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Vale do Jequitinhonha
BREVE HISTÓRIA

A tradição do fazer do Jequitinhonha

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A tradição do fazer do Jequitinhonha

Antonio de Paiva Moura.


Podemos dizer, sem perigo de errar, que o Vale do Jequitinhonha, em toda a sua extensão é a região mineira onde a capacidade te trabalhos manuais é mais expressiva. Mirando a capelinha de São Gonçalo de Minas Novas, podemos imaginar quantos marceneiros, pedreiros e oleiros lá estavam no meio do século XVIII, oferecendo trabalho que caracterizaria toda a região: simplicidade e originalidade.
A miscigenação entre o negro, o índio e o branco não é visível somente na cor da pele do habitante da região, mas em tudo de artificial produzido: artesanato, arte popular, música, literatura e dramaturgia. Na cerâmica percebemos uma nítida influência do indígena, especialmente o botocudo que habitou a região. O alemão Wind-Neuvied, em 1817 observou a habilidade desses índios ao usar um instrumento de caça chamado bodoque. A bala a ser arremessada com arco e cordas era confeccionada de barro, em forma esférica, na dimensão de uma bola de gude, queimada em forno cerâmico. Do uso do bodoque vem o nome botocudo. O forno cerâmico cavado na rocha de hoje é uma experiência indígena. Também a estética indígena foi transferida ao artista popular do Jequitinhonha, pois os pigmentos obtidos com o taguá (tauá) vermelho-terra e com a tabatinga, branco predominam na maioria das peças da região. Dona Olinta Teixeira (Dida), de Cariai fornece aos demais artesãos do município os referidos pigmentos.
Os negros migrados da Bahia contribuíram com as técnicas de trabalhos em ferro e madeira. Os africanos de origem Bantu revelaram-se excelentes fundidores de ferramentas. Em Itamarandiba encontramos ferreiros que confeccionam ferro para marcar gado, facas, facões e outros objetos. A Banda de Taquara, do povoado de Bem Posta, no município de Minas Novas é composta de elementos negros. Curiosamente, todas as indumentárias e instrumentos musicais são confeccionados pelos componentes da banda.
Os brancos, remanescentes ibéricos migraram do Sul da Bahia e da Região Central de Minas. Legaram a tradição do trabalho com o couro como atesta a presença dos seleiros de Araçuaí. Sebastião Roque começou a trabalhar na selaria do pai aos oito anos de idade e hoje é proprietário. Na indústria caseira da região é notável a qualidade da rapadura; do requeijão moreno; dos doces de fruta com rapadura e dos licores, a exemplo dos feitos por Dona Mundinha, de Itamarandiba. A tecelagem caseira também é de boa qualidade. Prima pelos ornatos em cores vivas das colchas, tapetes e cortinas. Grande parte dos habitantes de Chapada do Norte se ocupa do tecido arraiolo.

Antonio de Paiva Moura é mestre em História e professor do UNI-BH






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Data:
03/04/2005


Fonte:
www.asminasgerais.com.br