance “Todos os Nomes”, o único personagem nominado, Sr. José, funcionário de um cartório de registro civil, vivia colecionando notícias e informações sobre pessoas famosas. Em um de seus monólogos íntimos Sr. José “sentia que estava a gostar de seu trabalho pois graças a ele pudera penetrar na intimidade de tantas pessoas famosas, saber, por exemplo, coisas que algumas tudo faziam para ocultar, como serem filhas de pai ou de mãe incógnitos, ou incógnitos ambos, que era o caso de uma dessas, ou dizerem que eram naturais da sede de um município ou de uma capital regional quando o que tinham era nascido num lugarejo perdido, numa encruzilhada de bárbara ressonância, se não fora antes um sítio que simplesmente cheirava a estrume e a curral e que podia muito bem passar sem nome”. (SARAMAGO, J. 1997, p.32)

De geração para geração o número de filhos na família nuclear vem diminuindo. Na primeira geração podemos dizer que a média era de 10 filhos. Na segunda geração, em face da fidelidade dos rgistros em cartórios houve um aumento e a média passa para 12 filhos. Na terceira geração diminui-se consideravelmente o número de nascimentos. Na quarta e na quinta gerações, limitam-se a dois filhos por casal.

Outro aspecto muito freqüente na grande família é a endogamia. A partir da segunda geração começam os casamentos entre primos de primeiro grau. Antonio Gomes de Moura casa-se com Ana Filomena de Moura, João Vicente de Moura com Luzia Conceição de Moura, João Rodrigues de Moura com Josefina de Moura Lima, Antônio de Moura Lima com Maria de Araújo Moura Lima. A tendência endogâmica continua na terceira geração a exemplo dos casamentos de Antônio Rocha com Maria Teodoro, José Alves de Moura com Conceição Moura Rocha, Maria de Moura Lima com Benedito Gonçalves Pedrosa, Joaquim Vieira Moura com Marly de Moura, mas começa a diminuir na quarta geração.

Até a terceira geração a família Moura conservou o modo português de praticar a religião, com nítida e viva reminiscência dos tempos coloniais. Durante o período colonial a instituição eclesiástica estava inserida dentro do aparelho de Estado lusitano e a Igreja consistia uma espécie de departamento de Estado, sendo os bispos e clérigos considerados como funcionários da Coroa, recebendo remuneração da Fazenda Real para o exercício de sua atividade, como afirma Azzi: “Dentro dessa perspectiva, a Coroa esperava que os membros do Clero se mantivessem solidários com os interesses políticos e econômicos da Metrópole. Tal expectativa era ainda maior com relação ao território das Minas Gerais do qual a Metrópole esperava haurir ingentes benefícios econômicos”. Nesse sentido, era importante garantir a fidelidade do Clero ao projeto colonial e do súdito ao clero. (AZZI, R. 1987). A religiosidade portuguêsa era obrigatória, exteriorista e nada subjetiva. O cidadão devia demonstrar que praticava o culto para confirmar sua fidelidade ao catolicismo. A procissão é a forma de culto mais expressiva de vez que nela o fiel se exibe para o público. Marca sua presença no ritual em que as autoridades eclesiásticas, civis e militares aparecem igualmente triunfantes. Até o final da década de 50 tivemos a oportunidade de presenciar um rotineiro ritual na paróquia de Santo Antônio de Vargem Alegre. No terceiro domingo de cada mês os fiéis saiam em procissão cantando o Terço. O vigário ia à frente, paramentado com sobrepeliz  e estola, seguido por alguns homens vestidos de opa. As mulheres iam de cabeças cobertas com véu enquanto os homens  levavam seus chapéus nas mãos. Até a década de 60 a saudação usual de um Moura, de Vargem Alegre ou de Moeda, a seus ascendentes era: “Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”. A resposta era enfática como a de um cavaleiro cruzado: “Para sempre seja louvado”. Os descendentes da quarta geração em diante, aboliram esta forma de saudação. Há 20 anos, Francisco Antônio de Moura, então com 74 anos de idade, dirigiu a seus conterrâneos um epístola na qual demonstrava a beleza da vida na fé. Narra o encontro de dois grupos de peregrinos a caminho da Matriz de Santo Antônio de Vargem Alegre, na Sexta feira Santa de 1979. (4)

