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BELO HORIZONTE

Antonio de Paiva Moura

Belo Horizonte surge como uma cidade que visa colocar o homem diante de sua existência, ao contrário das cidades da antigüidade que eram a morada dos deuses, a exemplo da Acrópole em Atenas. As cidades medievais contemplavam os representantes de Deus na terra, como os papas e sacerdotes. Com o Renascimento, a cidade moderna preocupou-se com o desenvolvimento do comércio,  com a circulação das mercadorias e com o bem estar do homem.

Belo Horizonte, como uma cidade moderna, localiza o homem em contato com o outro onde as praças cumprem esta idéia junto com as grandes avenidas. Libertá-lo das ruas estreitas, dos becos das cidades coloniais, as cidades antigas onde o homem tinha no máximo o seu quintal. Então Belo Horizonte surge como um espaço contemplando o homem, preocupando-se com o seu bem viver.

A escolha do sítio da cidade de Belo Horizonte, feita no início da era republicana,  foi marcada por disputa entre duas correntes políticas majoritárias: a liberal, cujo ideal era de um completo aproveitamento da natureza, ou seja, ela deveria ser sacrificada em nome do progresso, e a conservadora, que pensava a supremacia da natureza sobre o homem.

A visão positivista, base em que se estruturou o planejamento da cidade, idealizava o progresso científico como meta do homem do homem racional. O traçado da cidade concentrou quatro grandes avenidas se cruzando em seu ponto geométrico: a praça Raul Soares. Um traçado em xadrez sobreposto das ruas dá um caráter científico e funcional da cidade, onde até a nomeação das ruas contempla a história e a geografia do país.

O arquiteto José de Magalhães, escolhido para planejar as edificações da Praça da Liberdade e da nova capital, havia visitado a Feira Internacional de Arte e Indústria em 1878. Traz para seus projetos várias novidades como o uso do metal nas construções, muitos deles importados da Europa. Ele criou soluções para os problemas de mão-de-obra, como a falta de especialistas para edificações monumentais. Assim, construiu edifícios menores com espaço maiores entre um e outro. Adaptou materiais como o uso do estuque, que é uma massa de cimento com gesso, para ajudar na composição das cantarias e os decorativos na composição dos edifícios, assim como trouxe da Europa uma novidade arquitetônica que é foi  a art-noveaux.


Palácio da Liberdade

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Poema Praça da Liberdade
Paulo Augusto de Lima

PALÁCIO DA LIBERDADE

O Palácio da Liberdade é uma edificação que representa o anti-colonialismo, com a idéia do novo clássico, uma reação ao barroco na arquitetura. O frontão do palácio está contemplado com uma alegoria da estátua da Liberdade de Nova Iorque onde se encontra um frontão triangular lembrando o classicismo e o iluminismo. A platibanda é uma novidade. A forma de cúpula da clarabóia significa busca  da luz para iluminar o interior do edifício. O arquiteto traz o frontispício de um edifício francês. José de Magalhães afasta o edifício do plano da rua para dar lugar aos jardins, uma reação a arquitetura colonial que não deixava espaço para o jardim. As portadas são em arcos plenos sendo a única obra construída em pedra lavrada. O uso de ferro nas portadas e escadarias segue o modelo europeu, sendo importadas da Bélgica.


Palacete Dantas
Praça da Liberdade

PALACETE DANTAS

O Palacete Dantas é uma edificação eclética estilo que em Minas Gerais encontrou espaço na arquitetura. Este fato pode ser explicado pelas características geo-históricas de Minas Gerais que sempre recebeu diversas influências na sua origem como sociedade. Além do aspecto de sete fronteiras com outros estados, Minas viveu característica peculiares na sua formação.

A   colonização  criou  a  possibilidade  do   convívio intercultural   entre  brancos,  negros  e   índios, em que pese privilegiar   explicitamente como modelo a cultura  barroca. Em Minas viviam mais de cem tribos indígenas com caráter próprio quando da corrida ao ouro. Mais de sessenta etnias diferentes no que toca aos africanos que aqui chegaram. Ocorreram combinações motivadas  pelo convívio  diário em meio racial e social diversificado. É  do diálogo entre o modelo  europeu  e  da  experiência   americana  fragmentada  em  suas   tradições  ancestrais  que vai brotar uma reconceptualização do  que, na  origem, foi apenas uma cultura ditada por Portugal. Isto resultou de um diálogo  entre diferentes grupos étnicos que amadureceram seus elos  para configurar-se,  posteriormente, como um fenômeno  estético  conhecido   como   Barroco, que em Minas ficou diferenciado em relação a outras regiões brasileiras. Então colher influências e reconceptuar é da tradição mineira.

