Guerra dos Emboabas: corrida de ouro e sangue.

O Barroco nas vertentes

O pós-barroco no Campo das Vertentes


Campo das Vertentes: sua origem e sua característica.

Antonio de Paiva MOURA

       Campo das Vertentes: sua origem e sua característica.

       Por que Campo das Vertentes? Certamente, não é só pelo fato de lá nascer e correr fluentemente muitos e muitos rios. Acontece que esses rios contribuem enormemente para a formação de três grandes bacias. Duas de âmbito nacional: O Paraíba do Sul e o São Francisco..A de âmbito internacional é o caudaloso Paraná. Os afluentes do Paraíba do Sul são o Rio Pomba que nasce nas proximidades de Barbacena e o Rio Paraibuna que nasce na Serra do Ibitipoca. Na Serra do Ouro Branco, contravertente do Piranga, nasce o afluente do Rio Grande, importante tributário do Paraná, o famoso Rio das Mortes e o Rio Elvas. No sentido Sul-Norte nascem os rios que vertem para o São Francisco. Entre Conselheiro Lafaiete e Carandai, na Serra da Noruega nasce o Paraopeba. Em Pedra do Indaiá, Serra do Tamanduá nasce o Rio Lambari. O Rio Pará nasce em Desterro.

       A região começa a ser habitada mesmo antes da descoberta do ouro. Em 1701, o taubateano Tomé Portes Del Rei, proprietário de uma fazenda às margens do Rio das Mortes, ponto estratégico de acesso às minas de Caeté, Sabará e ouro preto, criou e obteve o direito de passagem pelo rio, com o nome de Porto Real da Passagem. Toma o nome de Ponta do Morro. Com o aparecimento do ouro logo em seguida (1702), o local passou a ser procurado por enorme quantidade de forasteiros. Em dois anos tomava o nome de Arraial Novo. Recém-empossado no governo da capitania de São Paulo e Minas, de passagem pelo Rio das Mortes, Dom Braz Baltazar da Silveira resolveu elevar o Arraial Novo à categoria de Vila, a quarta de Minas, por ato de 8 de dezembro de 1713, com o nome de São João Del Rei. Homenageia nesse nome o rei D. João V e o pioneiro da região. Quatro meses depois a vila era elevada à condição de cabeça de comarca do Rio das mortes.

       Do início das explorações das jazidas de ouro até o século XIX a região cresceu desordenadamente formando núcleos populacionais próximos. O Arraial Velho depois de emancipado passa a chamar-se São José do Rio das Mortes, em 1860 toma o nome de São José del Rei e hoje Tiradentes, parece ter antecipado ao Porto Real da Passagem na exploração de ouro. Aumentando com rapidez a sua população e a sua produção diversificada Tiradentes desmembrou-se de São João Del Rei em 1718, ultrapassando a sua rival. Durante 71 anos a Comarca do Rio das Mortes só teve dois municípios: São João Del Rei e Tiradentes. De São João Del Rei se emancipa Campanha em 1789 e de Tiradentes se emancipa Itapecerica em 1789, Barbacena em 1791 e Conselheiro Lafaiete em 1790. A comarca era enorme. A partir de Simão Pereira fazia divisa com o Rio de Janeiro e São Paulo, seguia no Sudoeste Mineiro pela Serra da Canastra, divisa com Goiás (hoje Triângulo Mineiro) até Dores do Indaiá na divisa com a Comarca do Rio das Velhas. Daí seguia em direção Leste até Mateus Leme. Desse ponto, em direção Norte margem esquerda do Rio Paraopeba e depois a margem direita do Rio Pomba fazendo divisa com a Comarca de Ouro Preto. De Cataguases a Simão Pereira, pela divisa do Rio de Janeiro fechava o território da Comarca do Rio das Mortes.

       O município de Tiradentes passou a compor grande parte da região metalúrgica, Campo das Vertentes e Alto São Francisco. Municípios como Conselheiro Lafaiete, Barbacena, Itapecerica, Mateus Leme, Betim, Congonhas, Bonfim, Oliveira, Prados e Resende Costa pertenceram a Tiradentes. O município de São João Del Rei atingiu as regiões do Sul de Minas, e Zona da Mata Mineira, tendo pertencido a ele as seguintes localidades: Campanha, Conceição da Barra, Carrancas, Santo Antonio do Rio das Mortes, São Miguel do Cajuru, Ritápolis, Madre de Deus de Minas, Rio Grande, Bom Sucesso, Itutinga, Dores de Campo, São Sebastião da Vitória, Ibertioga, São Tomé das Letras, Campo Belo, Lavras, Três Pontas, Boa Esperança, Juiz de Fora, Rio Preto, Simão Pereira. (COSTA, 1970; 381)

       A notoriedade da região no período colonial não é somente em função da produção aurífera e sua densa população, mas em face da variedade de sua produção; capacidade artesanal de sua população. O inglês John Mawe, que visitou Minas em 1809 e que se encantou com a Fazenda da Mantiqueira, nas proximidades de Barbacena, diz que tudo ali propiciava uma boa experiência agrícola: vasta planície, solo fértil banhado por numerosos cursos d´água podiam dar 200 grãos por 1. O gado ali é baratíssimo. Na Borda do Campo podia-se contemplar um são e viçoso linho, dando corte de três a quadro vezes no ano que era preparado, fiado e tecido em casa. "Na vizinhança de São João Del Rei (...) há uma singular espécie de pinheiros, de cuja casca transuda muita goma resinosa. (tinta para tecido) A madeira é de um belo vermelho escuro, cheia de nós e excessivamente dura. (...) Cultiva-se um pouco de algodão, que se fia à mão e com o qual se fabrica panos grosseiros para os negros; algumas vezes fazem dele panos mais finos para mesa. As senhoras de São João Del Rei gostam muito de fazer renda e são consideradas mais cuidadosas com cousas do lar do que as das outras cidades" (MAWE, J. 1922; 133) Por causa de seus vales férteis e de clima ameno as colinas do Campo das Vertentes transformaram-se, ainda no século XVIII, no celeiro de cereais de Minas. Saint-Hilaire descreve com entusiasmo as mais raras espécies de árvores frutíferas, como pêssego, marmelo, maçã e uva que eram cultivadas na região, além de trigo e centeio. Na memória histórica da capitania de Minas Gerais, atribuída ao engenheiro José Joaquim da Rocha o narrador diz que no ano de 1778 São João Del Rei, cabeça da comarca, situada em terreno plano e agradável era abundante em caça e gado. Na mesma época reluta o desembargador João Teixeira que "a comarca do Rio das Mortes é a mais vistosa e a mais abundante de toda a capitania em produção de gado, hortaliça e frutos ordinários do País, de forma que além da própria sustentação, provê a toda a capitania de queijo, gados, carne de porco". (ROCHA, J. J. 1897; 468) Observa Carrato que ad cedes dos dois municípios da região, São João e São José Del Rei, ficavam mais perto do Rio de Janeiro, centralizando as atividades do Sul da Capitania; tendo acesso muito próximo ao Caminho Real pôde usufruir das três maiores praças comerciais da Colônia. "A comarca, que nunca dependera demasiadamente da mineração, supera com certa galhardia a crise econômica que se abateu sobre a Capitania, principalmente depois de 1780". (CARRATO, 1968; 263) À medida que se agravavam os sintomas da crise do ouro, foram-se igualmente intensificando as atividades rurais para exportação, especialmente nas vertentes do Rio Grande, ou seja, banda são-joanense da Comarca do Rio das Mortes. A banda de Tiradentes, as vertentes do São Francisco, voltava-se mais para o abastecimento da própria Capitania. O Rio de Janeiro, principalmente após a vinda da Família Real, passou a importar mais da região. Assinala Carrato que a balança de mercado era favorável à Comarca do Rio das Mortes, de onde saíam toucinhos, queijos, algodão em rama, tecidos, chapéus de feltro, bois, bestas, galinhas, barras de ouro, açúcar, couros e fumo.

       O poderoso senhor Inácio Correa de Pamplona, um dos delatores da Inconfidência Mineira foi o colonizador do lado franciscano do Campo das Vertentes. De sua luxuosa fazenda em lagoa Dourada passa como mestre de campo, no mesmo estilo de seu conterrâneo Raposo Tavares, a atuar nas cabeceiras do São Francisco e no Triângulo Mineiro, na Picada de Goiás. Dornas Filho diz que Pamplona, em 1806 requereu o prêmio de delação que deveria ser: "o hábito de Cristo para si e para seu filho, o padre Inácio; a administração e usufruto dos dízimos da freguesia e Termo de Tamanduá (Itapecerica) para seus filhos; a administração do subsídio literário das vilas de São José e São João Del Rei; a administração e usufruto da passagem do São Francisco" (DORNAS FILHO, J. s/d) Barbosa completa dizendo que Pamplona alegava que suas reivindicações tinham mérito no fato de ter-se empregado no decurso de quarenta anos em franquear e povoar o dito continente, tendo feito seis estradas nele; desfez quilombos, desbaratou o gentio e animou os povos a estabelecerem-se naquele dito continente. (BARBOSA, W. A. 171; 121) Em Oliveira registra-se também a participação e interferência do inconfidente Padre Toledo e de Pamplona, que antes da delação eram amigos. No povoado de Nossa Senhora de Oliveira encontrava-se o padre Miguel Ribeiro da Silva, benquisto do povo e construía a capela local. Em 1780, padre Toledo, então vigário de São José do Rio das Mortes (Tiradentes) nomeou um protegido de Pamplona para a função de capelão, o padre Manoel Pacheco Lopes e para o descontentamento do povo, a obra da capela foi interrompida. Trocou-se um sacerdote de virtudes por um padre devasso que humilhou o povo e encobriu seus crimes. (BARBOSA, W. A.1971; 120) Não menos complicada foi a história paroquial de Tamanduá (Itapecerica) Embora distante da matriz de São José do Rio das Mortes, o padre Toledo queria continuar assistindo aquela freguesia e entrou em luta contra o bispo de Mariana. Associado a Pamplona o padre Toledo provocou a destituição do padre Gaspar Alves Godim, nomeado pelo bispo de Mariana. (BARBOSA, .1971; 125)

       Observa Carrato que depois da Inconfidência Mineira ocorreu uma verdadeira diáspora em Minas em que os povos das regiões auríferas se espalharam em migrações internas para os extremos da Capitania A região Sul era tomada quase inteiramente pela Comarca do Rio das Mortes. (CARRATO, J. F. 1968; 218) No século XIX, especialmente após a Independência, verifica-se uma substancial mudança na região. O crescimento econômico gerou expansão para outras regiões da Província. Contribuiu também com a mudança da fisionomia da região os constantes desmembramentos com criação de novos distritos, municípios e comarcas. A região Campo das Vertentes contribuiu para a colonização da Zona da Mata no século XIX. Para lá migraram as experientes e abastadas famílias Junqueira, Ribeiro e Resende. O major Joaquim Vieira da Silva Pinto, nascido em Conselheiro Lafaiete, em 1804, chegou a Cataguases em 1842 onde é hoje o distrito de Sereno e fundou ai a Fazenda da Glória. O coronel José Vieira de R4esente e Silva, nascido em Lagoa dourada, em 1829, fundou e construiu a Fazenda do Rochedo, no município de Cataguases. É atribuída ao Coronel Vieira a iniciativa de elevação do Curato de Meia Pataca à condição de município. O nome de Cataguases foi dado por ele, em homenagem a um riacho do mesmo nome, próximo da casa onde nascera em Lagoa Dourada. (SILVA, 1934)

       O que caracteriza a economia desenvolvida na região é a policultura, a diversificação da produção adotada na época colonial e mantida no período monárquico. No Campo das Vertentes a plantação de café nunca foi monocultura. O fazendeiro tocava lavoura de café, mas mantinha seu engenho de açúcar, aguardente, moinhos, laticínios, criação de suínos, aves, pomares, artesanato utilitário e indústria caseira. O Sul de Minas, a Zona da Mata e a região central de Minas herdaram essa solução e essa vocação campo-vertentista. Francisco Sales que nasceu na região em 1863, foi, na Primeira República, um dos mentores da política do café com leite, que do lado paulista tinha a intenção de privilegiar a monocultura do café e do lado mineiro tendia para a diversificação. Francisco Sales instalou uma propriedade no município de Matozinhos, próximo a Belo Horizonte, onde mantinha uma fazenda mista no estilo da Normandia. Justifica com consciência os benefícios: "A primeira vantagem da fazenda mista está no estrume gratuito para adubar as plantações. Vem em seguida a possibilidade de rotação de pastos e a produção in loco do alimento do gado que faz baixar o custo do leite, da manteiga, do toucinho, dos capados e novilhos de corte; avoluma o lucro na venda dos animais e dos produtos da pecuária. A diversidade das produções assegura, sem dúvida, o equilíbrio econômico da empresa: quando uns produtos estão em baixa de cotação, outros estão em alta". (CARVALHO, D. 1963; 71) Tendo São João Del Rei como centro a região torna-se o carro-chefe da economia mineira atraindo indústria têxtil, extração mineral com alta tecnologia, com a chegada da St. John Del Rei Mining Company, em 1830. Em 1860 foi criado o Banco Almeida Magalhães. Em 1878, com subscrição própria de 4 mil contos de reis levantados por empresários da região, começam as obras da Companhia Estrada de Ferro Oeste de Minas. Com 100 quilôme3tros de extensão essa ferrovia ligou o sítio onde é hoje a cidade de Antonio Carlos a São João Del Rei, inaugurada em 1881, por Dom Pedro II. Mas tarde, já século XX, essa ferrovia se estende pelas vertentes do São Francisco até o Estado de Goiás, seguindo a velha trilha aberta por Anhanguera, há dois séculos.

