Cult'uais VenhameVERDEperto UniVLERCidades Revista d'As Minas Gerais Pesquisa Editoria d'As Minas Gerais Livro de Visitas
Vale do Jequitinhonha
O ARTESANATO




O VALE DO JEQUITINHONHA
ARTESANATO
Antonio de Paiva MOURA







Infra-Estrutura

O Vale do Jequitinhonha está localizado no Norte-Nordeste de Minas Gerais, ocupando uma área de 85.027 Km², correspondente a 14,14% da área do Estado.
Compõe-se das seguintes microrregiões e municípios.
Microrregiões
Mineradora de Diamantina

Berilo
Capelinha
Carbonita
Chapada do Norte
Couto Magalhães de Minas
Datas
Diamantina
Felício dos Santos
Francisco Badaró
Rio Vermelho
Itamarandiba
Minas Nova
Malacacheta
Senador Modestino Gonçalves
São Gonçalo do Rio Preto
Serro
Turmalina


Mineradora do Alto do Jequitinhonha

Botumirim
Cristália
Grão Mogol
Itacambira


Pastoril de Pedra Azul

André Fernandes
Araçuaí
Caraí
Comercinho
Coronel Murta
Itaobim
Itinga
Medina
Novo Crizeiro
Padre Paraíso
Pedra Azul
Virgem da Lapa



Pastoril de Almenara

Almenara
Bandeira
Felisburgo
Jacinto
Jequitinhonha
Joaíma
Jordânia
Rio do Prado
Ribim
Salto da Divisa
Santa Maria do Salto
Santo Antônio Jacinto


Alto do Rio Pardo

Riacho dos Machados
Rio Pardo de Minas
Rubelita
Salinas
Porteirinha
Taiobeiras
Bocaiúva


De acordo com o censo de 1980 a população da região é de 922.430 habitantes. Dois terços da população na zona rural e apenas um terço está radicado na zona urbana. Mais da metade da população tem idade inferior a 20 anos.
O clima predominante é o tropical chuvoso, seco no inverno e úmido no verão.
Quanto à rede viária, a região é servida pelas rodovias federais BR-116, BR 251 e BR 367, sendo as duas últimas desprovidas de pavimentação asfáltica. As rodovias estaduais e municipais são deficientes e precárias, construídas sem as condições técnicas mínimas para as rodovias de padrão médio. Não contam com serviço de manutenção permanente. Desta forma são trafegáveis apenas no período seco.

PERFIL DA MACRORREGIÃO

Em face das diferentes condições históricas e naturais, não podemos dizer que existe somente um Jequitinhonha. São vários, se levarmos em condições as diferenças sociais entre o alto e Médio Jequitinhonha. Enquanto as microrregiões Mineradora de Diamantina, Alto Jequitinhonha atraíram a atenção dos grandes centros desde a época colonial, o Médio Jequitinhonha permaneceu isolado, sem estradas, comunicando-se internamente através de um primitivo transporte fluvial, alternado pela cavalo de sela, pela tropa de burros e carro de bois. A macrorregião do Vale do Jequitinhonha dividi-se em cinco microrregiões como: Mineradora do Alto do Jequitinhonha, Pastoril de Pedra Azul, Pastoril de Almenara e Alto Rio Pardo.
Um terço é comum em todas as microrregiões do Médio Jequitinhonha; a pobreza. Mas repetir insistentemente no óbvio dessa afirmativa não nos levará a nada, como em nada vem resultando. Devemos estudar objetivamente as causas da estagnação da região e apontar soluções viáveis. A arte e o artesanato do Vale do Jequitinhonha expostos em um museu não permitem fazer transparecer a realidade da região. O fruidor ou espectador de manifestações artísticas não pode induzir sobre a realidade que a produz. Isto é, a riqueza técnica e evidência técnica das arte popular do Médio Jequitinhonha são absolutamente contrárias ao quadro social vigente. Uma rica arte de um pobre povo.
Mas de que forma é pobre o povo do Jequitinhonha?
As causações de ordem geográficas ou biológicas não devem ser focalizadas de vez que provocam concepções deterministas e impedem ou anulam as propostas de soluções baseadas na ação e na atitude humana. Desta forma teremos como limites de abordagem as questões de ordem sócio-históricas.
O latifúndio para criação extensiva de gado de corte quase não ocupa mão-de-obra. Além disso, empurra os pequenos proprietários e não proprietários para terrenos impróprios à agricultura e para as periferias das cidades. A partir daí as famílias são desestruturadas de vez que o homem, quase sempre, procura trabalho provisório e complementar em são Paulo, Sul de Minas, Zona da Mata Mineira, na oportunidade da colheita de cana, ou de café. Muitos não retornam deixando as famílias em completa miséria.
Outro fator que diminui a capacidade produtiva das populações periféricas do Médio Jequitinhonha é a subnutrição e a doença de Chagas (Trypanosoma cruzi) e tuberculose.
Quanto à educação observa-se uma indisposição muito grande por parte dos rurícolas para freqüentar a escola. Para eles o estudo não faz falta de vez que nada acrescenta em sua vida. Isso é, não contribuí para melhorar nem seu trabalho nem seu lazer.
De modo geral a força de trabalho na macrorregião do Vale do Jequitinhonha tende a favorecer o trabalho artesanal de vez que encontra-se fundamentada no trabalho familiar. Segundo dados do Instituto de Geociências Aplicadas de Minas Gerais, das 267.000 pessoas ocupadas 201.500 são da categoria familiar, atingindo o percentual de 75%. Apenas 5% do pessoal ocupado é assalariado. É, talvez, um dos casos típicos de sociedade artesanal ou pré-industrial. Em face de tal situação, mesmo a população ativa da região encontra-se disponível para as migrações, em função das atrações exercidas pelas regiões capitalizadas e industrializadas. Este caráter de sociedade artesanal que se mantém no seu "tradicionalismo", com o predomínio do trabalho manual e técnicas rudimentares, na produção agrícola, opera de forma negativa. O baixo índice de produtividade expulsa o trabalhador não só da região mas também da agricultura. Para a sua sobrevivência o trabalhador das microrreigões Pastoril de Pedra Azul, Pastoril de Almenara e Alto Rio Pardo, são obrigados a lançar mão de recursos alternativos. Fabricam a nível de indústria caseira os bens de utilização doméstica, como sabão e farinha de mandioca. As maiores propriedades fabricam aguardente, farinha, fubá de milho e requeijão. Cabe aos trabalhadores despojados de qualquer possibilidade de produção agrícola a atividade alternativa de arte do artesanato.
Os produtos artesanais, da indústria caseira e alguns produtos agrícolas são levados às feiras semanalmente onde são comercializados, quase sempre, sem resultado satisfatório, em face dos ínfimos preços conseguidos para os referidos produtos. Além disso, apenas 5% da população se beneficia das atividades artesanais.

