Cult'uais VenhameVERDEperto UniVLERCidades Revista d'As Minas Gerais Pesquisa Editoria d'As Minas Gerais Livro de Visitas
Norte de Minas
NORTE DE MINAS

A tradição do fazer no Norte de Minas

--------------------------------------------------------------------------------


A poesia das mãos do norte-mineiro

Antonio de Paiva Moura

O povoamento da região vem dos primórdios da mineração do ouro e do diamante. Sabe-se que entre os ibéricos havia um preconceito contra o trabalho manual. Por isso a administração colonial passou a permitir o afluxo de famílias de origem hebraica na região. No começo do século XVIII os descendentes de judeus, chamados cristãos novos ocuparam todo o Norte de Minas com as fazendas agropecuárias, nas quais faziam de tudo: tecelagem, artefatos de couro, móveis e utensílios de madeira e taquara. Na industria caseira fabricavam sabão de coco macaúba, doces, queijo e requeijão, farinha de mandioca e de milho. A produção agrícola englobava milho, feijão, arroz, batata, mandioca e frutas.
O Norte de Minas, durante todo o século XIX tornou-se uma ilha. Sem estradas de ferro e de rodagem; navegação incerta e precária. Esse isolamento permitiu a formação de um universo cultural autônomo, composto de realidades distintas. Com outras palavras, proporcionou a interação entre os valores eruditos e folclóricos de modo a formar uma cultura própria e inconfundível da região. Basta dizer que os seresteiros do Norte de Minas criaram arranjos que contemplam ao mesmo tempo a valsa de Viena e o canto dos vaqueiros. Zé Coco do Riochão associou técnicas artesanais na confecção de violas e violinos com suas próprias composições e habilidades de as interpretar.
A cultura do vaqueiro, do remeiro e da mulher rendeira é que sintetiza o perfil estético e técnico do norte-mineiro. O artesanato de couro começa com a confecção do chapéu. Este é ornado na barbela e na copa. O gibão de campear é ornado com pingentes nas mangas e na barra. Os arreios e as cordas não são simples instrumentos de trabalho. Cabresto, laço e rédea levam graciosas combinações de cores no trançado.
A confecção das canoas é uma engenharia e ao mesmo tempo uma arte. Os barcos são confeccionados de tábua. Além do cuidado técnico para evitar acidentes, os barcos levam à frente, no alto da proa, uma carranca, figura de gesto ameaçador. O casco é calafetado com resinas naturais da região. Pintado com cores vivas o barco artesanal segue seu destino.
As peças de cerâmica, geralmente utilitárias como pote, bilha, farinheira, tanto do Tejuco quanto de Candeal, no município de Januária são de barro branco com ornatos pintados em vermelho. Possivelmente, uma reminiscência da pintura rupestre pré-histórica do Vale do Peroaçu, também no município de Januária.

Antonio de Paiva Moura é mestre em História e professor do UNI-BH





--------------------------------------------------------------------------------

Data:
03/04/2005


Fonte:
www.asminasgerais.com.br