       Com relação à história política a região foi palco, cenário e elenco de memoráveis lutas de caráter nacional, desde os primórdios do ciclo da mineração. O desfecho final da Guerra dos Emboabas no triste e célebre "Capão da Traição", à beira do Rio das Mortes, em São José Del Rei (Tiradentes). Com o desmembramento da capitania de São Paulo e Minas e definição da fronteira entre elas, em 1720, quinze anos depois o governador de São Paulo, Luiz de Mascarenhas tentou estender sua jurisdição até o município de Campanha no Sul de Minas. Graças à atuação firme da Comarca do Rio das Mortes, o intento paulista não se realizou. No ocaso da mineração aluvial, São João e São José Del Rei participaram de forma efetiva da trama revolucionária da Inconfidência Mineira, nas ações de Joaquim José da Silva Xavier, Inácio Alvarenga Peixoto, Bárbara Heliodora, Padre Carlos Correia de Toledo, Resende Costa (pai e filho), Padre José Custódio Dias. Em 1808, um grupo de cidadãos da Comarca do Rio das Mortes assinou manifesto de apoio à elevação do Brasil à sede da monarquia portuguesa com D. João VI. Em 1822 os campo-vertenenses foram os primeiros de Minas a publicarem um documento de adesão à Independência, citando Montesquieu em defesa da liberdade dos cidadãos. Em 1833 São João Del Rei foi sede do governo mineiro dando posse ao vice-presidente da província, Bernardo Pereira de Vasconcelos, até que fosse debelada a sedição militar que, em Ouro Preto, depusera o presidente Manuel Inácio de Melo e Souza.

       Em 1842 os liberais ganharam as eleições sendo as bancadas de Minas e de São Paulo as mais expressivas. D. Pedro foi elevado à condição de maioridade para começar a governar. Imediatamente, premido pelas forças conservadoras dá o golpe e dissolve a Câmara dos Deputados e as Assembléias Provinciais. As forças liberais de São Paulo e Minas pegam em armas para exigir de D. Pedro II a volta à normalidade e à legalidade. Os mineiros reuniram-se primeiramente em Barbacena e foram-se organizando com a nomeação do presidente interino da Província. Em seguida transferiam o centro do movimento para São João Del Rei. As demais câmaras da região como Itapecerica, Oliveira, Tiradentes, Barbacena e Conselheiro Lafaiete aderiram-se imediatamente. O episódio mais cruento da revolta foi em Conselheiro Lafaiete. Os soldados da Guarda Nacional de Queluz e os recrutas civis, em 26 de julho de 1842 venceram as tropas legalistas, entrincheiradas no adro da matriz de Nossa Senhora da Conceição. Quando partiram para Santa Luzia para enfrentar o exército de Caxias, todas as demais regiões de Minas estavam coesas com as câmaras do Campo das Vertentes. Padre Marinho narra com minúcia a forma como esses contatos e adesões foram conseguidos numa província tão ampla e de difícil acesso como Minas Gerais. (MARINHO, 1977; 143)

       No Movimento Republicano Mineiro destaca-se principalmente a participação dos políticos de Barbacena a exemplo de Antonio Carlos Ribeiro de Andrade que desde 1886 aderiu ao Partido Republicano. Salienta-se também a atuação do jornal "O Mineiro", que circulava por toda a região trombeteando palavras de ordem do Movimento Republicano e promovendo eleição de deputados republicanos. Na vida política republicana a região tem uma história notável com participação de figuras proeminentes como Francisco Sales, as famílias Resende, Andradas, Bias Fortes e Neves.

       Referências bibliográrficas

BARBOSA, Waldemar de Almeida. A decadência das minas e a fuga da mineração. Belo Horizonte: UFMG, 1971.

CARRATO, José Ferreira. Igreja Iluminismo e escolas mineiras colônias. São Paulo: Nacional, 1968.

CARVALHO, Daniel de. Francisco Sales: um político de outros tempos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1963.

COSTA, Joaquim Ribeiro. Toponímia de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1970.

DORNAS FILHO, João. O povoamento do Alto São Francisco.

MARINHO, José Antônio. História do movimento político de 1842. Belo Horizonte: Itatiaia: São Paulo: USP, 1977.

MAWE, John. Viagem ao interior do Brasil. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1922.

ROCHA, José Joaquim da. Memória histórica da capitania de Minas Gerais. Revista do Arquivo Público Mineiro. Ouro Preto, ano II, 1897.

SILVA, Arthur Viera de Resende. Genealogia dos fundadores de Cataguases. Rio de Janeiro: Coelho Branco, 1934.

Antonio de Paiva MOURA é mestre em História. 
Professor de História do UNI-BH e Escola Guignard - UEMG 


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Guerra dos Emboabas: corrida de ouro e sangue.

Antonio de Paiva MOURA

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       No final do século XVII e no começo do século XVIII, o açúcar atravessou uma grave crise devido à concorrência de Barbados, de maneira que a descoberta das minas encontrou uma ressonância favorável entre os elementos quase arruinados, que viram nelas o meio de recuperar a prosperidade que o açúcar não mais lhes proporcionava. Rocha Pitta informa que as primeira levas de povoadores provinham justamente da zona açucareira. "O ouro das minas do sul foi a pedra imã da gente do Brasil e com tão veemente atração, que muita parte dos moradores das suas capitanias, principalmente da Bahia correram a buscá-la levando escravos que ocupavam em lavouras, posto que menos ricos para ostentação mas necessários para a vida, se a ambição dos homens não trocara quase sempre o mais útil pelo mais vão. Da sua ausência se foi experimentando a falta na carestia dos víveres e mantimentos, por haverem ficado desertas as fazendas que produziam" (PITTA, S.R, 1976; 241)

       A notícia do descobrimento do ouro correu com velocidade atraindo grande contingente populacional para o território compreendido pelas comarcas de Ouro Preto, Rio das Velhas, Serro Frio e Demarcação Diamantina no centro do atual Estado de Minas Gerais, onde foram surgindo, nas margens dos córregos e rios, os caminhos, as capelas, vendas, roças, arraiais, termos e vilas. Associada à atividade mineradora surge a população dos criadores de gado nas margens do Rio São Francisco. Os primeiros foram os paulistas que desde o final do século XVII e nas duas primeiras décadas do século XVIII, se espalharam por todas as partes à procura de novas jazidas superficiais de ouro. Os baianos foram os primeiros competidores dos portugueses mas acabam perdendo a batalha que culmina com a mudança da capital para o Rio de Janeiro. Os paulista eram os filhos de portugueses nascidos no Brasil que seguiam os ideais europeus do usufruto da natureza. Antes da descoberta do ouro já haviam explorado a escravização de índios e eliminado o Quilombo dos Palmares. Os forasteiros já eram cada vez mais numerosos, vindos especialmente de Portugal, procedentes, na maior parte, da região de Braga. Não eram bons mineradores. Dedicavam-se mais ao comércio. Conforme relatório da época, "neste estado se achavam as minas, correspondendo o rendimento ao custoso trabalho dos mineiros com rendosas conveniências, aumentando de cada vez mais o concurso dos negócios e do povo de várias partes e maiormente de Portugal, entre os quais vieram muitos que, sendo mais ardilosos para o negócio, quiseram inventar contratos de vários gêneros para, mais depressa e com menos trabalho, encherem as medidas a que aspiravam da incansável ambição, como foi um religiosos trino, Frei Francisco de Meneses". (Códice Costa Matoso, 1999; 192) Os primeiro aglomerados não chegavam a formar arraiais em face do nomadismo dos exploradores. As primeiras capelas também são provisórias, sem vigários, em situação anárquica, como registra o códice Costa Matoso: "Não se divida que entre tantos bons havia alguns maus, principalmente mulatos, bastardos e carijós, que alguns insultos faziam, como os mais fazem ainda nas corte entre a Majestade e as Justiças, quanto mais em um sertão onde, sem controvérsia, campeava a liberdade sem sujeição a nenhuma lei nem justiça a natural observada dos bons". (Códice Costa Matoso. 1999; 193) Os portugueses chegam determinados a expulsar os paulista e ocupar o espaço; impor o monopólio comercial a todos os produtos consumidos na região mineradora. Com eles vieram muitos cristãos-novos. O choque maior foi contra os paulistas e em seguida com as próprias autoridades do rei. (CARRATO, 1968; 4) Nessa situação caótica a administração portuguesa tentou sustar o fluxo de forasteiro que de todas as partes do Brasil, da Península Ibérica e de outros países se encaminhavam para Minas Gerais em busca de riquezas, responsáveis pelo extravio do ouro na forma de contrabando. Proibiu aos estrangeiros de irem às conquistas de Portugal ou morarem nelas. Em 1707 reforça essa proibição determinando que todos os estrangeiros deveriam, sem remissão, ser despejados da terra. "A presença desses estrangeiros parecia nefasta porque viriam eles a fazer o seu próprio comércio, que era dos naturais do Reino". (HOLANDA, 1968; 277) Se a Coroa quis privilegiar os reinóis reservando a eles o privilégio do comércio, foram eles os principais responsáveis pelo descaminho do ouro e do diamante; Os reinóis queriam por vocação permanecer nas orlas do mar mas ao mesmo tempo dominar os negócios e as riquezas do interior.

       O sítio preferido pelos portugueses era o Rio de Janeiro. O primeiro governador-geral, Tomé de Souza, em visita às capitanias do Sul, mostrou-se encantado com as belezas do Rio de Janeiro, prevendo para o local "uma honrada e boa tanto mais quanto, ao longo da Costa, já não há rio em que entrem os franceses senão neste, e tiram dele muita pimenta". (HOLANDA, S B. 1963; 126) Pimenta é símbolo de bons negócios, de negócios rendosos e fáceis. Tomé de Souza, de volta do Sul permaneceu longo tempo no Rio de Janeiro, chegando a Salvador somente no final de seu mandato. Progressivamente o Rio de Janeiro vai tomando de Salvador os poderes de capital. Essa ideologia de privilégios comerciais centralizados em uma cidade talhada para o mesmo fim, não se dissolveu com a atividade mineradora. Concentrada na Capitania do Rio de Janeiro, grande quantidade de portugueses e seus descendentes fluminenses migram-se para a região das minas. Relatório de um viajante francês anônimo, de 1703, observa que a descoberta das minas provocou um grande desequilíbrio econômico na capitania do Rio de Janeiro, com milhares de habitantes deixando as plantações desertas e tudo reduzindo à penúria em que se debatia então o resto do Brasil. "Se esses dez mil homens que antes se dedicavam, quase todos, a cultivar a terra, não desamparassem suas habitações, permaneceria ali a abundância que fazia a sua verdadeira riqueza. Em conseqüência do afluxo para as terras mineiras, a farinha de mandioca se já era cara na Bahia, desaparecera do Rio ou era vendida a preços fabulosos". (HOLANDA, 1968; 280) Os paulista são mais numerosos que os fluminenses. Com sua escravaria atuam na lavoura, na mineração e na criação de animais de carga. Não eram mais bravos que os portugueses como Raposo Tavares, mas tinham o sangue ameríndio. Nas bandeiras aprenderam com os indígenas a se defender das intempéries e as ações bélicas. Sabiam combinar as armas dos europeus com as dos índios. A corrida para as minas chegou despovoar parte de São Paulo.Os nordestinos, antes da descoberta do ouro já vinham circulando no território das minas. Relatório anônimo de 1705 informa que pelo Rio São Francisco "entram os gados de que sustenta o grande povo que está nas minas de tal sorte que de nenhuma outra parte lhe vão nem lhe podem ir os ditos gados, porque não os há nos sertões de São Paulo nem nos do Rio de Janeiro". (ABREU, C. 2000; 159) Reinóis, fluminenses, baianos e pernambucanos misturavam-se no léxico Emboabas, e se identificavam pela reivindicação de privilégios comerciais. Holanda diz que a sedução dos negócios altamente rendosos, incluídos neles os de contrabando, serviu, provavelmente, para povoar Minas Gerais. No início a lavoura não despertou atenção, alem do desinteresse governamental por ela. (HOLANDA, 1968; 281)