1. Caraí

1.1. Toponímia e Formação Administrativa

A primeira denominação da localidade foi São José do Lajedo. Posteriormente São José das Coimbras, relacionado a dois irmãos que ali ergueram uma capela. Pela Lei nº 556, de 30 de agosto de 1911 foi o povoado elevado à categoria de sede do distrito, ainda com o nome de São José dos Coimbras, pertencente aos município de Araçuaí. Seu terceiro nome foi São José Caraí. Somente em 1938, por força do Decreto-Lei é que passou a denominar-se Caraí. Foi elevado à categoria de município pela Lei nº 336, de 27 de dezembro de 1948. Além do distrito da sede o município conta com o distrito de Marambainha.

1.2.Demografia
A superfície do município é de 1133Km², com uma população de 26.054 habitantes, conforme censo de 1980, com aproximadamente 23 habitantes por Km², enquanto a média da macrorregião é de apenas 12.

1.3.Atividade Artística e Artesanal

1.3.1. Aspectos Sociais
De modo geral a população de Caraí vive de agropecuária, participando com destaque da microrregião Pastoril de Pedra Azul, quer pela sua produção de cereais, principalmente de café, quer pela pecuária de corte, leite, suinocultura e, paralelamente, os garimpos de pedras coradas.
Há 30 quilômetros da sede do município no Córrego Santo Antônio situados em terrenos de difíceis atividades agrícolas, os artesãos plantaram seus casebres. Num total de oito casas, apenas uma contava com fossa séptica. Nenhuma conta com água encanada. Em face da dificuldade de irrigação, nenhuma casa conta com plantação de hortaliça. Apenas um artesão mantém criação de caprinos. Até a avicultura torna-se difícil às margens do córrego Lapinha de vez que as raposas rondam os terreiros e os quintais até à luz do dia. Os ovos devem ser colhido imediatamente à postura para não serem comidos por gambá. As casas de taipa (pau-a-pique) são erguidas quase sem
alicerces. De chão batido e cobertura de telhas. Entre as casas de artesãos apenas duas são iluminadas por janelas. Convivem com animais domésticos infestados de pulgas, bernes, percevejos e outros insetos.
No solo seco em que vivem, cultivam mandioca e cana para consumo imediato.

1.3.2. Artesãos

1.3.2.1 Ulisses Pereira Chaves
Em um conjunto de nove artesãos o senhor Ulisses desponta-se com uma certa liderança
Pretende assumir a posição de um "pater" família ou um espécie de patriarca em seu meio. Com escudo e como instrumento de seu discurso usa a religião. Não profere cinco palavras sem lembrar o nome de Deus. Com essa técnica impede que seus interlocutores realizem incursões em seu mundo social e em seu universo estético. Procura descartar os problemas pessoais falando em nome do grupo e da região. Confessa-se revoltado com a situação de extrema pobreza dos artesãos do Vale do Jequitinhonha. Para ele as autoridades políticas e administrativas visitam repetidas vezes, durante anos e anos; elaboram projetos e planos de ação mas não os executam. Como diz textualmente: " Não adianta vocês virem aqui, gravar, filmar e anotar, se tudo vai ficar a mesma coisa. Nada vai sair do papel e nós vamos ficando aqui esquecidos".
Entre os nove artesãos o senhor Ulisses é o único que cultiva hortaliças, cria cabras e possui fossa séptica.
Contudo, a casa é extremamente pobre, em taipa de mão quase à vista, de chão batido e sem água encanada. Cultiva mandioca para o fabrico da farinha e para a extração de polvilho, além da cana para café.
Os filhos já trabalham na cerâmica produzindo em menor escala.
O barro é extraído fora de sua propriedade e transportado em cargueiro animal.
Sua cerâmica é inteiramente figurativa . Trata-se de proposta artística que prima pela criatividade e que parte da realidade social bem como das condições naturais para a ficção. Adquire a liberdade de criar formas usando as técnicas tradicionais em voga no Vale do Jequitinhonha.
Costuma explicar o enredo de suas peças a partir de um sonho ou mesmo de uma visão alucinada. Daí o caráter fantástico surrealista de sua arte.

1.3.2.2. Ana Pereira Chaves
Sua residência situa-se há cinqüenta metros a oeste da casa de seu irmão Ulisses.
Demonstra mais alegria e mais saúde que os demais parentes e vizinhos. Cultiva um bom quintal de frutas e demonstrou dominar uma saudável culinária. Mas, como todos, precisa trabalhar na roça para conseguir os alimentos e pagar o barro, matéria-prima de seu artesanato.
Talvez, por seu modo alegre de encarar a vida, no meio de tanta contradição dona Ana tenha conseguido solucionar uma questão na arte. Isto é, uma síntese entre o utilitário e o figurativo. Ao modelar uma moringa traça uma forma típica a que chama de três bolas em sua base. Cada bola forma um pé da estrutura. Mas além da formação de suporte, cada bola é modelada com a figuração de animais e humanos estilizados. Para a tinta vermelha usa o tauá e para a branca, a tabatinga. Aplica a tinta sobre a modelagem seca. Usa delicado pincel de algodão, no formato de um cotonete. Colhe o algodão no quintal, desfia e enrola em um palito para confeccionar o pincel. Para o polimento usa a semente de uma planta que chamam "olho-de-boi", além do sabugo de milho.
Dona Ana conseguiu alcançar um primoroso nível técnico e um delicado resultado estético dentro da simbiose utilitário-antropozoomorfismo.

