Se tivemos a oportunidade de verificar na Região do Ouro, quatro fases
distintas no Barroco e no Rococó, no decorrer do século XVIII, em
Diamantina isso não é possível. Quando a primeira fase na Região do
Ouro já sofria demolições para dar lugar às reedificações das
matrizes, o arraial do Tijuco começava a ser povoado. Depois da
descoberta dos diamantes (1729), seguem-se as edificações identificadas
com a terceira fase do barroco da região aurífera que se estende até a
época monárquica, com algumas diferenças básicas. O historiador Paulo
Krüger Mourão estranha o fato de Diamantina ser uma cidade cercada de
imensos blocos de pedra e não os utilizar em suas construções.(MOURÃO,
P. K. 1986).
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Diversos fatores explicam essa situação. A taipa de pilão é uma tradição herdada dos árabes pelos portugueses e que revelou eficácia na primeira e na segunda fases do Barroco Mineiro, superada a partir da terceira e da quarta fases. Diamantina guarda uma forte tendência árabe, a partir dos nomes de suas ruas: Macau de Baixo, Macau do Meio e Macau de Cima; o muxarabi da rua da Quitanda; o passadiço da rua da Glória, indicando a reclusão feminina; balcão elevado do Beco da Tecla. O
quartzito é uma rocha metamórfica constituída de grãos de quartzo, ou seja, 80 % de arenitos de quartzo. Desta forma é rocha de fácil decomposição. Daí não ter sido empregada na construção. Hoje, associado ao cimento o
quartzito constitui-se em bom material de construção. Além disso, a utilização da madeira tinha forte tradição na Bahia e esta exerceu forte influência sobre a região de Diamantina.
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Salienta-se ainda o fato de
a população do Arraial do Tijuco, bem como a de todo o Distrito Diamantino ser muito flutuante e pouco sedentária, constituindo-se de funcionários e militares em constantes remoções para outras partes da capitania e da colônia. Este aspecto prejudicava o engajamento dos indivíduos nas organizações devocionais e sociais. Além disso o governo draconiano implantado com o estabelecimento do Regimento Diamantino impunha constantes expulsões de expressivas pessoas do Distrito. Estes
aspectos prejudicaram demasiadamente o desenvolvimento das artes em Diamantina.
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De modo geral as igrejas do Serro apresentam algumas diferenças em relação à Diamantina. Duas torres e frontispício plano. Exceção para a capela de Santa Rita com frontispício poligonal e torre no cento. Conceição do Mato Dentro segue o mesmo estilo do Serro sendo somente a matriz com duas torres e fachada plana. A expansão rural tanto de Serro quanto de Conceição a partir do final do século XVIII e início do século XIX permitiu a fundação de inúmeros arraiais e vilas voltadas para a produção agrícola.
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A madeira exige
aplicação de cor o que combina com a estética barroca de vez que
salienta os contrastes. Faz parte da estética barroca a inovação
constante. A madeira policromada exige constantes reformas e proporciona a
ilusão da novidade.
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Na
terceira fase do barroco do Circuito do Diamante, de 1760 a 1784, a arquitetura
apresenta um caráter bem diversificado, desde os materiais de
construção até o resultado final. As capelas apresentam uma só torre
de um lado da fachada, a exemplo de Carmo, Rosário e São Francisco.
identificadas com a terceira fase do barroco da região aurífera que se
estende até a época monárquica, com algumas diferenças básicas:uma
só torre, muros em taipa de pilão, estrutura de madeira.
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Capela de
São Francisco de Assis - Diamantina.
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Na quarta
fase, da última década do século XVIII até o final da primeira metade
do século XIX, as capelas apresentam uma só torre no centro da fachada
em partido retangular, como a capela do Amparo e a capela da Luz, e em
partido poligonal, como a capela das Mercês, ambas em Diamantina. Essa
última inspirada na capela de N. S. do "O", em Sabará, revela
uma forte conotação com a cultura ibérica, tendo um duplo significado:
o primeiro é que a forma de fachada chanfrada lembra a proa de um grande
barco, coerente com a vocação marítima de Portugal. O segundo é que a igreja
em forma de barco significa a nave que conduzirá as almas dos homens ao
mundo celeste.
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A
primeira e a segunda fases dos retábulos em Diamantina não
apresentam muita diferença com relação aos do circuito do ouro. A nova
catedral de Diamantina guarda exemplos de dois retábulos preservados da
antiga matriz de Santo Antonio, em arquivoltas concêntricas, apresentando
exagero de ornatos fitomorfos, zoomorfos e antropomorfos.
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Retábulo da Matriz em
Diamantina.
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Na terceira fase do Circuito
do Diamante os retábulos se notabilizam e se diferenciam pela
harmoniosa combinação de aplicação de cores e douramento Prevalece o
gosto Rococó pela profusão de rocalhas e suavização das cores; colunas
clássicas imitando o mármore; quebra de ângulos retos com ornatos;
presença do dossel coroando os nichos. Na quarta fase, última década do
século XVIII e primeira metade do século XIX, tentam compensar a
singeleza das talhas com a ênfase no colorido, com substancial mudança
no resultado estético.
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Retábulo da Capela de Nossa
Senhora do Carmo em Diamantina.
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A pintura
da terceira fase em Diamantina difere da sua correspondente na região do
ouro. Enquanto esta se afasta do padrão europeu, a diamantinense continua
mais fiel às técnicas de Andréa Pozzo e do chamado ilusionismo barroco.
Usa mais os elementos arquitetônicos que os efeitos espaciais como ocorre
no teto da capela mor da capela do Rosário e teto da nave da capela do
Carmo. (1778/1784). Essa tendência pictórica permanece no Circuito do
Diamante até a primeira metade do século XIX em face da sobrevivência
da Escola de Soares Araújo, com as modificações que o tempo incumbiu-se
de gestar. (RIBEIRO, M. 1978)
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Detalhe lateral do
forro, Nossa Senhora do Carmo - Diamantina.
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As
fotografias do caderno Sagrado são de autoria de Germano Neto.
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