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       A posse das minas havia sido garantida aos paulistas pela carta régia de 18 de março de 1694, exigindo dos proprietários o pagamento do quinto devido à Fazenda Real. Em 1700 a Câmara de São Paulo solicitou da Coroa portuguesa não doar datas de terras na região das minas a não ser para os moradores da Vila que tanto sacrifício tinha sido para os descobridores. O rei remeteu o documento ao governador do Rio de Janeiro, Artur de Sá Meneses para que ele opinasse, mas recomendava ao mesmo que não concedesse data alguma de terras de sesmarias, limitando-se a faze-lo em relação às terras aurífera, na forma do regimento do governador. Este regimento irritava os paulistas porque privilegiava os forasteiros portugueses. Numerosos ricos e importantes mercadores do Rio de Janeiro conseguiram grandes doações, com protesto de Garcia Rodrigues Pais, folho de Fernanão Dias Paes. Na opinião de Golgher as reivindicações dos paulista eram descabidas uma vez que eles não dispunham de capitais para investimentos em tecnologia e não dominavam o mercado externo, nem condições de abastecimento. Nas minas só venciam aquele que conseguia arrancar mais ouro dos ribeiros, nada valendo ser um fidalgo, comerciante ou agricultor. Ali todos transformavam-se em mineradores, simplesmente. A mineração era niveladora social no sentido democrático. O bandeirante, embora insubstituível na penetração, não foi o tipo ideal para a atividade mineradora, completamente falho para a exploração pacífica. (GOLGHER, 1982; 51)

       Por outro lado, também os portugueses não estavam preparados. Agiram às cegas, sem obedecer a qualquer traçado prévio. Observa Golgher que desde os primeiros anos do século XVIII até a Independência do Brasil, nunca houve plano administrativo. Somente no início do governo de Pombal houve uma tentativa de racionalização administrativa sem ter chegado a termos práticos. Os problemas que vieram à tona estavam acima de capacidade dos quadros governamentais geridos por Lisboa. A carestia e a falta de braços, eram supridas pelo êxodo das populações do campo. Surgiram grandes e próximos núcleos urbanos que em face do alto poder aquisitivo proporcionaram o aparecimento de um enorme mercado consumidor, sobre o qual os portugueses qu4eriam ter monopólios, gerando descontentamentos generalizados. Proibiram tudo: abertura de caminhos; migrações internas; comércio de escravos de outras regiões que não a do Rio de Janeiro. "Para resolver um problema puramente econômico, o Estado feudal português pôs em funcionamento seu aparelho governamental de repressão, convocando os delatores a dividirem com a Fazenda Real, os bens daqueles que iam por em pleno funcionamento as minas que deveriam quintos para a coroa. Essas medidas absurdas não eram de caráter provisório que visassem apenas atender a uma emergência; tiveram elas papel estorvante por muito tempo e sua influência negativa no desenvolvimento da Colônia" (GOLGHER, 1982; 54) Como reinava a desconfiança com relação aos governos de capitanias, a Coroa resolveu criar uma Superintendência das Minas, em 1703, gerida diretamente pelo rei, concedendo ao superintendente poderes extremamente amplos. O primeiro superintendente foi o desembargador José Vaz Pinto que teve mais poderes que qualquer outra autoridade governamental existente na Colônia: acumulava os poderes de efetuar negócios; administração, justiça, polícia e fiscal. Estava acima dos governadores de capitanias. Os poderes do superintendente Vaz Pinto anularam os paulistas, colocando em prática o Regimento das Minas vindo de Lisboa. Próprio de uma época de despotismo esclarecido o legislador tentou diminuir os conflitos latentes na região mas não preveniu quanto ao facciosismo dos superintendentes. No dizer de Golgher, entregaram ao gato a proteção do rato. "Com efeito, o pobre, esbulhado, nada podia esperar da proteção do superintendente ou guarda-mor. Isto, na realidade era um engodo, mormente quando consideramos a estrutura social-econômica da mineração sob o domínio dos paulistas, que se alicerçava em castas privilegiadas. Não podia, conseqüentemente, o homem do povo, contar com a justiça que o Estado lhe oferecia". (GOLGHER, 1982; 63) O homem vindo da Península Ibérica, mesmo que lá, pobre, desvalido e discriminado, na região das minas foi protegido tornando-se homem de brio e lutador pelos seus direitos e por isso, muitas vezes pegou em arma. Ocorre que as autoridades régias faziam e desfaziam suas próprias resoluções para desfrutar de vantagens na mineração. Outro fator que contribuiu para a discórdia e para a exaltação dos ânimos entre paulistas e forasteiros foi a luta do português Frei Francisco de Menezes, aliado de Nunes Viana, para obter o monopólio da carne de gado, sob protesto dos paulistas. O governador do Rio de Janieoro, ao negar o monopólio levou em consideração o excessivo preço da carne bovina, o que constituiria na extorsão das gentes famintas da região.

       Em 1705 o superintendente Vaz Pinto, inesperadamente, deixou o cargo e fugiu para o Rio de Janeiro. Aproveitando-se da situação caótica, o guarda-mor tenente general Manoel de Borba Gato usurpou o cargo assumindo a Superintendência das Minas. Começa a dar atenções aos paulistas sob protestos dos emboabas, a exemplo de uma carta do rei de Portugal dirigida ao governador do Rio de Janeiro, de 17-06-12705: Fui informado que nas Minas do Sul há grandes desordens não só a respeito dos quintos pertencem à Fazenda Real mas ainda na justa distribuição das datas e repartição das mesmas minas, procedendo daqui tantos escândalos e excessos que merecem se lhe aplique o maior cuidado para se quietarem (...) chamado à nossa presença os moradores nobre e principais daquele distrito obedeçais da minha parte fazendo-lhe ver a minha carta. (...)" (GOLGHER, 1982; 73/74) No último ano que precedeu a guerra aberta entre as duas facções (1708) a situação ficou muito tensa, com muitas mortes. Nos relatos de Rocha Pitta os paulistas reagem com violência à expansão do poderio português. Tiveram princípio as dissensões no arraial do Rio das Mortes, por uma que fez um paulista tirania e injustamente a um forasteiro humilde: que vivia de uma agência. Desta sem razão, alterados os outros forasteiros e desculpavelmente enfurecidos solicitaram a vingança da vida de um e da ofensa de todos.(PITTA, S. R. 1976; 142) Ao mesmo tempo ocorreram novos distúrbios em Caeté onde os filhos bastardos do paulista José Pardo mataram um português, refugiando-se na casa do patrão, sendo perseguidos pela multidão. Diante da resistência de José Pardo à entrega dos homicidas, a multidão invadiu a sua casa e o matou. O incidente entre Jerônimo Pedrosa de Barros que respondia pela alcunha de Jerônimo Poderoso, aliado a Júlio César tentaram tomar de um forasteiro a sua espingarda. A resistência dos forasteiros em não entregar a arma mereceu a intervenção de Manoel Nunes Viana. (C. COSTA MATOSO, 1999; 197) Derrotados, os paulistas recorreram a Borba Gato, superintendente das Minas e tio de Jerônimo Poderoso, para tentar a expulsão de Nunes Viana da região das minas. Em bando de 1708 Borba Gato intimou Nunes Viana a deixar as minas em 24 horas, alegando que ele havia praticado comércio ilegal de gado. Nunes Viana não se intimidou com as ameaças de confisco de bens contidas no bando e passou a mobilizar forças. Conseguiu organizar um contingente de dois mil homens. Os paulistas de Caeté se refugiaram em Sabará, enquanto Nunes Viana era aclamado chefe do levante e general das Minas. Foi constituído um governo com sede em Caeté, tendo como chefe o português Manoel Nunes Viana e os demais cargos distribuídos aos baianos. As primeiras medidas dos emboabas foram no sentido de anular a ação dos paulistas, enquanto estes buscavam forças no governo da capitania do Rio de Janeiro.

       As lutas por interesses e privilégios nas minas desagradavam a Coroa de vez que prejudicavam tanto a produção mineral quanto a arrecadação de tributos. A população ficava prejudicada com a escassez de com a carestia, principalmente de alimentos. O governo da capitania do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas, Dom Fernando de Lancastre, continuava se desgastando pois todas as medidas tomadas provocaram descontentamentos de ambos os lados. Neste ambiente, os paulistas dos arraiais de Sabará, Raposos, Rio das Velhas e Roça Grande resolveram isolar o reduto Emboaba em Caeté. Nunes Viana atacou de surpresa os paulistas fazendo incendiar as suas casas. Muitos paulistas foram feitos prisioneiros e outros fugiram a nado pelo Rio das Velhas. Os Emboabas vitoriosos promoveram a eleição de Manoel Nunes Viana como governador de Minas até que o rei viesse a nomear outro (PITTA, 1976; 242) Apesar de Nunes Viana ser português e fidalgo, contrariava os interesses de Lisboa que não queria que as riquezas das minas se escoassem via Bahia. O Rio de Janeiro era o escoadouro preferido, onde os novos ricos, com toda segurança, deveriam embarcar para a Ibéria. Por isso Dom Fernando de Lancastre tentou afastar os emboabas e retornar os paulistas não ao mando, ao poder, mas ao papel de gestor de produção. Retiraram-se os paulistas para o Rio das Mortes, onde se prepararam para a defesa. Nunes Viana mandou forças para destruir-lhes sob o comando de Bento do Amaral Coutinho enquanto os paulistas tinham como chefe Valentim Pedroso de Barros. A primeira investida sobre São José Del Rei, (hoje Tiradentes) foi favorável aos paulistas. Mas ao se dispersarem em pequenos grupos pelas matas, possibilitaram a tropa de Bento do Amaral Coutinho efetuar emboscadas nas matas. Um desses capões de mata foi cercado por Coutinho que garantiu aos paulistas poupar-lhes as vidas mediante entrega das armas. Acreditando nas promessas de Coutinho os paulistas depuseram as armas e em seguida foram eliminados pelos emboabas.

       A historiografia tem oferecido amplas e controvertidas informações sobre esse episódio chamado "capão da traição". Se os testemunhos da época torceram a veracidade dos fatos em favor das facções envolvidas, não temos hoje o interesse de um julgamento no qual aponte os menos ou mais malvados na contenda. Ambos os belicosos estavam dispostos a matar os adversários na defesa de seus interesses. A literatura que narra o fato com toda a paixão tem funda razão: a mais sólida é a que os portugueses muniam-se da tradição do enriquecimento por meio de chumbo e pólvora, como fizera Raposo Tavares no século anterior. O português Rocha Pita, contemporâneo do fato, defende Manoel Nunes Viana e condena com veemência o comandante Bento do Amaral Coutinho. "Estranharam este horrendo procedimento as pessoas dignas que iam naquele exército, e não quiseram mover as armas contra os rendidos, afeando aquela maldade, imprópria de ânimos generosos e católicos, e ainda das mesmas feras, que muitas vezes se compadecem dos que se lhes humilham. Porém as de ânimo vil e os escravos, disparando e esgrimindo as armas, fizeram nos miseráveis paulistas tantas mortes e feridas que deixaram aquele infeliz campo coberto de corpos, uns já cadáveres, outros meio mortos, ficando abatido e fúnebre o sítio pela memória da traição e pelo horror do estrago; e com estas bizarrias cruéis voltou o Amaral vilmente ufano com o seu destacamento para o lugar donde saíra" (PITTA, 1976; 243/244)

       O governador do Rio de Janeiro, Dom Fernando de Lancastre, resolveu ir a Minas, em 1709, passando pelo Rio das Mortes e tomando o caminho para Congonhas, onde se encontrava Nunes Viana. Correu a notícia de que o governador castigaria Nunes Viana o que o fez receber Lancastre com hostilidade. Sem forças o governador voltou humilhado para o Rio de Janeiro. A Metrópole nomeou um outro governador para o Rio de Janeiro, Dom Antonio de Albuquerque Coelho de Carvalho, com instruções especiais para a pacificação do território mineiro. Intimado a comparecer à presença do novo governador, Nunes Viana prestou-lhe submissão, retirando-se para as suas fazendas do São Francisco. O novo governador visitou outras localidades e tomou diversas medidas administrativas. Providenciou a criação da Capitania de São Paulo e Minas, pela carta régia de 11 de julho de 1711, desmembrando-se do Rio de Janeiro. A nova capitania teve como primeiro governador o próprio Antonio de Albuquerque, que logo após a sua posse partiu para Minas, onde criou os primeiros municípios: Mariana, Ouro Preto e Sabará. O governador encontrava-se em São Paulo para impedir que os paulistas marchassem para Minas de arma em punho. Como parte do entendimento devolveu aos paulistas as suas jazidas auríferas e pôs fim à Guerra dos Emboabas. (MATTOS, O. N. 1963; 306) A partir daí os paulistas vão perdendo as posições e os papéis em Minas. Como queriam os portugueses, são pesquisadores de novas jazidas, ajudam a ampliar o território de Minas Gerais e descobrem as minas de Goiás e Mato Grosso. Mas a Metrópole reserva aos portugueses o poder e os serviços burocráticos; as atividades rendosas como a agricultura de subsistência nas proximidades das minas; o comércio e o abastecimento; o transporte e a pecuária.

