O
Outro
Como
decifrar pictogramas de há dez mil anos,
se nem sei decifrar minha escrita interior.
Interrogo signos dúbios e suas variações caledoscópicas,
a cada segundo de observação.
A verdade essencial é o desconhecido que me habita
e que a cada amanhecer me dá um soco.
(Carlos
Drummond de Andrade)
O
que nos somos interiormente não é carne, nem sangue,
nem osso, nem hormônio.
O filosofo e poeta Rubem Alves diz, numa linguagem psicanalítica,
que o nosso corpo tem dois lados: um deles se abre para aquilo
que Freud denominou de “princípio da realidade” – as coisas do
mundo exterior, acessíveis a todos. O outro se abre para um outro
mundo ou para o mundo de um “outro” estranho, tal como no poema do
Drummond. O inconsciente é isso, esse “avesso” do corpo, que a
cada amanhecer nos dá um soco. O universo interior é muito,
extremadamente mais belo que o que existe do lado de fora. A música,
a poesia, os quadros, a escultura, o cinema, todos eles são criaturas
do inconsciente. É nele que moram as emoções, a alegria, a
tristeza, a bondade, o sofrimento. Tem o nome de alma.
Exprimir
a vida é o que a mineira Tânia Anaya realiza com seus filmes. O
cinema é pura linguagem em que se manifesta o esforço de Tânia a
fim de expressar do modo mais belo, original e perfeito as suas emoções.
Esse avesso do corpo de Tânia, transformado em filme, consiste
num momento de felicidade decorrente do acordo entre o pensamento e
a sensibilidade, de
uma nova beleza. Então é uma busca de beleza o que
ela anseia. Tânia e seus projetos de filmes não merecem ser
abandonados às darwinianas leis de mercado. Essa forma de arte merece
apoio.
ÃGTUX
Este
é um projeto de cinema de co-autoria entre os índios Maxacali e a
cineasta Tânia Anaya,
com o apoio das Leis de Incentivo à Cultura: Estadual (MG) e
Municipal (BH)
que permite ás empresas, através de renúncia fiscal do ICMS e/ou
ISSQN o financiamento deste projeto cultural.
ÃGTUX
significa contar história
ÃGTUX
é um projeto de cinema incomum pois concretiza a co-autoria entre índios
e “brancos”. É um filme e uma parceria. Não é um documentário,
tampouco um desenho animado infantil – o que não significa que as
crianças não podem vê-lo. É um filme que conta uma história notável
dos Maxacali. A história de um mito. E os mitos atravessam as
barreiras geográficas, históricas e etárias porque são estruturas
essenciais para o pensamento humano
O
cinema brasileiro tem um papel fundamental na história da arte e na
formação da nossa própria identidade,. Nós brasileiros, por
exemplo, sabemos mais sobre a conquista do oeste americano do que a
nossa própria história. Sabemos sobre os índios Apache, Navajo e
Sioux e nada sabemos sobre os Krenak, Maxacali, Xacriabá e Pataxó,
que ainda vivem em Minas Gerais.
Os
maxakali não falam o português. Mas as suas imagens e sons falarão
no Japão, no Canadá, na Alemanha, em Portugal, e principalmente no
Brasil. Os Maxakali poderão falar sem a barreira da língua, e contar
algumas histórias importantes para eles e para nós. Isso talvez
atraia um olhar de maior respeito para o povo Maxakali. E com justiça,
pois eles têm muito a oferecer. E a receber.
Os
Maxacali habitam o vale do Rio Mucuri,
região
nordeste de Minas Gerais, desde tempos imemoriais. É o único povo
monolingue da região sudeste. Com uma população superior a 800
pessoas, preservam de forma surpreendente sua cultura tradicional,
apesar dos 300 anos de contato com a sociedade nacional. Suas pequenas
aldeias são construídas em torno da Casa de Religião, mantêm vida
ritual intensa, que mobiliza toda a comunidade. Vivem basicamente da
caça, pesca, coleta de frutos e raízes e desenvolvem uma agricultura
incipiente. Enfrentam atualmente gravíssimos problemas de sobrevivência,
pois seu território original foi reduzido a um meio ambiente
degradado, com pouca cobertura florestal e poucos mananciais de água.
ÃGTUX
Curta
metragem em desenho animado
35 mm
12 minutos
direção
Tânia Anaya
E Índios Maxakali
Argumento
Baseado no mito narrado pelos Maxacali
Myriam Martins Álvares
Roteiro
Tânia Anaya
Produção
Tânia Anaya
Kleber Gesteira Matos
Rua
Espírito Santo, 935, ap 1.202, Centro
Belo Horizonte – MG cep 30160-031
Tel (31) 226 6678 – fax (031) 274 5091
Tânia
Anaya
Formada
em Artes Plásticas e Mestre em artes (cinema) pela Universidade
Federal de Minas Gerais. Realizou três filmes curtas-metragens em
desenho animado: MU, Balançando na Gangorra e Castelos de Vento -
premiado pelo 1º Concurso de Projetos Para Filmes
Curtas-Metragens do Ministério da Cultura, em 1997, e também
na 25ª Jornada de Cinema Íbero-Americano da Bahia, em
Salvador, 1998, com o Tatu de Ouro para melhor filme de cinema de
animação. Trabalhou como animadora no filme Os Salteadores de Abi Feijó
(Portugal). Realizou vinheta (35 mm) para Absolut Vodka.
Realiza trabalhos de animação para publicidade, autorais,
institucionais, ministrando oficinas e organizando mostras de cinema
de animação em Belo Horizonte.
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