1.3.2.3. Olinta Teixeira (Dida)
Sua residência é a mais isolada de todas. Mas tem uma vantagem sobre as demais: é a mais próxima do córrego, o que lhe possibilita a manutenção de uma horta e maior fartura de água para uso. Casa de taipa de mão mas que permite a abertura de janelas. Para confeccionar o tuá (tinta vermelha) recolhe os pigmentos no quintal de sua casa.
Já o pigmento branco (tabatinga) é tirado do próprio barro da modelagem. Seca suas peças na sombra. Dá polimento com a semente de olho-de-boi. Na verdade sua técnica não difere da já mencionada por dona Ana. Sem rodeios dona Dida afirma que aprendeu com o Senhor Ulisses, de quem é admiradora.
Quanto ao resultado do trabalho dona Dida mostra-se livre na escolha dos temas, embora inteiramente vinculada ao ambiente que lhe rodeia. A extrema penitência da pobreza, da doença, das pragas, dos insetos como pulga, percevejos, barbeiro e mosquito, são amenizados por outra penitência, na modelagem de uma procissão ou dos santos de sua devoção.

1.3.2.4. Noemisa Batista dos Santos
Filha de mais antiga ceramista de Caraí que é a dona Joana. Sem perigo de erro podemos dizer que dona Joana é a mestra das mestras da cerâmica de Caraí. Talvez aqui esteja um importante segredo: a liberdade de expressão e a facilidade de transmitir técnicas de dona Joana é que formou a "escola" de cerâmica de Caraí.
Aos 12 anos de idade Noemisa começa a trabalhar suas peças sob os olhos ativos e pacíficos de sua mãe. A residência de Noemisa não foge à região: apenas alguns buracos nas paredes permitem a ventilação. As paredes são recobertas com uma camada de tabatinga e pintadas com o tauá, predominando os motivos florais. A minúscula construção abriga seis pessoas: a matriarca dona Joana; uma nora com dois filhos no colo, com aspecto de debilidade mental, sendo viúva, de vez que o marido faleceu há pouco, vítima de doença de Chagas, aos 25 anos de idade; outra moça fechada no quarto e que não aparece para as pessoas; a própria Noemisa, portadora de doença de Chagas, condenada à morte por falta de recursos.
Não apresenta novidade técnica de vez que o preparo do barro, chega em lombo de cargueiro animal, é sempre o mesmo.
Depois de socados os torrões, de barro é peneirado e dissolvido na água para adquirir a plasticidade.


Depois de modelada, a peça é secada no sol em face da rapidez (12 horas) é levada ao forno que fica no
terreiro da casa.
Noemisa é uma artista muito mística. Dificilmente desenvolve tema profano em sua cerâmica. A sua preferência de tema é para presépios.

1.3.2.5. Santa Pereira de Souza
Sua residência fica há quinhentos metros da casa de Noemisa, à margem direita do córrego Santo Antônio. Nesta data (1986) conta com 18 anos de idade. O pai, Joaquim Duarte Batista e a mãe Sebastiana acompanham todos os passos da artista. Interferem nas conversas, não permitindo que a mesma se liberte ou tenha iniciativa própria.
Nada mais que a realidade circundante são objetos de sua arte. Isso é, reproduz galinhas, cães, cavalos e bois.
Usa o mesmo material e instrumentos de Noemisa.

1.3.2.6. Rita Pereira de Souza
Filha de Joaquim Duarte Batista e Sebastiana Batista. Conta, atualmente, (1986) com 16 anos de idade. Da mesma forma que sua irmã Santa, seca no sol suas peças para maior rapidez entre o espaço da modelagem e a queima.
Na certeza de um mercado compensador trabalha das 6 horas da manhã até às 16 horas.
Como a propriedade é limitada pela casa residencial, tudo é feito no seu interior .
Ali guarda o barro, modela e somente a queima é feita em forno fora da casa

1.3.2.7. Clemência Pereira de Souza
Antes de tudo é uma pessoa dedicada à vida do lar. Somente às 8 horas da manhã, depois de realizar todas as obrigações da casa é que Clemência passa a trabalhar na cerâmica. Juntamente com suas sobrinhas Santa e Rita, Clemência modela bois, cavalos e aves.
Aos 36 anos de idade (1986) Clemência não vê outra forma de sobrevivência fora da atividade artística.

1.3.2.8. Santa Batista dos Santos
Aos 40 anos de idade (1986) dona Santa não é nem solteira, nem casada e nem viúva. Quando seu primeiro filho contava com três anos de idade, seu marido saiu de casa e nunca mais voltou.
De sua pequenina casa, sem janela e com um terreiro muito limpo, dona Santa se orgulha de ser a mais autêntica herdeira de sua mãe, dona Joana.
O barro vem de longe. Da fazenda do senhor Serafim a quem deve dar um dar um dia de trabalho na lavoura para cada vez que ali vai fazer um carregamento.
Outro exemplo de utilitário gracioso é o tipo de cinzeiro produzido por dona Santa. No fundo coloca, à base de tauá motivos florais. Nas bordas aplica, em relevo, alegorias de pássaros.
Não há quem não se encante com a leveza e a graciosidade dos seus cinzeiros.

1.3.2.9. Joana Batista dos Santos
Se existe uma intenção do senhor Ulisses em ser reconhecido como patriarca entre as famílias de seu meio, dona Joana é uma autêntica matriarca, rodeada de filhos, noras e netos. Sabedoria, serenidade e resignação diante dos problemas da vida. Mulher madura, venerada pelos vizinhos e parentes. Muito cedo permitiu que os filhos tomassem seu papel de artista. Confia em seus descendentes e deixa que eles de desenvolvam, com liberdade, o papel de artistas e de agentes sociais indispensáveis à continuidade da vida.

02. ITINGA
2.1. Toponímia e Formação Administrativa

Itinga, do tupi, significa água branca. A região começou a ser explorada no início do século XIX. Já na Segunda metade do mesmo século (1854) o arraial de Itinga era elevado à categoria de Paróquia, pertencendo ao município de Minas Novas. Posteriormente foi transferido para o município de Araçuaí. Finalmente, em face da Lei nº 1058, de 31 de dezembro de 1943, foi elevado à categoria de município.