       BIBLIOGRAFIA

CARRATO, José Ferreira. Igreja, iluminismo e escolas mineiras coloniais. São Paulo: Nacional, 1968.

CÓDICE, Costa Matoso. Coleção das notícias dos primeiros descobrimentos das minas na América que fez o doutro Caetano da Costa Matoso sendo ouvidor geral das do Ouro Preto, de que tomou posse em fevereiro de 1749 & vários papéis. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1999.

GOLGHER, Isaias. Guerra dos Emboabas: a primeira guerra civil nas Américas. Belo Horizonte: Conselho Estadual de Cultura, 1982.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. A instituição do Governo Geral. In: História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo DIFEL, (1) 1963

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Metais e pedras preciosas. In: História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo: DIFEL, (2) 1968.

MATTOS, Odilon Nogueira de. A Guerra dos Emboabas. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de (org). História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo: DIFEL, 1963.

PITTA, Sebastião da Rocha. História da América portuguesa. (1730). Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: USP, 1976.

Antonio de Paiva MOURA é professor do UNI-BH. 


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O Barroco nas vertentes


Antonio de Paiva MOURA



       Nos dois núcleos centrais do Campo das Vertentes: São João Del Rei e Tiradentes, a rigor, não há diferença dos demais centros auríferos da Capitania. Isto porque os mesmos artistas se interagiam e o mecenato era quase sempre o mesmo. É certo que temos estabelecidas as áreas de influência seguindo a trajetória das comarcas, tendo as cidades sedes como centro irradiador. Desta forma, Ouro Preto até o final do século XIX ainda influenciava toda a área central do Província e Zona da Mata. São João Del Rei estende sua influência pelo vale do Paraopeba, Sul de Minas e Campo das Vertentes. Sabará influencia todo o Vale do Rio das Velhas e Alto São Francisco. Serro se mistura com a Bahia no Alto Jequitinhonha e Alto Rio Doce. Paracatu ligada ao bispado de Pernambuco tem suas peculiaridades e influencia no Triângulo Mineiro e no Alto Paranaíba. Mas o Campo das Vertentes, principalmente na terceira fase do Barroco Mineiro, segunda metade do século XVIII, quando se forma uma escola artística à base de mulatos, ligou-se inteiramente à esfera de Ouro Preto. A quarta fase do Barroco Mineiro vai se estabelecendo nas vilas e cidades que surgem no último quartel do século XVIII e se estende para o século XIX, a exemplo de Itapecerica, Oliveira, Conselheiro Lafaiete, Barbacena, Prados, Lagoa Dourada, Entre Rios de Minas e Resende Costa.

São João Del Rei

       Das primitivas capelas devocionais, ao tempo início do povoamento e da fundação do arraial Porto Real da passagem, já não existem. Na verdade são raras as cidades históricas de Minas que preservam tais edificações. Já da segunda e da terceira fases do Barroco Mineiro, encontram-se bem preservadas.

       Matriz de Nossa Senhora do Pilar (Catedral)

       A antiga edificação iniciada por volta de 1700 cedeu lugar à atual, com planta de Francisco de Lima Cerqueira. A fachada com três portadas, sendo a central maior que as laterais fazendo triangulação, conforme risco de Manoel Vitor de Jesus. Ao nível do coro harmonizando com as portadas, no plano superior, 5 sacadas em caixilhos de vidro com guarda-corpo de pedra. As torres cúbicas conferem ao templo idéia de grandiosidade. O frontão triangular em linhas retas harmoniza e simplifica o visual da fachada. No tímpano do frontão, um cordeiro de pedra, símbolo da Irmandade do Santíssimo Sacramento.

       Os retábulos com colunas torsas, ornadas com elementos fitomorfos e antropomorfos, douramento farto e vivo. O arco cruzeiro é sustentado por cornija que se prolonga pela nave. Ao longo da nave, próprio das matrizes, instalam-se sete alta4res laterais, contemplando as devoções da antiga paróquia.

       A pintura do forro da Nave já sai da quadratura do caixotão e esboça uma técnica do ilusionismo de perspectiva, na abóbada de berço. Nossa Senhora ao centro de uma coroa de rosas e figuras de anjos, esplendidamente iluminada por raios solares em contraste com as cores quentes dos ornatos e panejamento. A virgem inclina-se em diagonais e tudo é movimento. Da base da abóbada partem figurações humanas, elementos arquitetônicos e ornatos abstratos apontando em perspectivas para a figura central do painel.

       Igreja de Nossa Senhora do Carmo

       Data da construção: de 1734 a 1824. Em 1774 a irmandade contratou os serviços de Francisco Lima Cerqueira para reformar o que já estava edificado. Cerqueira nada aproveitou do que existia, modificando por completo a fachada e a estrutura do templo. Portada harmoniosa, projetada e executada por Aleijadinho. Torres pentagonais com arremates piramidais e intensa movimentação; janelas com caixilhos de vidro e vergas ricamente ornadas com cimalhinha de pedra. Frontão recortado em curvas e contra-curvas; óculo coroado por rica cimalha de pedra-sabão.

       No interior, retábulo de Manuel Rodrigues Coelho. Os altares laterais, extremidades do arco-cruzeiro, em colunas torsas douradas como as de São Francisco de Assis da mesma cidade; arcos plenos e arremate com dossel; estilo fora de tempo, ou seja retrocedente ao das matrizes. O altar-mor, em colunas lisas e brancas lembra a talha de Francisco Antonio de Lisboa, quase homônimo de Aleijadinho e pintura de José Soares de Araújo, no altar-mor da também Igreja do Carmo de Diamantina. A diferença é que em Diamantina a intenção é o fingimento de mármore, enquanto em São João Del Rei o decorador procura a simbologia da alvura, da clareza e da pureza. Já em pleno século XIX busca o gosto rococó ou neoclássico.

       O inglês George Grimm pintou dois quadros das paredes laterais da capela-mor.

       Igreja de São Francisco de Assis

       O projeto arquitetônico datado de 1744, foi modificado por Aleijadinho. As torres cilíndricas ligeiramente flexionadas para trás; cimalha de pedra-sabão em curva abraça a fachada e as torres fazendo relevo sobre o óculo. É a marca de Aleijadinho como na sua co-irmã franciscana de Ouro Preto. O medalhão da fachada e o Senhor no Monte Alverne do tímpano do frontão são de Aleijadinho.

       No interior, os dois primeiros altares, extremidades do arco-cruzeiro são de Aleijadinho. O altar mor que havia sido riscado por Aleijadinho foi modificado por Francisco Lima Cerqueira que retrocedeu à fase anterior aproximando-se ao estilo de retábulos da matriz: colunas torças, ornatos antropomorfos e fitomorfos. No memso altar registra-se a presença da curiosa figura da Senhor de Monte Alverne, de autor desconhecido, conforme lenda corrente.

       Igreja de Nossa Senhora das Mercês

       Trata-se de devoção de mulatos que nasciam forros e que se dedicavam às artes e ao artesanato. Possivelmente a antiga capela (de 1751) tenha sido demolida para dar lugar à atual, construída na no século XIX, A pintura do forro é de artista desconhecido. A pintura em telas é de Ângelo Biggi.

       Igreja do Senhor do Bonfim

       Embora tenha sido edificada no século XIX a Igreja do Bonfim parece voltar à capela da primeira fase: uma só torre ao lado da fachada.

       Igreja de Nossa Senhora do Rosário

       A primitiva capela de 1719 foi demolida. Sucessivas reformas na segunda construção a desfiguraram completamente.Turres cúbicas com arremates em pirâmides e pináculos. Duas pilastras de pedra lavrada, cimalha de pedra com óculo ao meio. Porta triangulando com as janelas. Frontão em curvas e contra-curvas.

       No interior um lavabo da sacristia é de Antonio Francisco Sarzedo.

Tiradentes



       Embora a freguesia tenha sido criada em 1724, tem-se informação sobre a construção da matriz somente a partir de 1736. (FALCÃO, E. C. 1946; 36) Há uma certa confusão entre a capela de Santo Antonio do Canjica e igreja-matriz que também é de Santo Antonio.

       Matriz de Santo Antonio

       O início da construção data de 1710 Passou por reforma radical adaptando sua fachada à escola barroca mineira com risco de Aleijadinho, conforme recibo de 1810. Portada com verga ricamente ornamentada, com um medalhão de pedra-sabão que a liga ao óculo; duas janelas em caixilhos de vidro triangulando coma a portada. Frontão movimentado em volutas; torres cúbicas despontando em cúpulas. O acesso ao adro que é protegido por uma balaustrada de pedra é feito por duas escadas de pedra em curvas.

       O interior mantém os estilo das matrizes. Retábulos ornados com ouro, com cimalha arrematada em volutas, dossel em esplendor de ouro, autoria de João Ferreira Sampaio, que terminou em 1733. Do mesmo autor são as paredes da capela-mor. Os muros laterais da capela-mor são de João Batista Rosa. Pedro Monteiro, muito atuante na região, trabalhou nos retábulos laterais da igreja e no couro onde se localiza o órgão, em 1740.

       Graciosas guirlandas de flores pendem do teto por onde se instala órgão. As flautas e seus adjuntos foram adquiridos de Simão Ferreira Coutinho na cidade do Porto. Veio embalada até o registro de Matias Barbosa. Os entalhes das caixas e dos adornos foram feitos em Tiradentes por Antonio da Costa Santeiro. A pintura do órgão é de Manoel Vitor de Jesus. (SANTOS FILHO, O. R. 1977; 16)

       A Colunas torças cujas aspirais são entremeadas com elementos fitomorfos. O nicho do altar-mor é coroado por um dossel.

       A pintura do forro é em caixotões quebrados em ângulos por três blocos. Salienta-se o exagero de ornatos que emolduram as cenas prevalecendo a intenção de ostentar o luxo e o encantamento.

       Igreja de N. S. do Rosário

       Construção em granito, frontão em volutas salientes; portada também em granito, em estilo maneirista.

       Altar mor de refinada talha policromada em colunas torsas e arremate em dossel estilizado. O ecletismo verificado nesse altar é próprio da última fase do barroco mineiro. Bastante acentuado em Tiradentes.

       A pintura do teto da capela-mor: "Nossa Senhora entregando o Rosário a São Francisco e a São Domingos". (SANTOS FILHO,. 1977; 17)

       Igreja de Nossa Senhora das Mercês

       Construção em taipa de pilão, posterior a 1769, data da criação da irmandade. Essa técnica muito empregada nas regiões de Ouro Preto e Serro, na primeira metade do século XVIII, mas foi superada em face da abundância e proximidade do granito. A fachada se inscreve em uma quadratura formada por duas pilastras e a cimalha de pedra. Duas janelas fazendo triangulação com a portada, ambas de vergas curvas. Frontão em curvas arrematado por pináculos de pedra.