No momento em que a atividade mineradora do ciclo do ouro se arrefece  os mineiros partem para a conquista dos territórios longínquos. O vale do Paraopeba foi o primeiro a ser ocupado em toda a sua extensão por poliagricultores desistentes da atividade mineradora. Sobreira ocupa a margem esquerda do Vale do Paraopeba, fundando Santana e Bonfim. Mas parece ter sido o agricultor, Antônio Lopes da Silva um dos primeiros exploradores da região, antigo morador de Congonhas do Campo a devassar o mato virgem do rio Macaúbas,  conforme carta de sesmaria de 1746. Seguem a Sobreira e a Lopes da Silva, na segunda metade do século XVIII, outros posseiros de terras na região do Paraopeba, cem anos antes dos descendentes de Francisco Gomes de Moura e Ana Pereira Lima migrarem para a região,  entre os quais:  Antônio Joseph de Moura, em Congonhas, 1957; José Dias de Moura, em Piedade Gerais, em 1755;  Josefa Joaquina de Moura, em Jacarandá, Conselheiro Lafaiete, 1799;  José Gomes Pereira, em Piedade Gerais e Congonhas, 1768;  Martinho Pacheco de Lima, Conselheiro Lafaiete, 1793; Manoel Fernandes Lima, para as partes do Paraopeba, 1753; Manoel Francisco de Lisboa (pai de Aleijadinho), Paraopeba da Boa Morte, em 1748; Manoel Roiz de Lima, Sítio da Bandeirinha na Mata do Paraopeba, (possivelmente,  Ibirité) s/d. (5) Ainda no século XVIII temos exemplos de alguns moradores  na região, como Antônio e Aniceto Gomes Moreira, ferreiros, naturais de Terra da Feira, Porto, em Bação, conforme processo de devassa na Cúria de Mariana, em 1753.( MARTINS, J. 1974)  José Rodrigues dos Reis, trabalhando na igreja do Rosário de Itabirito de 1779 a 1780 (MARTINS, J. 1974).

            A fuga da mineração segundo Carrato foi quase em massa comparando-a como um diáspora. Essa comparação parece ter abrigo no fato de que diante do caos institucional do momento não restava aos mineiros outra alternativa senão a de se organizarem em famílias. Vale dizer, não perder os laços pelos quais as famílias se interligavam. Multiplicam-se os andarilhos, os homens sem rumo encarnados no personagem Lucas Procópio de Autran Dourado. Assim foi  Francisco Gomes de Moura, o andarilho que chegou em São Gonçalo do Bação, depois de muito viajar pelos montes e vales das gerais. Lá encontrou Anna Pereira Lima, filha da matriarca Isabel de Oliveira Lima.  Homem experiente e viajado, resolve acomodar-se entre os abastados Pereira, Oliveira e Lima.  Creio, sem contudo provar, que o cristão velho Gomes de Moura, associou-se aos cristãos novos Oliveira, Pereira e Lima.  Francisco Gomes de Moura foi capaz de suportar certas peripécias da esposa para que o casamento não se dissolvesse. Embora os Oliveiras ou Pereira Lima ostentassem poderio pelo lado econômico, o que vitalizava a permanência Gomes Moura no casamento era a sua ampla cultura traduzida nos aspectos da religiosidade, do saber ler e escrever ao ponto de assumir a gerência dos negócios do clã . Atesta isso a procuração que a matriarca Isabel de Oliveira Lima lhe confere no sentido de registrar os latifúndios da família Oliveira Lima.(6)  Tratavam-se de imensas porções territoriais compreendidas ao longo da Serra da Moeda, desde o trevo de Itabirito até a Lagoa dos Ingleses.