2.2. Demografia
A superfície do município é de 2.814Km², com uma população estima em 25.000 habitantes, com quase 9 habitantes por Km². A maioria absoluta da população vive na zona rural, ocupando-se especialmente da lavoura, inferior a média da macrorregião que é de 12 por km² .

2.3. Atividade Artística e Artesanal

2.3.1. Aspectos Sociais
Integrante da microrregião "Pastoril Pedra Azul", o município de Itinga vive especialmente da agropecuária, ou seja, da pecuária extensiva de corte e do extrativo mineral das pedras preciosas e do feldspato. Tanto a primeira quanto a Segunda, são atividades que nada oferecem em matéria da distribuição de riquezas. A criação extensiva emprega reduzidíssima mão-de-obra. Além de má remuneração o empregador, quase sempre, sonega as obrigações trabalhistas e não vive no município. Isto é: não aplicam recursos no local explorado. A extração mineral deixa o garimpeiro em iséria extrema de vez que os atravessadores é que atribuem os preços aos minerais. Para tal lançam mão de um poder discricionário, vindo com a tradição, desde a época colonial.
A agroindústria é apenas incipiente, contando apenas com algumas máquinas para moer grãos, produção de farinha de mandioca e aguardente.

2.3.2. Artesãos

2.3.2.1. Izabel Mendes da Cunha
Casa bem construída e dotada de conforto. Localizada no núcleo urbano do distrito de Santana de Araçuaí. É viúva e atualmente (1986) conta com 62 anos de idade. É filha de João Mendes da Cunha e Vitalina Maria de Jesus.
Praticamente seu trabalho é realizado a quatro mãos de vez que sua filha Maria Madalena cunha lhe presta uma grande ajuda. Modela os corpos das peças deixando-lhe a tarefa de modelar os rostos.
Trabalha o ano todo sem interrupção. O barro é buscado na fazenda do Senhor Joaquim Jardim, em um balaio que é colocado sobre a cabeça da carregadora. Uma vez ou outra transporta o barro em cargueiro animal. Há tempos fazia presépios. Atualmente, em face de ter mudado de religião, deixou de explorar tal motivo.
Seu modelado demonstra uma aguçada sensibilidade e delicadeza tátil. Em uma "Noiva" de 80 centímetros de altura, deixa transparecer uma noção de beleza através do rosado da cútis: do brilho dos olhos e na doçura do semblante.

2.3.2.2. Maria Madalena cunha
Filha de Dona Izabel Mendes da Cunha. Conta atualmente (1986) com 37 anos de idade. É solteira e sempre residiu em Santana do Araçuaí. Seu trabalho é secundário de vez que se limita em auxiliar sua mãe.

2.3.2.3. Maurina Pereira dos Santos (Teca)
Residência próxima à de Dona Izabel Mendes da cunha. Servida por luz
elétrica, água encanada, fogão a gás e chão acimentado.
Conta, a atualidade, 1986, com 39 anos de idade. Filha de Antônio Pereira dos Santos e Elvira Pereira de Jesus.


A família é constituída pelo casal e sete filhos.
O instrumental é o mais simples possível. Usa um sabugo de milho para acertar a modelagem, uma tábua e um banquinho.

2.3.2.4. João Pereira de Andrade
A sua moradia com água encanada, luz elétrica, banheiro, vaso sanitário e fogão a gás. Nascido em 1952, no distrito de Santana de Araçuaí onde continua residindo. É filho de Belizário Inácio Pereira e Neumiza Pereira de Andrade.
O instrumental de trabalho se resume em um garfo, uma espátula e uma tábua. Instalou seu atelier em um galpão anexo à casa residencial.
O resultado de seu trabalho é a confecção de bonecos antropomorfos. Para o colorido dos cabelos aplica uma tinta preta à base de pigmentos de carvão. Para o vermelho usa tauá e para o branco a tabatinga.

2.3.2.5.Celina Alves Santana
Sua residência localiza-se à margem do córrego Urussam, ainda no distrito de Santana de Araçuaí. Nascida em 1946 filha de João da Conceição Rodrigues Santana e divina Alves de Jesus. É casada e tem oito filhos. Teve como mestres a própria mãe e também dona Izabel Mendes da Cunha.
Como suas vizinhas, busca o barro na propriedade do senhor Joaquim Jardim, em cargueiro animal.
Seu instrumento se resume em um sabugo de milho; uma lasca de cuité; uma faca e um pano.
Para conseguir o vermelho usa barro e não o tauá. Para o branco, ao invés de tabatinga, usa o próprio barro da modelagem.
Embora disponha de pouco tempo de trabalho em face de ser numerosa a sua família, dona Celina apresenta uma larga produção. Especialmente quanto aos utilitários como moringas, potes e jogo para feijoada. Além disso, apresenta uma boa linha de figurativos antropomorfos e zoomorfos como galinhas, bois e cavalos.

Seu modelado é menos elaborado que o de sua mestra dona Izabel. Em face disso sua figuração é mais deformada que de dona Izabel.

2.3.2.6. Marcina Severa Braga
Filha de João Cardoso da fé e Ambrosina Silva.
Seu instrumental de trabalho não difere dos demais: consiste de um sabugo de milho, um coco de cuia, uma faca.
Para pintura das peças usa um pequeno pincel confeccionado de algodão e palito.

2.3.2.7. Amadeu Mendes Braga
Filho de dona Izabel Mendes da Cunha, que se revela como a "matriarca" no "clã" dos artesãos de Santana do Araçuaí.
Amadeu nada apresenta em seus trabalhos que o diferencie dos demais descendentes de dona Izabel.

2.3.2.8. Glória Maria de Andrade
É mais uma filha de dona Izabel Mendes da Cunha.
Sua residência é dotada de luz elétrica, água encanada, fogão a gás e instalações sanitárias. Cultiva um pomar de variadas frutas como abacate, laranja, jabuticaba, manga. Na horta planta, além de verduras, cana-de-açúcar, mandioca, feijão e variadas plantas medicinais.
O instrumento de trabalho difere um pouco dos demais discípulos de dona Izabel de vez que usa desbastador de metal.