Assim, o ecletismo é a acumulação e assimilação de diversos estilos numa só edificação. Elementos como os tambores que ladeiam a fachada do Palácio da Liberdade pode ter influência árabe. O prédio da Secretaria da Viação tem elementos barrocos nos decorativos e ornatos. O interior da Secretaria de obras tem vitrais no estilo  neo-gótico.


Palacete Episcopal - Praça da Liberdade
 

Edifício Niemeyer

EDIFÍCIO NIEMEYER

Oscar Niemeyer tem dois projetos situados na Praça da Liberdade: o edifício residencial e a biblioteca pública,  esta de linhas retas. O Edifício Niemeyer, entretanto, contempla nas suas curvas, nas suas sinuosidades, as montanhas mineiras, mas também dois  aspectos do barroco: as curvas e contracurvas e o ilusionismo na medida em que nos engana com a altura do prédio: parecem vinte andares quando na realidade são  apenas oito.


Secretaria da Segurança - Praça da Liberdade

SECRETARIA DE INTERIOR E JUSTIÇA

O edifício também guarda certo aspecto ilusionista: as colunas dão uma idéia de grandiosidade mas são apenas decorativas, não têm a função de sustentar o edifício. Elas também contribuem para a idéia de harmonia que é da estética clássica. O construtor parece querer também fazer uma alegoria da harmonia com o ideal da justiça. A justiça é reta! A presença do eclético estão nas colunas jônicas, janelas e arcos plenos, janelas com vesgas retilíneas.


Secretaria da Viação - Praça da Liberdade

SECRETARIA DE VIAÇÃO E OBRAS PÚBLICAS

As tendências ecléticas resultantes dos anseios de renovação que agitavam o período de construção das edificações públicas no entorno da Praça da Liberdade, estão presentes neste prédio. Janelas com elementos clássicos estão juntas a frontões cortados por elementos que sugerem o barroco. O uso de ferro e vidro na decoração de fachadas e interiores é o indicativo de adesão ao espírito da art nouveau na arquitetura.

 


Secretaria da Fazenda - Praça da Liberdade

SECRETARIA DA FAZENDA

Um conjunto de formas na fachada do prédio revelam a idéia do ecletismo, tanto nos elementos decorativos, tanto nos elementos arquitetônicos. As janelas estabelecem o elemento de maior observação: as do primeiro pavimento estão em arcos plenos, enquanto no segundo andar elas são quadradas com frontões triangulares. Acima da portada principal surge uma rocalha, algumas volutas e um decorativo que sugere o barroco feito de cimento e gesso. As portas de ferro vieram da Bélgica. Os blocos laterais visam dar  equilíbrio e harmonia. O telhado é de metal importado. No todo a edificação abre espaços laterais e tem a frente afastada da rua numa oposição ao barroco.

 


Secretaria de Educação - Praça da Liberdade

SECRETARIA DA EDUCAÇÃO

A arquitetura deste prédio é uma organização de idéias buscando expressar símbolos. Assim as colunas e seus capiteis são signos: o do primeiro pavimento é cubico, significando a intelectualidade, o cálculo, o raciocínio, a razão, a lógica. O capitel do segundo pavimento é jônico, com suas ondulações, representando o feminino. Na cúpula a lembrança do globo aberto buscando significar a universalidade da educação. Nisto tudo vai a marca do ecletismo com as diversas tendências decorativas aplicadas numa mesma construção.

CENTRO TURÍSTICO TANCREDO NEVES

O Centro Turístico, também conhecido como Rainha da Sucata, é um projeto do artista Eolo Maia. Percebendo que a Praça da Liberdade abrigava na sua arquitetura diversas épocas, sendo uma síntese da história de Minas, edifica o que se chama pós-moderno. Constrói buscando expor os materiais produzidos pela industria de Minas: a cerâmica, o cimento e o ferro, alem de compor diversas lembranças dos prédios da Praça, estando presentes a cúpula da Secretaria da Educação, os cubos art decoux do Palácio do Bispo, os triângulos frontais da Secretaria da Fazenda e do Palácio da Liberdade, constituindo uma obra interessante e instigante.


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