       Altar-mor em talha dourada e policromia. Mostra a madona de braços abertos contemplando o esplendor.

       O teto da capela-mor de Manoel Vitor de Jesus, que sendo da quarta fase do Barroco mineiro, busca inspiração em elementos da ladainha de N. Senhora, própria da primeira fase.

       Igreja de São João Evangelista

       A construção data de 1760. Fachada prolongada pelo frontão. Duas pilastras rematada por pináculos. A portada faz triangulação com duas janelas de vidraças e vergas em curvas. A amplo óculo pentagonal em vidraça.

       Notável os painéis com motivos dos quatro evangelistas, de autor desconhecido, do final do século XVIII, coerente com as técnicas dos pintores da quarta fase do Barroco mineiro. A título de curiosidade, comparamos este trabalho ao de Silvestre de Almeida Lopes, pintor do final do século XVIII no painel "Os quatro evangelistas", no Santuário do Bom Jesus de Matozinhos, em Conceição do Mato Dentro.

       Santuário da Santíssima Trindade

       Planta simples, com risco do polivalente Manoel Vitor de Jesus, construída de 1810 a 1822 Período mais agudo de decadência da mineração, Sobressaem os santuários do Bom Jesus, como em Congonhas do Campo, Santo Antonio do Bacalhau (Piranga) Conceição do Mato Dentro e aqui em Tiradentes, na capela da Santíssima Trindade. Fachada com porta almofadada, com ombreiras e vergas curvas . Na altura do couro, duas janelas envidraçadas em harmonia com a portada. As duas pilastras e a cimalha formam uma quadratura encimada pelo frontão em curvas. O adro é fechado por um muro de pedras e portão de ferro.

       O altar-mor, sem entalhe, abriga imagem do Pai Eterno em tamanho natural. Os altares do arco-cruzeiro são de policromia grosseira como de praxe no avançar do século XIX.

       Capela de São Francisco de Paula

       Outra curiosidade: esta capela lembra a fachada da Igreja do Rosário de Conceição do Mato Dentro. A fachada é prolongada lateralmente por duas janelas rasgadas de cada lado, com guarda-corpo de madeira. Nas fachadas laterais dois vãos com sinos. A diferença é que em Conceição do Mato Dentro as fachadas laterais flexionam-se para trás dando movimento curvo no frontispício. Em Tiradentes o frontispício é chapado.

       Capela de Senhor Bom Jesus da Pobreza

       Porta única e duas sacadas com guarda-corpo de madeira e vergas curvas. Pilastras de madeira e pintura em vermelho.

Prados



       Matriz de Nossa Senhora da Conceição

       Obras iniciadas em 1715. Alvenaria de pedra revestida de argamassa e cunhais de cantaria. No amplo frontispício quatro pilastras de pedra da base até a cimalha. Frontão em amplas volutas, vazado por óculo. Acima da portada única, janelas com sacadas. Duas torres cúbicas arrematadas por pináculos.

       O forro da capela-mor contém painel de pintor desconhecido, conferindo com a arte praticada em Tiradentes no século XVIII, especialmente Manoel Vitor de Jesus. Nas laterais da capela-mor pinturas "ceia" e "bodas", guardam traços de discípulos de Athayde e de Manoel Vitor de Jesus. Na pintura do teto da nave, Cristo em uma extremidade, o nascimento e o evangelista em outra.

       Como nas demais matrizes, esta ostenta dois altares laterais dedicados a outras devoções e outros dois no arco-cruzeiro. O estilo da talha os tipos de osrnatos dos retábulos do arco-cruzeiro conferem com os estilos da quarta fase do Barroco mineiro, aproximando-se do gosto rococó. (VALE, . 1985)

       Capela de Nossa Senhora do Rosário

       O risco da fachada compreende duas pilastras de madeira e cimalha. Portada única com duas sacadas e guarda-corpo de madeira; vergas curvas brancas contrastando com o vermelho dos muros.

       Igreja de Nossa Senhora da Penha

       Localizada no povoado de Vitoriano Veloso, no município de Prados. O nome da localidade foi dado em homenagem ao inconfidente alferes e alfaiate que exerceu sua profissão no Gritador, conhecido até hoje como Arraial do Bichinho. Consta ter sido iniciada a construção da igreja em 1732, cuja fachada foi finalizada em 1771, sendo bastante simples como as igrejas-matrizes da época. Porta de verga reta; duas janelas envidraçadas; frontão separado da fachada por uma cornija e arrematado por pináculos.

       No interior, o forro da nave e da capela-mor, bem como os ornatos dos púlpitos são atribuídos ao grande pintor de São João Del Rei e Tiradentes, Manoel Vitor de Jesus, na primeira metade do século XIX. Nos tetos da capela-mor e da nave pintou painéis representando a vida de Cristo.

       O altar-mor em estilo D. João V, trabalhado com talha dourada, ladeado por nichos. Os dois altares laterais são mais modestos, predominando o branco como no altar-mor da Igreja do Carmo de São João Del Rei. (CARRAZONI,. 1987; 251)

Oliveira



       Matriz de Nossa Senhora das oliveiras

       Antes de 1790 a nave já estava concluída. Porém a última torre só ficou terminada em 1856. Em 1880 foi construída a capela-mor pelo arquiteto português Antonio da Silva Campos. (FONSECA, 1961) A fachada é bastante movimentada no limite de duas pilastras e a cimalha. Esta partindo em reta de cima das sacadas e curvando-se no contorno do óculo. A portada é encimada por um nicho que se harmoniza com o óculo. Frontão em curvas e contra-curvas arrematado por pináculos. As duas torres cilíndricas ultrapassa em muito o frontão, denotando uma certa assimetria.

       O painel do teto da capela-mor, embora não se conheça seu autor, está em perfeita identidade com a escola dos mulatos mineiros. Abóbada de berço, pintura em perspectiva. As figuras de clérigos, santos e elementos arquitetônicos apontam para o centro do painel em direção à madona. A perspectiva espacial se faz com os tons claros nublados.

Matriz de São Braz



       Matriz de São Braz

       Doação do terreno 1728. Construção em 1750. Mestre de obra José Pereira dos Santos.

       Pintura da capela-mor assemelha aos discípulos de Athayde a exemplo de Xavier Carneiro, São Braz ao centro elevado por efeitos de figurações e elementos arquitetônico.

       Retábulos típicos da quarta fase do Barroco mineiro em transição para o neoclassicismo. Mistura de douramento com policromia, arrematados por dossel; fingimento de mármore.

Entre Rios de Minas



       O povoamento de Brumado do Suaçui é do início da colonização no Campo das Vertentes. O arraial que começa com a atividade mineradora, logo depois se associa à agricultura de subsistência. A proximidade com outros arraiais, possivelmente tenha impedido maior crescimento até o século XIX. No censo de Cunha Matos, de 1837 não consta Brumado e sim Olhos D´Água que tem 64 casas e 712 habitantes. A paróquia de Brumado abrangendo um território maior data de 14 de julho de 1832. Em 1875 é criado o município, com o nome de Brumado do Suaçui. A padroeira de Entre Rios é Nossa Senhora das Brotas, que é o mesmo que N.S. dos Olhos D´água. A atual matriz é a terceira edificação. A primeira, uma capela barroca deu lugar à neoclássica que por sua vez deixou o espaço para a atual, de estilo neogótico.

       Capela de Olho D´Água

       O que é notável em Entre Rios é a bela capela de Olhos D´Água, da primeira fase do barroco mineiro, verdade, peça rara, pois as depreciações, depredações e demolições das capelas dessa fase foram constantes. Construída na primeira metade do século XVIII em lugar de certa notoriedade por ser berço das famílias Resende e Freire de Andrade. Além disso a capela localiza-se no interior da fazenda do mesmo nome, pertencente ao potentado Manoel Botelho.

       O frontispício se impõe a partir de duas pilastras de pedra arrematadas por pináculos, acima dos beirais da fachada. Logo abaixo do vértice da empena, um óculo em circunferência marca o frontão simples. A portada, triangulando com duas janelas de vergas em curva. O adro de granito é bastante pesado e tem portão de ferro.

       Os retábulos e púlpito encontram-se muito descaracterizados. No século XIX era muito comum interferências grosseiras de decoradores inexperientes recobrindo a talha original com policromia ingênua. É o que parece-nos ter ocorrido na capela Olhos D´Água.

Antonio Carlos



       Capela da Fazenda da Borda do Campo

       Edificada em pequeno adro, da qual dá notícia de diversos viajantes estrangeiros. Na frente um relógio de sol, o sobradinho para pouso de viajantes. Capela típica da primeira fase do Barroco mineiro, com uma única sineira colocada do lado da fachada. Nave seguida de capela-mor, sacristia e um compartimento lateral. (CARRAZZONI, 1987; 186)

Conselheiro Lafaiete



       Matriz de Nossa Senhora da Conceição

       Segundo Albuquerque a construção teve início em 1709 pelos portugueses e ajudados pelos índios carijós. (ALBUQUERQUE, 1978) Um fato histórico relevante é que essa igreja serviu de quartel no movimento liberal de 1842.

       A fachada está inscrita no limite de duas pilastras de pedra, encimada por uma cimalha que circunda óculo em curvas. A portada de bandeiras almofadada tem verga em curva, fazendo triangulação com duas janelas envidraçadas de vergas curvas. Frontão de pedra em volutas. Torres cúbicas com arremate em pirâmides.

       Altar-mor em arquivoltas concêntricas, colunas torças e ornatos com figuras humanas, florísticas e faunísticas, muito próprias das matrizes coloniais mineiras. O arremate do altar-mor em dossel na figura da arcada superior de tubarão. Graciosa cimalha de intenso movimento arremata as colunas. Como matriz abriga outros altares laterais ao longo da nave.

       Capela de Santo Antônio

       Inicialmente o espaço dessa capela estava destinado aos devotos de Ne. S. do Rosário. Como os homens pretos não tiveram condição de iniciar a construção os portugueses devotos de Santo Antonio, através do capitão Manoel de Sá Tinoco que requereu ao bispado de Mariana a autorização para a ereção do templo, em 1751. (ASSIS, W. B. 2002) A fachada é emoldurada por duas pilastras de madeira arrematada por pináculos acima dos beirais. A portada em triangulação com as janelas é de verga em curva. As janelas são de guilhotina com caixilhos de vidro. A cimalha lisa de madeira fecha o quadro da fachada. O frontão, na moldura da empena forma um triângulo vazado por óculo e encimado por torre única, de telhado achinesado. A madeira e a taipa de pilão conferem com as técnicas das edificações religiosas mineiras da primeira metade do século XVIII.

       No interior da igreja, retábulos da segunda metade do século XVIII e início do século. XIX.

Barbacena



       Igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade

       O início da edificação é de 1743. Risco original de José Fernandes Pinto Alpuim, notável arquiteto de importantes obras oficiais em Ouro Preto e Mariana. Do projeto original não constavam as duas torres o que foram projetadas por João de Faria mais tarde. O frontispício apresenta uma composição plana. Portada com trabalho decorativo em pedra, com nicho para a imagem da padroeira. Acima da cimalha de pedra o frontão com arremate em pedra e tímpano vazado por óculo.

       Como matriz abriga 2 altares laterais e dois do arco-cruzeiro, entalhados em madeira e douramento suave. No altar-mor quatro quartelões sustentam cimalha; arremate em arco pleno, rocalhas, curvas e contra-curvas, próprias de retábulos das matrizes mineiras.

       Capela de Nossa Senhora do Rosário.

       Autorizada em 1771 e construída em 1774. (MASSENA, N. 1985) A torre frontal, em estilo neogótico, construída em 1894, isto é 120 anos depois, foi uma interferência grosseira na fachada da capela de vez que prejudicou as duas sacadas ao nível do coro.

Itaverava



       Itaverava é um duplo elo de ligação da divisa entre a região de Ouro Preto e o Campo das Vertentes. Além de uma divisória física ela se coloca também como limite temporal e estético do final da Escola Mineira do Baarroco-rococó, com os últimos trabalhos de Athayde já na terceira década do século XIX.

       Matriz de Santo Antônio

       A matriz foi construída na primeira metade do século XVIII. Em 1768 o vigário Manoel Ribeiro Taboada resolveu fazer a primeira reforma do templo. Já no século XX suas torres desabaram e as substituições não obedeceram ao estilo original. Seu frontispício é constituído por frontão triangular, cimalhas e colunas em massa e duas torres laterais.