            Da época colonial para a época monárquica, em que é constituída a família em estudo, passa a prevalecer nela o conservadorismo e o liberalismo que se alojam na cultura local. Tais caracteres se manifestam de forma paralela, simultânea e às vezes antagônicas, isto é, podendo um membro da família ser conservador e liberal ao mesmo tempo; ser ora conservador e ora liberal e um outro membro ser conservador ou liberal intransigente durante toda a vida. Desde a segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX, a família Moura e seus colaterais espalharam-se pelo entorno de vilas, povoados, pequenas cidades e Capital mineira, dedicando-se a diversos setores da economia como: agricultura, pecuária, comércio e indústria caseira.  João Gomes de Moura, transferiu-se para Vargem Alegre, em 1887, margem esquerda do Paraopeba. Joaquim de Moura Lima mudou-se para Pessegueiro, em Moeda, margem direita do Paraopeba, em 1893. Francisco e José Gomes de Moura permaneceram em Bação, onde faleceram em 1909 e 1915. Seus filhos transferiram-se para Belo Horizonte, na segunda década do século. XX. Nesse aspecto é que podemos detectar tanto o empresário liberal quanto o conservador. O liberal  procura  inovar técnicas de produção; procura informar-se  quanto a tendência do mercado. O conservador opera  sua empresa somente com elementos da família, não permitindo trabalho ou participação de terceiros, nos moldes da economia tradicional e informal, a exemplo da fazenda  de policultura voltada para a subsistência, com pequena sobra para o mercado local. Apesar de predominar as propriedades fundiárias, o fazendeiro mantém plantação de cereais, frutas, legumes e gramínios para a produção caseira de laticínios, aguardente, rapadura, açúcar, farinhas de milho e de mandioca, polvilho, sabão, doces e biscoitos.

Antônio de Moura Lima, filho de José Gomes de Moura Lima, depois de estudar no Colégio Dom Bosco de Cachoeira do Campo, transferiu-se para Belo Horizonte, onde atuou no comércio e no transporte de passageiros urbano, tendo sido o fundador do Centro dos Chaufers de Belo Horizonte. Gonçalo de Moura, filho de Francisco Gomes de Moura, formou-se em Direito, dedicando-se a atividades comerciais em Belo Horizonte e Vespasiano. Seus irmãos, também em Belo Horizonte, dedicaram-se à indústria e ao comércio de abate de carne bovina,  com os “Açougues Cruzeiro do Sul” e “Casa Para Todos”. Os descendentes de Joaquim de Moura Lima, em Moeda, continuaram as atividades agropecuárias; transporte com tropa de muares; agroindústria, “marchand” de gado bovino e fundação da Cooperativa dos Produtores de Leite de Moeda. João Gomes de Moura, em Vargem Alegre, além da produção agropecuária, mantinha em sua fazenda, fábricas de cachaça, rapadura, açúcar e laticínio. Por influência do meio Liberal de Ouro Preto, João Gomes de Moura aplicou considerável soma em ações da Usina Siderúrgica Queiroz Júnior, de Itabirito, que seus descendentes conservaram como herança até a década de sessenta.(7) Hoje uma infinidade de empresas comerciais e industriais em poder de familiares mais recentes, marcam presença em Minas, a exemplo da Dumetal, Ematex, IMA  Tecidos da Moda, Moura Calçados, Estúdio HP de Criação e Produção, Rainha do Vale, Loção do Vicentinho.

            Na política, do final da Monarquia até o final da República Velha, predominava entre os Moura e seus colaterais, o perfil do cidadão conservador, alinhado aos potentados locais, sem compromisso de ruptura com as camadas oligarcas. Exceção a João Gomes de Moura (1864 / 1927) que estabeleceu-se em Vargem Alegre, de 1888 até seu falecimento. Em 1910 alinhou-se ao movimento civilista que apoiava Rui Barbosa, contra o Marechal Hermes, na disputa pela presidência da República. Roxo de Moura informou-nos que João Gomes de Moura  se encontrou com Rui Barbosa em Conselheiro Lafaiete, em comício civilista. Além disso, pude comprovar no acervo do Arquivo Público Mineiro que ele conseguiu vitória para Rui Barbosa no município de Bonfim, com pedidos de impugnação de urnas cujas votações apresentavam fraudes eleitorais em favor dos hermistas. João   Gomes de Moura, em atitude isolada e quase solitária, posicionou-se contra o conservador Moreira da Rocha, chefe do Executivo Municipal de Bonfim, que teria impedido algumas benfeitorias ao município, a pretexto de que elas poderiam atrair migrantes,  e com eles,  a degeneração moral. (8)