2.3.2.9. Djanira Onório de Oliveira
Filha de José Ferreira dos Santos e Antíliana Teodora de Oliveira. A sua residência está com instalações hidráulicas, elétricas, sanitárias e fogão a gás.
Embora apresente noção de conforto a casa é mal higienizada. O atelier é no interior da casa. O transporte do barro, mesmo com o auxílio de cargueiro animal é muito penoso. Não usa o tauá e a tabatinga para aplicação das cores às peças.


Do próprio barro da modelagem retira pigmentos de diversos matizes para colorir suas peças.

2.3.2.10. Ulisses Mendes
Reside no âmbito do distrito sede Itinga. Para chegar à sua casa é necessário atravessar o Rio Jequitinhonha em uma balsa ou barca. Trata-se de moradia relativamente confortável, com luz elétrica, água encanada, chão acimentado, geladeira e rádio. O vasilhame da cozinha é de alumínio e conserva-se limpo e brilhante. A oficina de cerâmica foi instalada fora da casa.
Nascido em Itinga, no ano de 1955. É filho Pedro Mendes e Laurinda de Souza.
O início de sua atividade na arte popular data de 1978, embora desde criança já brincasse com o barro, fazendo miniaturas de panelas. É bastante versátil de vez que é entalhador e eletricista. Expõe com clareza as suas idéias. Diz que para ser um bom artista a pessoa deve gostar da atividade e ter paciência para dar um com acabamento nas peças. O barro é buscado na fazenda do Sr. Gentil.
O processo de beneficiamento do barro é quase o mesmo observando em Caraí. Os torrões são triturados e logo depois peneirados. Em seguida adiciona água ao pó formando a massa plástica.
Seu instrumento é simples: uma faquinha de madeira como espátula; um pente de madeira para fazer cabelos; um cilindro de madeira com ponta de prego. O forno, ao contrário dos demais, é quadrado.
Já foi tropeiro, lenhador e vaqueiro.
Atualmente não pensa em mudar de atividade de vez que encontra-se satisfeito com os resultados de seu trabalho.
Vende as peças no próprio local de trabalho.
A descrição biográfica e a narração do processo técnico do artista Ulisses Mendes esclarece bem o sentido estético de sua obra.
Projeta, como nenhum outro, a vida sofrida do povo do Vale do Jequitinhonha.

O trabalho pesado, a pobreza, a injustiça e raquitismo são expressos em uma só escultura elaborada a partir da figuração de um homem acorrentado e emitindo uma forte expressão de dor.

2.3.2.11. Eva Fagundes de Jesus
Reside no povoado de Pasmado, no distrito sede de Itinga, á margem da BR 116.
Em face de só confeccionar peças utilitárias é conhecida como "Poteira".
O formo foi construído no terreiro da casa dando frente para a rodovia, como quem, através dele, tenta comunicar-se com o mundo exterior.
As peças são transportadas em caminhão até Padre Paraíso onde são vendidas.
Os preços variam de acordo com o tamanho da peça, numa escala que vai de Cz$15,00 a 150,00.


3. JOAÍMA
3.1. Toponímia e Formação Administrativa.

O nome de Joaíma foi uma homenagem ao chefe indígena dos botocudos que vivia na região, no início do século XIX. Notável como líder pois arriscou sua vida na defesa dos índios contra a crueldade do militar Júlio Fernandes Leão.
O distrito foi criado pela Lei 556, de 30 de agosto de 1911.
O município foi criado pela Lei 336, de 27 de dezembro de 1948.

3.2. Demografia

A superfície do município é de 2.165 km², com uma população de 28.760 habitantes. A densidade demográfica é de, aproximadamente, 13 habitantes por km² , apenas um ponto acima da média da macrorregião que é de 12.

3.3. Atividade Artística e Artesanal

3.3.1. Aspectos Sociais

A agroindústria se desponta no município como opção em face da oferta de mão-de-obra e a produção agrícola, de vez que cultiva café, mandioca, feijão, milho, arroz e cana-de-açúcar.
A economia se baseia na pecuária de corte e na criação extensiva o que provoca o empobrecimento da região de vez que não gera empregos, não segura e não fixa na terra os proprietários com seus respectivos benefícios.

3.3.2. Artesãos

3.3.2.1.Domingos José Siqueira dos Santos, nasceu na fazenda Muriti, há 18 quilômetros da cidade, em 1925.
Atualmente reside à rua Frei Merenciano nº 81, na cidade de Joaíma. Disse que é casado mas somente no regime religioso.
Desde os 7 anos de idade exerce a atividade de artesão. Embora conte com um razoável mercado para as suas peças, presta outros tipos de serviços para aumentar a sua renda.
No dia em que foi entrevistado (30.09.86) havia ido à cidade de Jequitinhonha conduzindo em automóvel, um casal que havia marcado uma audiência com o Juiz de Direito. Recebeu Cz$50,00 pelo transporte, o que é comum na região.
Aliás, a questão vem de longo tempo, em face da pobreza generalizada e da falta de transporte coletivo na região. Há 51 anos, isto é, em 1953 o prefeito municipal de Rio Pardo, em carta ao chefe de Polícia em Belo Horizonte, diz que a sua cidade estava muito distante de Jequitinhonha. Não havia estrada de rodagem, transitando os carros em caminhos de tropas adaptadas para aquele fim. "Não há aqui nenhum carro de aluguel, sendo que quando há necessidade de uma viagem rápida, pode-se o veículo de Salinas, cujo proprietário não tem tabela certa, cobrando alto preço e alegando sempre falta de estradas que causam a danificação dos carros. Por isso cobram quantias até superiores a um conto de reis". Chefia de Polícia - Primeira Seção - Rio Parto de Minas, 11 de janeiro de 1935 - Arquivo Público Mineiro.
Além da madeira usa alguns metais de sucata aplicados às peças.
Do conjunto de ferramentas constam os seguintes: limas, formões, goivas, enxós, facas, serras, serrotes.
Segundo o senhor domingos suas peças são ligadas à realidade, não procurando criar nada de fantástico. Procura esculpir figurações de trabalhadores de sua região. Além disso, não se contenta com a estática de sua imaginária e dá sentido teatral em suas peças com o flexionamento das figuras.
Senhor Domingos não é só escultor popular. Tem uma profunda raiz no artesanato utilitário. Usando madeira macia, como cedro, confecciona rabecas, violas, cavaquinhos, violões e banjos.
Outras atividades ligadas ao entalhe é a confecção de espingardas com madeira resistente e cabo de revólver com chifre de boi.