       Altares e talhas da época bem conservados. Francisco Xavier Carneiro e companheiro e discípulo mas fiel de Athayde foi o responsável pelo douramento esses retábulos.

       Na capela-mor um painel de Athayde, de 1827. A marca inconfundível do pintor. Aproveita o sentido da abobada de berço do teto da nave da matriz de Itaverava para expressar o ilusionismo perspectivista. No cento a coroação de Nossa Senhora . Acima da cimalha, colunas clássicas apontam para o alto. Figuras bíblicas e clérigos ao meio de guirlandas, rocalhas, arcos e volutas elevam a figura central envolta em nuvens claras. A graciosidade dos ornatos e a suavidade das cores conferem a Athayde o posto de maior pintor da Escola rococó de Minas.

Santana dos Montes



       Matriz de Santana.

       A antiga capela de Santana do Morro do Capeu é uma capela formosa e bem construída com frontispício de pedra e belos cunhais de cantaria. Tem em frente uma elegante escada de pedra e o átrio, que foi em outros tempos cemitério. É todo cercado de muros lajeados por cima. Tem sineira em uma armadura de madeira do lado de fora, a um canto do átrio. (MOURÃO, P.K. C. 1986; 85)

       Seus altares são de bela aparência e de boa talha. A presença de Xavier Carneiro nessa capela reforça a declaração do autor.

       Diz Krüger Mourão: "É uma graciosa capelinha, fundada pelos idos de 1749. Lá por 1751, era um curato filial à Matriz de Carijós. Valoriza esse pequeno templo um painel do forro da nave, representando a Ascensão do Senhor, bem como pinturas murais com cenas do Evangelho. É um trabalho que parece as características do pintor Manoel da Costa Athayde" (MOURÃO, P. K. C. 1986) O autor tinha toda a razão de se confundir pois o painel é do conterrâneo, também mulato, melhor discípulo e companheiro de Athayde, o decorador e pintor Francisco Xavier Carneiro.

       BIBLIOGHRAFIA

ASSIS, Wilson Baeta de. Igreja de Santo Antonio de Conselheiro Lafaiete. Conselheiro Lafaiete: Inédito, 20002.

ALBUQUERQUE, Romeu Guimarães. Apontamentos para a história da cidade de Conselheiro Lafaiete (Antiga Queluz de Minas). Juiz de Fora: Esdeva, 1978.

CARRAZZONI, Maria Elisa (org) Guia dos bens tombados. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1987.

FALCÂO, Edgard de Cerqueira. Relíquias da terra do ouro. São Paulo: Lanzara, 1946.

FONSECA, Luis Gonzaga. História de Oliveira. Belo Horizonte: Fernando Álvares, 1961.

MASSENA, Nestor. Barbacena: a terra e o homem. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1985.

MOUÃO, Paulo Krüger Corrêa. As igrejas setecentistas de Minas. Belo Horizonte: Itatiaia, 1986.

SANTOS FILHO, Olinto de Jesus. Guia da Cidade de Tiradentes. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1977.

VALE, Dario Cardoso. Memória histórica de Prados. Belo Horizonte: Autor, 1985; 343 p.


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O pós-barroco no Campo das Vertentes


Antonio de Paiva MOURA


       Nesta fase de exposição da história da arte mineira dos séculos XIX e primórdios do século XX, apresentamos uma outra metodologia diferenciada da arte barroca por dois motivos. O primeiro é que as artes plásticas se desvinculam da arquitetura em busca de certa autonomia. O segundo é o sucessivo abandono do espaço sagrado e maior comprometimento com o caráter profano. Daí o nosso tratamento em setor ou gêneros artísticos, técnicas e outros aspectos.

       1 - Arquitetura

       Generalizando

       O fascínio que o Barroco exerceu sobre as artes, em Minas, de um modo geral foi enorme. No século XVIII tivemos quatro momentos históricos distintos, com transformações relativamente rápidas. As edificações da primeira fase, ligadas às devoções e confrarias livres, grande quantidade, construídas nos pontos mais altos das vilas e povoados. São pequenas capelas, porém bem assentadas ao chão, com uma cruz no vértice do frontão e uma torre ao lado ou no centro da fachada, como a capela de Santo Antonio, de Padre Faria, em Ouro Preto e N. S. do "O ", em Sabará. A maioria dessas capelas devocionais foi destruída para dar lugar às matrizes, de 1720 até 1740. Continuaram as demolições na fase seguinte com a oficialização das ordens terceiras, de 1760 a 1780 e a demanda dessas por sedes maiores e mais expressivas. O quarto momento do Barroco Mineiro ocorre no final do século XVIII e início do século XIX, acompanha o declínio do ciclo do ouro e a ruralização de Minas Gerais, a exemplo das matrizes Igreja da Santíssima Trindade de Tiradentes, Matriz de Entre Rios, Capela da Boa Morte em Barbacena.

       Ainda no século XIX, na arquitetura vinda da época colonial, foram introduzidas algumas modificações nas fachadas das casas residenciais. As águas dos telhados começaram a ser conduzidas por calhas de folhas de flandres importada. Os beirais encachorrados recebem cobertura de tábua pintada com cores bem definidas. O uso da serra tico-tico ou serra São José, facilita os recortes dos ornatos desses beirais.

       Também no final do século XIX o guarda-corpo de madeira das sacadas começa a ser substituído pela ferragem laminada, ornada em florais. As vergas das janelas flexibilizam-se em variadas formas: arco pleno, triangular, reto, curvo com bico e ogival.

       Neocolonial

       Por todos os quadrantes da expansão territorial de Minas podemos registrar as lembranças das capelas que ficaram no passado. A igrejinha do "O" em Sabará é modelo para a igreja do Rosário de Milho Verde, Santa Rita do Serro, Andrequissé, por todo o sertão de Minas. Em Belo Horizonte a Igreja de Santa Teresa e a Escola Estadual Pedro II,; em Sabinópolis a igreja Matriz; em Sabará a Escola Estadual Melo Viana. São inúmeros os exemplos de edificações com verga em curva, paredes bombeadas, colunas torças e outros caracteres do barroco revividos em plenos século XX.

       Além das capelas que iniciam os povoados, as fazendas dos coronéis do café levam as reminiscências do passado colonial mineiro. Algumas matrizes do século XIX levaram os modelos do barroco, a começar pela Matriz de São Bento em Itapecerica, cujo início da construção data de 1843, iniciativa do cônego Cesário Mendes Ribeiro. A conclusão das torres e instalação dos sinos foi em 1912, já no mandato do padre Juca. O partido arquitetônico e as dimensões são mais elevados que as matrizes do século XVIII. O frontispício com três portadas e três janelas sacadas com guarda corpo de metal. Cimalha de pedra em curva sobre o óculo fecha a quadratura da fachada. O frontão em curvas e pináculos vem acima se movimenta sobre a cimalha. Duas torres cúbicas arrematadas por pináculos e pirâmides.

       Capela de Nossa Senhora da Boa Morte de Barbacena. Data de início da construção, 21 de outubro de 1792. Conforme Carrazzoni, inicialmente não deveria ser de pedra mas de alvenaria lisa, sem cantaria. Com apenas os alicerces concluídos o primeiro projeto foi abandonado. No interior deste foi construída uma capela provisória. As obras definitivas foram retomadas em 1816, sob orientação do mestre pedreiro José Antonio Fontes. Em 1832 estavam concluídas as torres e em 1861 a capela-mor. Em 1871 estavam prontos os retábulos. (GARRAZZONI, M. E. 1987; 188) A trajetória dessa edificação mostra como a cultura barroca estava arraigada na alma dos mineiros.. É incrível como cem anos passados da época de Francisco Lima Cerqueira, Antonio Francisco de Lisboa e Manoel Vitor de Jesus, o gosto artístico deixado por eles sobreviveu até o final do século XIX. O arquiteto prático se incumbe de dar acabamento à capela da Boa Morte onde a fachada principal exibe uma composição dividida por pilastras, cunhais e cimalha dupla em pedra aparente. A portada é de alegre emolduramento em pedra e verga ornada em elementos curvos. Duras torres cilíndricas e frontão movimentado, vazado por óculo. Um templo, com certeza, neo-colonial.

       Matriz de Nossa Senhora da Glória de Passa Tempo. A capela barroca anterior foi demolida. Em 1879 a comissão das obras recebeu em doação um conto de reis do Barão de Bambui para conclusão da obra. (FALEIRO, A. P. S. 1973, 36) Duas pilastras e uma cimalha reta fazem a quadratura da fachada. Portada e sacadas em vergas retas . Frontão triangular vazado por óculo. Torres cúbicas arrematadas por telhado. Em 1914 um grande incêndio destruiu a capela anexa de São Sebastião e as obras de arte do interior da matriz. (FALEIRO, 1973; 37)

       Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Passa Tempo. Construída em 1868. Foi colocada debaixo dos alicerces uma garrafa contendo documentos e assinaturas sobre os benfeitores.

       Solar do Barão de Itambé em São João Del Rei. Janelas de guilhotina com caixilhos de vidro; vergas curvas. Porta almofadada cortando o alicerce. Beiral da fachada em tábua lisa. Beiral lateral em cachorrada.

       Sobrado da família Lustosa, na praça do Rosário, em São João Del Rei. Dois pavimentos. Portas e sacadas envidraçadas; vergas curvas, guarda-corpo de metal batido. Beiral de tábua corrida com calhas e metal.

       Casa na Praça Barão de Queluz em Conselheiro Lafaiete. Seis janelas envidraçadas e portada no meio. Vergas retas, com caixilhos de vidro. Beiral fechado, de tábua, liso.

       Grupo Escolar Francisco Fernandes, em Oliveira. Doado à municipalidade em 1890. No primeiro pavimento, portada com verga curva e janelas de guilhotina com caixilhos de vidro. No segundo pavimento, sete sacadas com guarda-corpo de metal e beirais de tábua corrida.

       Casa na Praça da Matriz em Lagoa Dourada, com janelas de guilhotina com caixilhos de vidro e estucagem em azul e branco.

       Prefeitura municipal de São João Del Rei, rua Ministro Gabriel Passos, construída em 1842. Janelas com vergas curvas.

       Casa do Posto de Saúde, saída da Praça dos Andradas, em Barbacena. Os ornatos em movimentadas ondas e volutas. Assemelha-se à Escola Estadual Pedro II em Belo Horizonte.

       Neoclassicismo

       Ao contrário do Rio de Janeiro que abrigava a Corte Imperial, em Minas Gerais, não havia quase edificação oficial. Porém afluem as fazendas de café e as laticineiras para onde se concentravam as riquezas de Minas, com importação de elementos decorativos como caixilhos de vidros, sacadas de ferro laminado em substituição aos torneados de madeira e o pesado granito. São exemplo marcantes a Fazenda Boa Esperança, no município de Belo Vale, inaugurada em 1924, pertencente ao Barão de Paraopeba. Um verdadeiro palácio rural com a varanda em arcos plenos e colunas clássicas, de frente para um jardim irrigado artificialmente. A Fazenda do Gualaxo, pertencente ao Barão de Alfenas, no município de Cruzília. Dois pavimentos com arcadas de volta inteira, de frente para um lago que espelha o edifício. Do outro lado do lago uma bela ermida representa a devoção da família. A Fazenda Jaguara, inteiramente restaurada com ornatos clássicos. Fazenda do Glória, do major Joaquim Vieira da Silva, em Cataguases, no final do século XIX, sobrado de dois pavimentos, com platibanda maciça e ornatos em estucagem.

       Finalmente, com a construção da capital, onde os modelos clássicos se fazem presentes nas edificações de palácios, secretárias de Estado e residências de altos funcionários do governo, a busca da harmonia de elementos arquitetônicos no equilíbrio das massas. Sem a preocupação de estarem imitando os maneiristas, os arquitetos da nova capital procuravam quebrar a monotonia das edificações intercalando tipos variados de vergas e colunas de pavimento para pavimento do edifício. Soma-se esse neoclássico compósito, a uma variada e eclética massa de ornatos, a exemplo da estucagem em tetos e fachadas, portadas e escadarias de ferro "art-nouveau", resultando no que conhecemos como ecletismo.

       Matriz de Santo Antonio em Lagoa Dourada. Conforme informações do padre José Resende Maia a dependência do lugar a Prados dificultou as informações sobre a edificação. Fachada muito simples. Portada e janelas com arcos plenos e frontão triangular.

       Igreja de Nossa Senhora de Lourdes de São João Del Rei. Grande porte, efeito vertical provocado pela torre única. Portas e janelas de vergas em arcos plenos.