            Os liberais e conservadores começam a sofrer resistência no interior da família a partir da segunda geração, com a assimilação do Romantismo. Tal reação se caracteriza pela atitude isolada, no sentido da abdicação da luta pela acumulação de riquezas materiais. Os românticos buscam apenas viver e às vezes somente sobreviver. Dedicam-se as atividades artísticas e, nesse caso, especialmente à música, na segunda geração,  exemplo de Luiz de Moura Lima,  João Vicente de Moura (Zico). Na terceira geração aparecem Alaim de Moura Lima e José Dário de Moura. Na quarta geração marca presença o artista  Fernando Lamounier de Moura (Boca). (9)

            Para finalizar, cabe uma palavra sobre os nascidos a partir de 1975, neste último quartel do século XX, das quarta, quinta e sexta gerações. Desde o final da Segunda Guerra Mundial as transformações culturais, sociais e históricas ocorrem de forma acelerada, deixando perplexos conservadores,  líricos e românticos. A juventude havia sentido o gosto da rebeldia doméstica. A década de sessenta, no mundo inteiro e por efeito no Brasil, havia apontado à juventude uma forma distinta de viver: abria-se um abismo entre velhice e juventude. O mundo ideal de Hegel foi varrido da mente dos jovens. A nova cruzada  da juventude empunha as bandeiras de Freud, Sartre e do velho Epicuro: despenca a autoridade paterna; o indivíduo assume a responsabilidade de sua existência com todos os ônus dela advindos; importa viver somente o presente, sem pensar no futuro menosprezando o passado; o ideal de vida é o do éden, isto é, sem esforço, como em um perpétuo feriado. Tudo mudou: hábitos alimentares, com consumo de alimentos mais ricos em proteínas; aumento da estatura física; diminuição do apreço pelos ascendentes; relaxamento da prática do culto religioso; ter dinheiro apenas para consumir e não para acumular. Além de bem sucedida nas profissões tradicionais, como medicina, engenharia, direito, magistério e outras,  a nova geração vem ingressando com bom desempenho nas novas atividades profissionais, a exemplo de analista de sistema, comércio exterior, secretariado executivo, nutrição, marketing, tecnologia de processamento e turismo.

(1)     – José Correia de Moura nasceu em Congonhas do Campo, MG, em 1915 e em 1917 seu pai, João Evangelista de Moura faleceu na mesma cidade. Sua mãe, Luisa Correia de Moura passou a administrar uma pequena hospedaria para manter os três filhos menores. Ela queria que José Correia de Moura se ordenasse padre e por isso ele foi estudar no seminário de Mariana. Por toda a vida foi fiel à formação religiosa e à disciplina de trabalho. Sem nunca ter freqüentado escola de artes plásticas ou jornalismo, atuou em jornais e revistas modernos, com rara capacidade de interpretação do caráter das mais ilustres personagens do universo cultural do Brasil. Segundo o historiador Herman Lima, Moura marcou sua existência na atividade profissional, nos jornais e revistas: Estado de Minas, O Debate, O Diário, Alterosa, O Estado de São Paulo, Correio da Manhã, O Cruzeiro, Noite,  Cigarra e O Malho. (LIMA, H. 1963).

(2) - Gonçalo de Moura também foi fiel a uma formação humanista herdada dos seus ascendentes. Em 1933 foi indicado para defender a causa de dois operários negros que haviam sido presos por perseguição de poderosos, em Itabirito. O esforço de Gonçalo de Moura foi imenso e conseguiu libertar os prisioneiros. Em face disso recebeu de sua irmã Tereza uma carta de congratulação. Em carta de agradecimento à  irmã expõe com propriedade: “Embora eu seja de carne e osso, como toda a humanidade e por isso sujeito às fraquezas, hei de manter-me, com o auxílio de quem  tudo pode, na trajetória que meu berço me traçou para a vida. Eis que muito feliz me sinto, quando ponho as minhas forças ao amparo dos pequenos; a serviço dos fracos e na defesa dos oprimidos”. Termina dizendo que nada de material havia conseguido com sua profissão de advogado, mas mesmo assim sentia-se um milionário de graças. Cita também uma frase de Rui Barbosa para quem o cidadão não deve escravizar-se por dinheiro. (MOURA, G. 1933.)