4. TAIOBEIRAS

4.1. Toponímia e Formação Administrativa

Seu primeiro nome foi Bom Jardim das Taiobeiras. A princípio o distrito pertencia ao município Rio Pardo de Minas. Posteriormente, em 1923, foi transferido para o município de Salinas, com o nome de Taiobeiras. Em 1953, por força da Lei nº 1.039, foi elevado à categoria de município, na comarca de Salinas.
O topônimo de Taiobeiras é em função de ser nativa ali uma planta de nome tupi (tayo-oba, "golha de taiá"), cujo nome científico é "xanthosoma violaceun". A culinária da região conhece grande variedade de guisados à base de mistura com a folha da taiobeira. Além disso, é feita refogada como couve.

4.2. Demografia
A superfície do município é de 1337 km². A população é de 16.765 habitantes. A densidade demográfica do município é de apenas meio ponto acima da média da macrorregião do Vale do Jequitinhonha que é de 12 habitantes por km² .

4.3. Atividade Artística e Artesanal

4.3.1. Aspectos Sociais

Predomina no município de Taiobeiras a pecuária do corte na forma da recriação extensiva, cujos grandes proprietários de fazendas e empresas residem fora do município.
Existe no município uma pequena atividade industrial ligada à cerâmica, com produção para o mercado nacional e para exportação.
Ainda não floresceu agroindústria no que pese a produção de feijão, milho, arroz, cocô, cana-de-açúcar e mandioca. Grande parte da produção é exportada para a Bahia, mas o povo, de modo geral, vive pobre, sem escolas; sem assistência médica; sem acesso à justiça; subnutrido e sem habitação.


4.3.2. Artesãos

4.3.2.1. Maria Assunção Ribeiro
Reside à rua Grão Mogol, 151, em Taiobeiras. Filha de João de Oliveira e Amália de Oliveira.
A casa residencial é confortável, ampla, com instalações sanitárias, hidráulica e elétrica.
Não se limita a atividade de ceramista: é costureira.
O barro vem do povoado de Cantinho, onde nasceu em 1940. Tem a preocupação de intitular as suas peças como "pescador", tendo preferência para a figuração de mulheres no trabalho.
Suas técnicas diferem-se das demais ceramistas do Vale do Jequitinhonha, de vez que mistura papel no barro tornando a plástica mais leve. Seca as peças na sombra para não trincar e não as leva ao forno.
Embora tenha a capacidade de fabricar as próprias tintas, não o faz de vez que é mais cômodo adquiri-las prontas.
Talvez a sua opção por peças figurativas de pequenas dimensões (10 a 20 cm) esteja ligada ao fato de tentar retratar o cotidiano e a vida familiar. Predominam as cenas de trabalho mas as figuras (geralmente negras) não demonstram tristeza.

4.3.2.2. Ermelinda Maria de Jesus
Vive em estado de completa e humilhante miséria. Trata-se de uma negra velha que vive em companhia de um pobre rapaz e uma mulher doente.
Não é ceramista. Sua atividade artesanal é a tecelagem de capim limão. Produz pequenos cestos ornamentais.

4.3.2.3. João Alves
Filho de Dener Alves Martins e Braulina Alves Martins. Nascido em 1964, na cidade de Taiobeiras. Reside na mesma cidade à rua Nanuque nº 12.
A casa residencial é regular, carecendo de melhores instalações. O quintal conta com algumas plantas frutíferas. Mora com sua mãe. Não fabrica as tintas que aplica na cerâmica. Adquire os pigmentos como pó xadrez e guache. As colas e os pincéis também são adquiridos em lojas.
A entitulação de suas peças é variada e ampla, como "Passadeira", "Bêbado", "Pilando milho", "Lancheira", "Fiadeira".

4.3.2.4. José Rodrigues de Souza (Zé Calado)
Nascido em 1920, em André Fernandes, filho de Severino Rodrigues de Souza e Carolina Maria de Jesus. É casado e tem oito filhos.
Todos aplicados ao trabalho artesanal.
Trata-se de família muito pobre, migrada do meio rural. Vive em pequenina casa de adobe, em mau estado de construção e conservação.
Antes da atividade artesanal trabalhava na lavoura com a família. Como seu tio era marceneiro, passou a interessar-se por trabalhos em madeira. No início confeccionava apenas alguns objetos utilitários como colher de pau, bengalas e banquinhos.
Atualmente confecciona rabecas, cavaquinhos, espingardas. Além disso, experimenta o figurativo como bois e outros animais. Utiliza-se de instrumental muito simples como formão, serrote, goiva e lima.

5. ARAÇUAÍ

5.1. Toponímia e Formação Administrativa

Convivendo ou confrontando-se litigiosamente com os botucudos, os primeiros habitantes chegaram em Araçuaí nas primeiras décadas do século XVIII. Seu primeiro topônimo foi o de Calhau, em torno do qual floresceu uma atividade comercial marcada pela concentração de canoeiros, agricultores, vaqueiros e garimpeiros. E 1850, o arraial foi transformado em Paróquia. Em 1865, por força da Lei 1262, foi elevada a categoria de vila, com o nome de Araçuaí, integrando o município de Minas Novas. Apenas seis anos mais tarde, em 1871, a Lei 1780 elevou a vila à categoria de cidade. Na versão de Diogo de Vasconcelos, o topônimo de "Araçuaí" vem do tupi e quer dizer "rio grande do oriente". O viajante francês Augusto de Saint Hilaire interpretava de outra maneira: "rio das araras grandes", aproximando-se mais da etimologia tupi. Mesmo depois de emancipado o município voltou a denominar-se Calhau, no ano de 1885. Mas durou pouco.
Em 1887 a Lei nº 3485 restabeleceu a denominação de Araçuaí.
O município de Araçuaí constitui-se da seguinte divisão administrativa: Distrito da sede, povoados de Neves, Baixa Quente e São Vicente. Distritos de Engenheiro Schnoor e de Itabira.