       Teatro de São João Del Rei. Três portadas de arcos plenos. No segundo pavimento sacadas com vergas retas ladeadas por colunas clássicas encimadas por cimalha reta. Frontão triangular cujo tímpano é ornado com movimentado relevo em estuque.

       Edifício da antiga sede do Banco Almeida Magalhães, Lenheiro, esquina da rua Ministro Gabriel Passos, em São João Del Rei. Pilares coríntios da base à platibanda sugerindo harmonia e imponência.

       Câmara municipal de São João Del Rei. Rua Ministro Gabriel Passos. Colunas clássicas e frontão triangular.

       Edifício do Hospital de Entre Rios de Minas. Arquiteto Edgard Nascimento Coelho. Frontispício horizontal. Fachada elevada e extensa platibanda.

       Escola Estadual "Luiz de Almeida" em Conselheiro Lafaiete. O frontispício se desdobra em três elementos harmônicos. A fachada se impõe por uma fileira de colunas jônicas arrematada por graciosa cimalha decorada com estuque. A platibanda é bastante movimentada e arrematada por um frontão triangular. Os dois blocos que ladeiam a fachada flexionam-se para o meio do lote denotando simplicidade.

       Neogótico

       O gosto neogótico ou a volta à estética gótica medieval é um fenômeno europeu que se instala no Brasil com certa lentidão e com quase cem anos de diferença. Para reagir ao racionalismo clássico implantado com o Iluminismo e com a Revolução Francesa, o romantismo apelou para os valores medievais e adotou o estilo gótico como preferência estética. Ao invés da horizontalidade e do geometrismo clássico, os românticos preferem, como Viollet-le-Duc a verticalidade e a elevação espiritual sugerida pelas catedrais góticas. Desta forma, o colégio do Caraça, do começo do século XIX, juntamente com os mineiros, foge da "urbis" e se instala nos penhascos da serra, apontando para o infinito. É isso que a igreja do Caraça indica: verticalidade, como as montanhas de Catas Altas. Podemos dizer que o Padre Júlio Clavelin, arquiteto que trabalhou na reforma do Caraça, cria uma escola que nega as do Barroco e do Iluminismo gerando o Ecletismo que se espalha pelo ampliado território de Minas. Reagindo ao racionalismo neoclássico da construção oficial positivista o clero de Minas tomou o caminho romântico do neogótico nas edificações religiosas. A antiga matriz barroca do Curral del Rei foi demolida e no local edificado um templo neogótico, com torres e agulhas decorativas apontando para o alto. (2)

       A matriz de Nossa Senhora das Brotas de Entre Rios de Minas, para chegar no estágio atual cumpriu três ciclos. O primeiro foi a construção de pequenino templo de caráter barroco em 1832, muito parecida com a capelinha mineira do início da colonização. Na década de 30 do século XX foi construída uma igreja de estilo neoclássico que posteriormente teve seu frontispício todo modificado. Segundo o padre Vanderli Reis, a nova igreja conservou aspectos da antiga. Do ponto de vista estrutural é verdade, mas do ponto de vista estético, seu frontispício foi muito alterado. A horizontalidade e os ângulos retos da edificação anterior cedeu lugar a pináculos, empenas, agulhas e alongamento dando ao templo um visual gótico.
Matriz de Nossa Senhora das Oliveiras (Nova) - Atual Catedral.de Oliveira, Construída em 1929 no lugar da capela de Nossa Senhora do Rosário. Arquiteto Pedro Bax, continuado pelo construtor El-Maluf. (FONSECA, L G. 1961) Torre única e portada única com verga em ogiva. Ao nível do coro duas sacadas com guarda-corpo de pedra.

       Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Lagoa Dourada. Foi edificada no local de antiga capela do Rosário de estilo barroco.

       Igreja de Nossa Senhora das Dores de São João Del Rei. Torre única arrematada por agulhas e pináculos. Vergas ogivais flamejantes.

       Casa residencial, rua Maria Tereza, esquina com Largo da Estação, em são João Del Rei.

       Ecletismo

       O arquiteto José de magalhães (1851/1899) responsável por diversos projetos arquitetônicos na construção de Belo Horizonte, entre os quais o palácio da Liberdade e Secretaria da Educação, na Praça da Liberdade, esteve presente à Exposição Universal de 1878, em Paris, na qual ocorreu o debate arte-indústria, falando da combinação de materiais de revestimento, tijolo, ferro, cerâmica, mosaicos importados em face da ausência de tecnologia, trouxe diversos modelos para Belo Horizonte. Ao mesmo tempo que segue uma tendência harmonizadora própria da arte clássica, Magalhães se inspira no romântico Violet Le Duc, com tendência gotizante. (Nota 1) Desta forma os palácios de Belo Horizonte evidenciam os mecanismos do procedimento eclético de Composição. Coretos e quiosques contemplando a natureza são novidades que Magalhães traz de Exposição Universal. Vale lembrar o quiosque do bosque do Palácio da Liberdade onde os elementos estruturais e ornamentais são em forma de tronco de árvore, cipó, capim e flor. Vale lembrar algumas capelas de estética originalmente barroca que foram edificadas ou reformadas como neo-góticas, a exemplo da matriz de Nossa Senhora das Brotas de Entre Rios de Minas.

       Capela de Senhor dos Passos de São Braz de Suaçui. construída no local da antiga capela de Nossa Senhora do Rosário.

       Igreja de São Gonçalo Garcia em São João Del Rei. Portada de verga ogival e janela em arco pleno.

       Solar dos Furtado-Amaral. Praça Barão de Queluz em Conselheiro Lafaiete, construção do final do século XIX e começo do século XX. (ASSIS, W. B. 2002) Porta com verga em arco pleno, cujo ornato imita uma verga barroca, em estuque. Quatro janelas envidraçadas, em caixilhos de vidro, com vergas retas e ornatos em estuque. O jogo de janelas com a porta harmoniza a fachada da casa. Platibanda fechada sobre cimalha de pedra e ornada com estuque. O arremate da platibanda é uma grande cocalha em estuque.

       Fórum da cidade de Oliveira. Obra do arquiteto prático português, José Fernandes do Couto, vulgo Zé Carapina. Inaugurado em 1º de outubro de 1914. (FONSECA, L. G. 1961) Frontispício horizontal, em dois pavimentos. A fachada é ladeada por dois blocos de duas janelas cada, verticais e de vergas retas. A portada é ladeada por duas janelas envidraçadas. No segundo pavimento, três sacadas com guarda-corpo de metal. Platibanda fechada e arrematada por frontão triangular. As quatro pilastras só estão à vista no segundo pavimento.

       Grupo Escolar Gabriel de Andrade, em Passa Tempo. Construição iniciada em 1930 no governo de Olegário Maciel. Varanda hall de entrada coberta com telha francesa, sustentada por quatro pilastras dóricas e arcos plenos. Platibanda arrematada por três frontões em pirâmides.

       Solar da Baronesa à Rua Deputado Augusto do Carmo em São João Del Rei. Doze sacadas com guarda-corpo de metal corrido. No primeiro pavimento vergas em arcos plenos e no segundo com arcos curvos. Torreão com duas sacadas.

       Casa à rua Marechal Bitencourt n. 50 (ex-rua da Cachaça) Janelas ogivais e de vergas curvas; sacadas com guarda-corpo de metal; frontão arrematado por pináculos.

       Casa à rua Quinze de Novembro em Barbacena, construída em 1929, empena-frontão.

       Casa de Pio Canedo na saída da Praça dos Andradas em Barbacena. Portas e janelas com vergas em ogivas flamejantes e graciosos ornatos em estuque.

       Escola Preparatória de Cadetes do Ar. EPCAR, Barbacena. Fachada com três portadas de vergas em arcos plenos; frontão em volutas. Dez janelas com vergas retas e caixilhos de vidro.

       Casa em Prados. Três janelas frontais com vergas em triângulo e duas bandeiras envidraçadas. Ao nível da empena, sacada com verga também em triângulo e guarda-corpo de madeira. A aba esquerda do telhado se estende sobre a varanda com nas estações ferroviárias. O elemento mais gracioso dessa casa é o beiral em lambrequim de madeira.

       Estações ferroviárias

       As grandes distâncias, a diversificação da produção da província de Minas exigiam um novo meio de transporte: o trem de ferro. Os ingleses são os construtores de ferrovias e acabam provocando um grande impacto de ordem técnica e estética com a arquitetura das estações. As estações são construídas com materiais importados; paredes de tijolos queimados, à vista ou cobertos com argamassas; os telhados prolongados sobre o piso da plataforma e sustentados por grandes mãos francesas; decorados com lambrequins de madeira ou de metal, exibindo ornatos florais e abstratos. Pela novidade e pela funcionalidade o chalé inglês vira moda chegando às residência particulares. Um dos exemplos mais marcantes é a Estação com plataforma nos dois lados é a de Conselheiro Lafaiete Não preservou os lambrequins dos beirais..

       A estação ferroviária está gravada na memória do mineiro. Palco de longas esperas: pelo momento de partir para o além montes; pela chegada de alguém que há muito não se via; pela fortuna material; pela fortuna do amor; pelo barulho inaudito do vapor; pelo apito rouco da maria-fumaça; pelo acenar do lenço branco que lentamente desapareceu na curva do corte; pelo cheiro de maçã do carro restaurante. Hoje, em muitas dessas estações, voltaremos para novas missões e ambições da vida. Como diz Goethe, em "Fausto", tudo que existe acaba. Essa fatalidade dialética nos deixa um consolo: o que acaba deixa sua marca, o gene da continuidade.

       A cronologia de inaugurações das estações ferroviárias no Campo das Vertentes denota a historicidade da região A lavoura de café puxou as linhas e as estações. Estas marcaram os povoados; ampliaram as vilas, sedes dos distritos; elevaram as cidades sedes dos municípios e estabeleceram as comarcas.

       Conselheiro Lafaiete. Na fachada principal monumento ao patrono da cidade. O suporte da herma é em ferro fundido, plano geométrico abstrato, lembrando Amílcar de Castro.

       São João Del Rei. Fachada monumental em estilo neoclássico. Garagem em estrutura de metal sugerindo florais. Amplos vãos sustentados por escoras em mãos francesas.

       Tiradentes. Estação de pequeno porte, porém graciosa pelo jogo de massa da fachada com cobertura de plataforma de ferro e alongamento da sustentação por mão-francesa.

       Barbacena. Porta com arco pleno coberta por marquise. No primeiro pavimento seis amplas janelas envidraçadas. No segundo pavimento nove janelas com caixilhos de vidro. Platibanda com frontão reto. Torreão com sacada de arco pleno e frontão triangular.

       Chalé

       O chalé inglês chega isoladamente em Nova Lima, com os ingleses, mas é com o avanço da Estrada de Ferro que as estações ferroviárias, construídas com material importado, paredes de tijolo em substituição à taipa de mão (pau-a-pique); telhados prolongados e sustentados por mãos francesas, a exemplo das estações de Diamantina, Pitangui, Itabirito e Cataguases. Diz o historiador Menezes que essas estações influenciaram a arquitetura das residências (MENEZES, 1982)

       Casa na av. Dr. Aprígio Ribeiro de Oliveira em são Braz do Suaçui.

       Escola Agrotécnica Federal de Barbacena. Frontispício em três planos. Janelas com vergas retas e caixilhos de vidro. Na fachada lateral esquerda torreão vertical.

       Duas casas na av. Tiradentes em São João Del Rei, interferência com cores fortes.

       Art-nouveau

       O art-nouveau atende ao modismo decorativo francês do final do século XIX incorporado pela Inglaterra e pela Bélgica, grandes exportadores de material de construção pré-fabricado. É uma assimilação do gosto romântico na valorização da natureza e do orientalismo. Por outro lado é um desvirtuamento do Romantismo que se contrapõe ao sentido mercadológico do art-nouveau. O estilo art-nouveau é um termo que suaviza o que os alemães, de forma irônica chamam de kitsch, redundando em padronização de gosto artístico, mecanização do artista que trabalha com moldes. As secretarias de estado e o palácio do governo na Praça da Liberdade em Belo Horizonte, importaram da França, Inglaterra e Bélgica, diversos elementos arquitetônicos como vitrais ,portas, janelas, escadarias, moldes para pintura de tetos e paredes.

       Hospital de Entre Rios de Minas, arquiteto Edgard Nascimento Coelho. Frontispício horizontal e fechada, elevada por extensa platibanda.