(3) – A pereira é a árvore que produz a pêra. A pêra significa a efemeridade da existência humana, como é a duração da fruta. A pêra representa também o ato sexual, por sua doçura; pela cor de seu suco e a própria forma da fruta que lembra o ventre da mulher grávida.  A lima é fruta de perfume doce e delicado, cuja casca é polida e lustrosa. Seu nome em latim é “citrus dulcis” que simboliza os seis da nulher. 

(4)  -  “Foi realmente muito sublime o percurso realizado pelos católicos na Paróquia de Santo Antônio da Vargem Alegre, na Sexta-feira Santa do ano de 1979. Saudosa noite, em que intentando uma significação expressiva de um idealismo  manifestante de fé, um grupo de fiéis palmeava com seus pés a via vicinal em direção a outro grupo que trazia o mesmo ideal. Inesquecível noite, que os astros resplandeciam no horizonte, e a brisa que passava perfumando o ambiente, parecia conduzir ao céu as preces dos pequenos romeiros, que animados pelo resplendor do Astro Satélite, almejavam a conquista de um ato sublime que a Páscoa de Cristo Ressuscitado.

                Enquanto brilhavam no céu as constelações, na Terra formavam constelações de seres humanos para dirigir preces a Deus Aquele ambiente inspirava nas almas um sentimento de fraternidade e aprofundava o sentimento religioso daquela gente que, baseados na filosofia do Apóstolo São Paulo, que se Cristo não tivesse ressuscitado seria vã a nossa fé, caminhavam esperançosos porque esta verdade perdura a quase dois mil anos. O mundo contemporâneo depara com essa afirmação que sensibiliza o espírito dos crédulos, combate o erotismo exibido nas praias, nas televisões e até nas ruas, como também a pornografia da imprensa falada e escrita, tão divulgada em nossos dias.

                Seria bom que em todos os anos, se renovasse este ato, a fim de que Deus ouça nossas preces, para a renovação de um mundo corrompido como o atual.  (MOURA, F. A. 1979)

(5) - Catálogo de Sesmarias. “Revista do Arquivo Público Mineiro”, Belo Horizonte, ano XXXVII, 1988      

(6) - Códice RT  93 – São Gonçalo do Bação, 28 de fevereiro de 1856 – Arquivo Público Mineiro.

(7) – Este tipo de mentalidade econômica é contrária à tradicional conservadora. O conservador só aplica capital em atividade que ofereça lucro imediato, isto é, aplicação a curto prazo A fazenda de criação e o marchand de gado é típico dessa atividade.  A mentalidade econômica moderna, ao contrário da conservadora, aplica a longo prazo e é paciente na espera do lucro. O empresário ou aplicador moderno arrisca mais que o aplicador tradicional.  João Gomes de Moura, mais que seus descendentes, foi um homem moderno.

(8) – Francisco Alves Moreira da Rocha, nascido em São João Del Rei, em 8 de agosto de 1850 e falecido em Bonfim aos 4 de fevereiro de 1946. Político conservador, membro do PRM .(MONTEIRO, N.G. 1994).

(9) O protótipo do Romantismo em Minas é Bernardo Guimarães que tinha tudo para acumular enorme fortuna em face de sua posição no Triângulo Mineiro e em Goiás, mas trocou todas as ofertas de fortunas, pelo prazer de viver com o seu violão em roda de amigos, escrever e publicar seus livros. Contemporânea e conterrânea de Bernardo Guimarães foi a  matriarca da família, Ana Jesuina de Oliveira Lima, que pouca importância dava às enormes posses da família Oliveira Lima.

BIBLIOGRAFIA:  

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