5.2. Densidade Demográfica
Em face da diversificação da produção o município de Araçuaí conta com uma densidade demográfica, superior a da macrorregião. Isto é, para uma superfície de 2.326 quilômetros quadrados, uma população de 33.870 habitantes, eqüivalendo a 14 habitantes por km².


5.3. Atividade Artística e Artesanal

5.3.1. Aspectos Sociais

Ainda aqui a base da economia é a pecuária, para exportação de gado de corte, cujo rebanho calcula-se ser o dobro da população do município. Do ponto de vista social esta atividade produtiva tem sido muito ingrata à população do município. Em primeiro lugar, porque a atividade emprega mal um mínimo de pessoas; segundo porque exporta o boi em pé para ser abatido em Teófilo Otoni e Governador Valadares, gerando tributos e serviços em seu destino, com prejuízo para o município de origem. A terceira ingratidão de pecuária é relacionada com a concentração de rendas oriundas da lucratividade e a não aplicação desta em outras atividades do município.
Apesar de tudo a agroindústria cresce acompanhando a demanda de requeijões, aguardentes, manteiga, doces, lingüiça, frangos de corte, rapaduras, farinhas de mandioca e de milho.
Além da agricultura de subsistência há uma outra de caráter acessório em face da exploração incontrolável de atravessadores, não permitindo ao garimpeiro desfrutar melhor de seu trabalho. Mesmo assim, das mãos dos garimpeiros de Araçuaí surgem uma infinidade de pedras preciosas como águas-marinhas, turmalinas, olho-de-tigre, topázios, ametistas, rubelitas, diamantes. A cidade já conta com uma lapidação de pedras que, embora de pequeno porte começa a mostrar benefícios.
Os artefatos de couro do município também são dignos de nota, não só pela quantidade, mas pela qualidade artesanal.

5.3.2. Artesãos

5.3.2.1. Maria da Conceição Fernandes dos Santos
Reside no povoado de Baixa Quente. É casada e tem seis filhos.
Filha de José Gomes dos Santos e Mara Fernandes Rodrigues.
A casa situa-se em uma espécie de praça, cercada de árvores frutíferas.
Porcos e galinhas são criados soltos pelas ruas e quintais. A criação de galinhas é difícil de vez que no fundo da casa encontra-se uma extensa capoeira o que provoca a concentração de raposas, de cães do mato.
São duas salas e três quartos. Registramos as presenças de máquina de costura, fogão a gás, televisão, rádio, cristaleira. A decoração da casa é feita com figuras de porcelana e gesso, lembrando a samaritana ou mulher grega. Valores, por assim dizer: "Kitsh". Coberta apenas com telhado, sem forro. O piso é de cimento. Não tem água encanada mas é servida por luz elétrica.
A tradição, isto é, o fato de ver a mãe trabalhar com o barro é que lhe ensinou.
Trabalha, juntamente com os filhos, em uma varanda no fundo da cozinha.
Busca o barro em uma bacia, no fundo do quintal, sem nenhum processo de transporte mecânico. Coloca as peças sobre uma tábua e trabalha assentada no chão. Seu instrumento é muito simples e consiste de um sabugo de milho, faca, lixa e espuma para polimento. As cinco pessoas aplicadas no trabalho da cerâmica produzem, em média, 15 peças diariamente.
Seus produtos são de caráter utilitário como jarros, bilhas, porta-jóias, galinhas e outros objetos ornamentais. Não se tratando de objetos figurativos, não lhes dá títulos ou nomes especiais.
O processo ornamental das peças consiste em incisões feitas com um palito depois de modelada a peça. Não usa pigmentos para realçar os desenhos.
Em seguida leva as peças a um pequeno forno próximo à porta da cozinha. Depois de doze horas de queima as peças estão prontas para serem negociadas no mercado de Araçuaí ou de Belo Horizonte.
Na verdade a produção de Maria da Conceição atende a uma demanda de bens artesanais para consumo nas cidades, ficando entre a delicadeza e a rusticidade.

5.3.2.2. Izaira Fernandes Esteves
Nascida em Araçuaí, em 1931. É casada e tem oito filhos. Seus pais foram José Gomes Santos e Mara Fernandes Rodrigues.
A casa situa-se em uma espécie de praça, cercada de árvores frutíferas.
Porcos e galinhas são criados soltos pela rua. No fundo da casa existe uma capoeira que atrai bichos e perseguem as criações.
Seu marido é sócio de uma roça comunitária que vem dando resultados satisfatórios.
Mesmo assim, a casa é desprovida de conforto. Não tem rádio, nem televisão, nem água encanada. Na cozinha uma bateria de alumínio e um fogão de lenha. A casa não é forrada e o chão é de cimento. Na casa de dois quartos, sala e cozinha vivem onze pessoas.
Como sua irmã, Maria da conceição, Izaira aprendeu com Mara Fernandes as técnicas da cerâmica. Trabalha juntamente com os filhos, em uma varanda no fundo da cozinha.
Busca o barro em uma bacia, no fundo do quintal, sem nenhum processo de transporte mecânico. Coloca as peças sobre uma tábua e trabalha, assentada no chão. Seu instrumental é muito simples e consiste de um sabugo de milho, faca, pano, lixa e uma espuma para polimento. As seis pessoas aplicadas no trabalho de cerâmica produzem, em média, 15 peças diariamente.
Seu produto artesanal tem caráter utilitário como jarros, bilhas, porta-jóias, galinhas e outros objetos ornamentais. Em face de seu trabalho artesanal tem um caráter utilitário e não figurativo, suas peças não recebem títulos ou nomes.
A ornamentação das peças são por incisões riscadas com palito nas peças cruas. Não usa, por isso, tauá ou outro pigmento qualquer.
Doze horas de queima, em um pequeno forno no fundo da casa, são suficientes para mandar mudar a coloração das peças.
Como dona Izaira não tem em sua casa objetos industriais decorativas, resolveu fazer uma pequena casa de barro sem objetivo comercial. Uma simples modelagem de barro cru foi o suficiente, para notarmos uma grande diferença entre Maria da conceição e dona Izaira.