       Casa na Praça do Carmo em São João Del Rei. Platibanda vazada e arrematada por frontão.

       Casa rua Padre José Maria Xavier, n. 40 em São João Del Rei. Graciosa platibanda arrematada por frontão; cimalha movimentada e varanda com ornatos em guirlandas de metal.

       Casa à rua Expedicionário Otávio Carlos em Prados, com muros e varandas graciosamente decorados; beiral e lambrequins.

       Escola Estadual João dos Santos em São João Del Rei. Ricos ornatos em estuque.

       Casarão na Praça dos Andradas em Barbacena. Construção datada de 1913 Platibanda ornada com três frontões e fartos relevos em estuque. Graciosa varanda de metal e madeira com duas esculturas de leões.

       Escola Estadual Bias Fortes. Largo da Igreja da Boa Morte em Barbacena. Varanda com belos ornatos florais em ferro e cores azul e branco.

       Moderna

       Igreja de Santa Efigênia em Entre Rios de Minas.

       Edifício Dècor, rua Quinze de Novembro, em Barbacena, com sacadas cúbicas.

       Escola Estadual Professor Soares Ferreira em Barbacena. Data da construção, 1960. Arquiteto Rafael Hardy Filho. Portada com marquise com ligeira inclinação, como no colégio de Cataguases.

       2 - Pintura

       Como observou Myriam Andrade Ribeiro, em trabalho de 1982, o estudo das artes plásticas em Minas, passada a época colonial, é nulo. Nossos historiadores só vêem historicidade no Barroco e no Rococó. É como se Minas tivesse parado no tempo a partir de 1801. Ou talvez nossos historiadores tivessem aprendido com os geólogos que Minas é uma rocha metamórfica que recebe o nome de ("barroquita") e que assim permanecerá por um bilhão de anos. O certo é que Athayde ao morrer em 1830, seu fantasma continuou rondando as oficinas dos artistas mineiros que o sucederam. Muitos pintores continuaram trabalhando nos templos edificados ainda na época colonial, embora sem os recursos da época da opulência do ciclo do ouro. É preciso observar que a partir dos anos 40 do século XIX, em Minas, a pintura se descola da arquitetura, passando a ser móvel e daí as constantes perdas e depreciações ao longo do tempo.

       Com a abertura dos portos brasileiros, Minas foi visitada por inúmeros estrangeiros, desenhistas, gravadores e pintores que contribuíram para a difusão das artes plásticas de cunho não religioso, a exemplo do alemão Jorge Grimm que deixou obra retratando Sabará, para o pano de boca do teatro da cidade. E na Igreja de N. S. do Carmo de São João Del Rei., Caraça e Mina do Morro Velho.

       O pintor alemão Guilherme Shumaker, no começo do século XX pintou painel "Jesus no Horto das Oliveiras", na matriz de Nossa Senhora da Conceição de Conselheiro Lafaiete. Harmonia e ritmo de movimento bem como acentuado equilíbrio na escala cromática.

       Pintura da capela e do refeitório do Hospital de Entre Rios de Minas, em estilo Art-nouveau, de Francisco Tamietti, por volta de 1909.

       Forro da Casa de Padre Toledo em Tiradentes, em estilo Neoclássico, por autor desconhecido, "Os cinco sentidos". Delicadeza e simplicidade do traço.

       Teto da nave da Igreja do Carmo de São João Del Rei, em estilo Neoclássico, técnica mista de estucagem e policromia, de José Joaquim Pereira, com o tema: "A entrega do escapulário a São Simão Stoque".

       Laterais da Capela-mor da igreja de N. S. do Carmo de São João Del rei, painéis do pintor alemão Jorge Grimm.

       3 - Retábulos

       Os retábulos de caráter barroco do século XVIII continuam, por extensão até a primeira metade do século XIX, ou seja, altares ricos em ornatos escultóricos da primeira, segunda e terceira fases Barroco Mineiro continuam sendo imitados muito além de seus tempos.

       Altar-mor da Matriz de Santo Antonio de Lagoa Dourada. Arremates com dossel.

       Altares da Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte de Barbacena. Policromia suavizada pelo fingimento de rochas.

       Altares da Igreja de Nossa Senhora do Rosário de Barbacena. Parece-nos ter muita afinidade com os retábulos de N. S. da Boa Morte da mesma cidade.

       Altares do arco-cruzeiro da igreja de Nossa Senhora das Brotas de Entre Rios de Minas em estilo neogótico.

       4 - Vitrais

       As técnicas do vitral desenvolveram-se na idade média, nos estilos românico e gótico. Expandiu-se por toda a Europa no Pré-Renascimento e no Renascimento, nos séculos XIV e XV. No final do século XVIII e início do século XIX, por seus efeitos de colorir o ambiente interior dos Palácios e Palacetes, retorna como moda. Com o Romantismo alguns pintores retomam o gosto pelo vitral das igrejas com o nome de "Gothic revival", a exemplo de Burne-Janes. Paris torna-se um dos maiores centros vitralistas da Europa. Suas oficinas exportam para diversas partes do Mundo, vitrais encomendados para igrejas e palácios.

       As amplas e longas janelas das igrejas neogóticas abrem espaço para a pintura nos vitrais. Diminuem-se os espaços para os retábulos originados no Barroco. Merecem ser mencionados os vitrais das igreja do Caraça, da São Domingos em Uberaba, Sagrados Coração de Jesus em Diamantina, Boa Viagem e Lourdes em Belo Horizonte. A arquitetura civil também cedeu lugar para os vitrais a exemplo do prédio da Secretaria de Estado de Viação e Obras Públicas de Minas Gerais.(3)

       No Campo das Vertentes as principais obras são:

       5 - Monumentos escultóricos

       Para iniciar

       Durante a colonização a arte escultórica esteve exclusivamente a serviço da catequese e da política de colonização. Mereciam ser retratados somente os reis, os nobres, os príncipes da Igreja e as santidades. O público devia obrigatoriamente fruir o gosto estético imposto pelos tronos irmanados, quer na pacividade dos bancos das igrejas, quer na reverência aos andores em desfiles de procissões. A presença da corte no Brasil, a partir de 1808, regida por um príncipe, filho de D. Maria I, rainha perturbada pelo fanatismo religioso, não conseguiu remover a cultura colonial injetada no povo do Brasil. A monarquia que continua o Brasil independente, também pertence à mesma casa real, não consegue demover os entulhos coloniais. Somente a partir da segunda metade do século XIX, as camadas superiores e médias sinalizam para o descarte da cultura colonial e para a formação de novas mentalidades. A partir daí os potentados regionais se inscrevem na lista dos que merecem um busto na praça pública; a história dos heróis regionais; o espelho histórico do passado longínquo da Grécia, de Roma do Egito.

       Monumento a Getúlio Vargas e sua carta-testamento em São João Del Rei.

       Herma ao padre José Maria Xavier, grande músico, no largo do Rosário, em São João Del Rei.

       Monumento a Augusto Viegas, Largo das Mercês, em São Josão Del Rei. Bronze de corpo inteiro e tamanho natural.

       Herma a Tiradentes, largo da Matriz em Tiradentes. Expressão severa e corda no pescoço.

       Monumento às Forças Aramadas, em frente à Igreja do Rosário em Barbacena. Pedestal de pedra com placas alusivas à Marinha, Aeronáutica e Exército. No alto um soldado em posição de combate.

       Herma a Tiradentes. No adro da Igreja do Rosário, rua 15 de novembro em Barbacena.

       Monumento a Crispim Jacques Bias Fortes, Praça dos Andradas, em Barbacena. Grande pilastra revestida de mármore, tendo à frente estátua de corpo inteiro e tamanho natural de Crispim J; Bias Fortes. No alto da pilastra, em bronze fundido, alegoria de uma família.

       Coluna com globo, na Praça Conde Prados, em Barbacena. A coluna sustentava uma estátua com referência à libertação dos escravos. Em 1920 foi substituída por um globo de cristal.

       Bibliografia

CARRATO, José Ferreira. Minas Gerais e os primórdios do Caraça. São Paulo: Nacional, 1963.

CARRAZZONI, Maria Elisa (Org)) Guia dos bens tombados. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1987.

FALEIRO, Antonio Pedro da Silva. Passa Tempo através do tempo. Passa Tempo: Autor, 1973.

FONSECA, Luis Gonzaga. História de Oliveira. Belo Horizonte: Fernando Álvares, 1961.

MENEZES, Ivo Porto. Arquitetura no século XIX In: Seminário sobre a cultura mineira no século XIX (III). Belo Horizonte: Conselho Estadual de Cultura MG, 1982.

OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro. Situação das Artes Plásticas em Minas no século XIX. In: Seminário sobre a cultura mineira no século XIX. Belo Horizonte: Conselho Estadual de Cultura MG, 1982.

SAMPAIO, Márcio. A paisagem mineira. Belo Horizonte: Coordenadora de Cultura MG, 1977.

TIBÃES, Maria da Conceição Duarte. O artífice John Rose, um inglês em Diamantina. Diamantina: Cristiane, 2001.

ZICO, José Tobias. Caraça, sua igreja e outras construções. Belo Horizonte: PUC/MG, 1983.

       NOTAS

       (1) - MOURA, Antonio de Paiva. Ecletismo. In: A metamorfose de Minas no "site" www.asminasgerais.com.br

       (2) - A concepção arquitetônica e acompanhamento técnico foram do Padre francês Júlio José Clavelin (1834/1909) Como diz Zico, a arte traduz, a seu modo, a mentalidade da época. Desta forma as igrejas barrocas da Bahia receberam sensíveis influências da escola italiana das cidades de Florença e Roma, ao passo que um século mais tarde, em Minas, a arte que floresce é minhota. Vem do Vale do Minho, região peculiarmente semelhante às Minas Gerais. É o barroco exuberante, florido, expressando a fartura do ouro no tempo colonial. (ZICO, J. T. 1983; 53) No Brasil o imperador D. Pedro II, na segunda metado do século XIX aproximou-se de artistas e escritores românticos europeus. O Gabinete Português de Leitura, de estlo neomanuelino ostenta estátuas de heróis portugueses. Na arquitetura religiosa, a igreja do Caraça é a primeira neogótica do Brasil. (Zico, J. T. 1983; 54) A igreja do Caraça é como a pedra de um anel encravada entre os blocos de edifícios barrocos. A verticalidade da nave e de de sua torre única, a leveza das massas forma um gracioso contraste com a horizontalidade pesada do colégio, cem anos mais velho que a igreja. Gilberto Freire afirma que Clavelin faltou o sentimento nacional da arquitetura e da arte religiosa brasileira, como se o Brasil possuísse uma arquitetura e arte religiosa próprias e imutáveis, isentas de qualquer influência estrangeira e alérgicas a modificações. (CARRATO, J. F. 1963; 325) Longe da possibilidade de importar materiais Clavelin, seguindo solução dos arquitetos mineiros da época do Irmão Lourenço, últimas décadas do século XVIII empregou materiais encontrados nos arredores do Caraça. Usou similares de mármore como o calcário dolomítico tirado nas proximidades de Mariana e Itabirito e também a pedra sabão. (ZICO, J. T, 1983; 54) Clavelin cria uma escola, que nega as do Barroco e do Iluminismo gerando o Ecletismo que se espalha pelo ampliado território de Minas. Terminada a construção da Igreja do Caraça os técnicos e operários forma trabalhar na construção da Basílica do Sagrado Coração de Jesus do Seminário de Diamantina, idealizada pelo ex-caracense D. João Antonio dos Santos e projetada pelo padre Júlio Clavelin.

       (3) - Os vitrais da Igreja do Caraça foram encomendados na oportunidade da viagem do Padre Júlio Clavelin à França, em 1886. Três rosáceas, sendo duas nos transeptos e uma acima do órgão, no óculo da fachada e duas janelas do frontispício. Parece-nos que de autoria do padre Bethomborg que fez a entrega das obras a Padre Clavelin. (ZICO, J. T. 1983;)91) Os vitrais da Basílica do Sagrado Coração de Jesus, Seminário de Diamantina, possivelmente encomendada pelo Padre Clavelin em Paris, chegaram em Diamantina no final do século XIX. São 16 conjuntos para rosáceas e janelas. Foram doados por famílias de diversas partes do Brasil. Na fachada a rosácea principal em doze raios representa os doze apóstolos. Quem instalou estalou os vitrais nas armações de ferro foi o inglês John Rose, que vivia na cidade. (TIBÃES, M.C.D. 2001; 85)


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