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Situada em
Antônio Dias, um dos arraiais mais antigos e populosos que ajudaram a formar
Vila Rica, a Matriz de Nossa Srª da Conceição foi instituída em 1705. Do
templo primitivo nada restou, posto que, a partir de 1727, houve
nova edificação com o notável Mestre de obras reais Manuel Francisco Lisboa
(atuação 1724 +1767). Contudo, houve reaproveitamento da talha dos altares
da nave, em estilo joanino, conjunto este sensivelmente anterior a 1730.
Dentro da
Matriz de Antônio Dias surgiram várias irmandades, entretanto, a maior parte
da documentação confrarial se perdeu. As datas mais recuadas
encontradas atestando que elas, inclusive, já existiam legalmente
são: da Conceição (1717), do Santíssimo Sacramento (1717), de
Nossa Srª da Boa Morte (1721), de São Miguel e Almas (1725), Nossa Srª
do Terço (1736), São Sebastião (1738), São Gonçalo Garcia (1738), cuja
imagem fica no altar da Boa Morte. Destas, nenhuma saiu para construir capela
própria, e tão somente a da padroeira e do Santíssimo sobreviveram. Dentro
dessa igreja paroquial foram erigidas outras associações que logo saíram
para edificar templo próprio como: São José dos Bem Casados, Mercês e Perdões,
Nossa Srª das Dores, todas representativas dos homens crioulos e
mulatos e ainda a Ordem Terceira de São Francisco da Penitência,
declaradamente elitista em sua composição.
Arquitetura:
As obras de construção da matriz se estenderam de 1727 até meados do século,
apresentando dois sólidos retângulos, planta típica da primeira
metade do setecentos, envolvendo nártex, nave, capela-mor, corredores
laterais, sacristia e consistório.
Fachadas: A
principal foi fruto de intervenção partir de 1854, que lhe conferiu
feição robusta e linear, além de ornamentação bastante
estilizada no frontão. Os vãos são os mesmos da arquitetura típica:
sineiras e seteiras nas torres, óculo centralizado e janelas para
iluminar o coro. O arquiteto Ivo Porto de Menezes destacou as semelhanças
existentes entre as fachadas laterais e as soluções obtidas pela arquitetura
civil.
Talha e
Ornamentação: Embora o traçado arquitetônico seja extremamente retilíneo,
os dois altares do arco-cruzeiro estão situados nos chanfros, bem como
o trabalho de carpintaria formando as arcadas e colunas que sustentam o coro.
Com isso, a ornamentação da nave sugere ondulações nas extremidades.
Os oito altares laterais são coetâneos, têm retábulos estilo D. João
V, feitos certamente entre 1725 e 1735. Apresentam talha exuberante, com
elementos antropomórficos, fitomórficos e zoomórficos, profusamente
dourada. O de Nossa Srª da Boa Morte e Assunção é mais
recente, com coluna estriada no terço e algumas adaptações que
permitiram a inserção de interessante nicho no lugar reservado ao sacrário,
que comporta a Virgem jacente em roca, bem como relevo representando
assistentes que a ajudaram a bem morrer, portando caldeira com hissope e livro
de Salmos.
Capela-mor:
Há uma diferença entre a confecção da talha da capela-mor em relação a
dos altares laterais, de pelo menos 30 anos. Foi executada pelos
entalhadores Jerônimo Félix Teixeira e Felipe Vieira entre
1756/68. Entre 1770 e 1772, sob convocação do Conde de Valadares, teve que
ser pintada e policromada através do esforço conjunto das
irmandades dessa matriz que finalizaram as obras, às custas da suspensão
dos gastos com festividades. É flagrante a influência do Rococó no
conjunto da talha da capela-mor, através da assimetria dos elementos
decorativos, presença da rocalha, predomínio da decoração fitomórfica,
presença discreta de figuras angélicas não obstante as colunas salomônicas,
próprias do Joanino. Salienta-se ainda que a renovação das capelas-mores
foi comum às igrejas paroquiais em meados do XVIII.
Os quatro
painéis ovais existentes nas ilhargas representam os apóstolos São Pedro e
São Paulo, os doutores Santo Ambrósio e São Gregório Magno. A autoria
é desconhecida.
Por sua vez,
a pintura do barrete, representa nas extremidades os quatro evangelistas, com
os seus sinais distintivos: João (a águia), Mateus ( o anjo), Lucas (o
touro) e Marcos (o leão). Contém também os quatro doutores da Igreja em
cartelas próprias: Santo Agostinho, Santo Ambrósio, São Gregório Magno e São
Jerônimo. Como decoração simbólica o cordeiro místico, os martírios da
Paixão, atributos papais e os Mandamentos da Lei de Deus. É atribuída a
Lourenço Petriza, datada de 1833.
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