5.3.2.3. Antônio Ferreira dos Santos (Prego)
Atualmente (1986), conta com 58 anos de idade e reside há 5 quilômetros da cidade de Araçuaí.
Anteriormente, quem desenvolvia a atividade de ceramista era a sua mulher.
Há 18 anos, quando ela contraiu uma doença, ele foi obrigado a experimentar a sua substituição.
Instalou a oficina em um barracão no fundo da casa, de vez que esta era e continua sendo pequena, não comportando nem os seus oito familiares.
Antônio Prego vive isolado em seu casebre que não tem água encanada, nem luz elétrica, nem plantação ou criação de galinha. A porta da sala fica de frente para uma capoeira onde se ouve canto de pássaros selvagens e de onde saem raposas e outros bichos nocivos à criação de galinha.
Sua única ocupação é a cerâmica. A família fica coberta de barro dos pés à cabeça.
Ao anoitecer vão a uma lagoa, de água muito parda, e ali tomam banho em água suja.
O barro vem de longe, transportado em caminhão, de vez que o consumo do Senhor Prego é muito grande. Trabalha o ano todo, sem interrupção.
Usa uma roda para levantar potes e filtros.
Além disso, usa sabugo de milho, coiteba, faquinha, um pedaço de madeira para modelar.
No final do dia produz 10 peças grandes, compreendendo jarros, potes, filtros, bonecos. Os desenhos são feitos a partir de incisões no barro cru. Posteriormente leva ao forno que fica no fundo do quintal. As dificuldades em face da falta de recursos não terminam quando Antônio Prego tira do forno as peças. A família marcha a pé até a cidade para levar os objetos na cabeça para serem comercializados.

5.3.2.4.Josefa Alves dos Reis (Zefa)
Nascida em Sergipe, no ano de 1925, sendo filha de João Alves dos Santos e Josefa Batista dos Reis. Em 1961, migrou-se para Araçuaí, onde encontra-se radicada. Reside em uma modesta casa localizada na rua Pará Morro do Santuário.
Cultiva um grande quintal com uma imensa variedade de frutas, hortaliças e legumes, como abóbora, mamão, laranja, café, maracujá, cana, fava, feijão andu, espinafre. Disse que não cria galinha para que elas não a aborreça estragando a horta.
A casa é de tijolos, telhas colonial, piso de chão, sem forro. Disse que mesmo que venha a conseguir recursos, não pretende colocar forro e piso de cimento ou madeira porque é daquele modo que gosta da casa. Conheceu e conviveu com a casa do avô que era como a sua. A cozinha é equipada com fogão a gás, bateria de alumínio, mas é aí também que trabalha os pesados troncos de madeira de suas esculturas. Na copa encontram-se instalados rádio, televisão, geladeira e água encanada. O sanitário é de fossa, na porta da cozinha. Todas as paredes da casa são decoradas com fotos recortadas de revistas.
Através delas Zefa mostra-se sensível a tudo mas especialmente as coisas relacionadas com a brasilidade. Confessa-se ter uma paixão por JK e por Brasília a que chama de cidade escultura.
Desde a idade de 13 anos começou a lavrar madeira com o objetivo escultórico. Não teve um mestre ou espelho a que pudesse tomar como referência. Durante muito tempo experimentou a cerâmica com resultado satisfatório.
Mas há anos sofreu uma paralisia e foi obrigada a dedicar-se unicamente à madeira. Não é fácil encontrar satisfatoriamente a matéria de sua escultura. A madeira vem de longe e o transporte é caro.
Não há tempo determinado para trabalhar, isto é, pode ser qualquer hora do dia ou do ano. Basta ter uma idéia e a disposição para começar. Ao contrário da maioria dos escultores, Zefa assenta-se no chão em posição muito descômoda. Mas é assim que ela gosta.
O instrumental consiste em martelo, formão, machadinha, facão, glosa, etc. As vezes leva 17 dias em uma só peça. São esculturas grandes, com figuração. Dá nomes abstratos às peças como "Escada da Vida". "Comunidade", "Sinagogas".
Mas assim como as paredes da casa de Zefa revelam uma forte vocação para a figuração humana, escolhendo imagens de pessoas sensíveis, também o seu universo escultórico, revela a sua irreprimível paixão pelas figuras carismáticas, cujas biografias lhe tocam profundamente.

5.3.2.5.Adão Gomes dos Santos
Residente à rua Mato Grosso nº 57, em Araçuaí.
É filho de Sebastião José dos Santos e de Joana Erculana Gomes da Silva. Nascido em Ladainha, no ano de 1933.
Numa casa de 5 cômodos, dos quais 2 são ocupados com a oficina. Adão e mais quatro familiares vivem apertadamente. Embora tenha água encanada e luz elétrica, ainda não conta com instalações sanitárias. O telhado apresenta diversas aberturas e as paredes danificadas pelo tempo. Numa rua aladeirada e corroída pela erosão, ficam as toras de madeiras a serem transformadas em esculturas. A divisa entre o lote e a rua foi demarcada com uma cerca de entulhos e gravetos.
Antes de começar a trabalhar com escultura em madeira, levou uma vida de sofrimento e de miséria. Plantava roça no sistema de meio e terça e quase não colhia, por falta de recurso para cuidar das lavouras. Há vinte anos resolveu mudar de atividade e começou a experimentar a arte. Com todo sacrifício acha que hoje vive melhor.
Utiliza-se de quase todos os tipos de madeira produzidos na região, como jacarandá, sucupira e cedro. A madeira é cara e o transporte muito mais, o que dificulta a sua aquisição.
Trabalha o ano todo sem interrupção. Atualmente conta com um companheiro ideal que é seu filho Manoel Gomes de Matos.
Conta com um fardo instrumental, como serrote, formão, facão, torno para segurar a madeira, seguete, furadeira elétrica, furadeira de mão, marreta, lixa, esmeril criativamente montado por ele, lima, faca e chave de fenda. O resultado artístico do trabalho de Adão é muito pouco criativo. Atender a uma demanda de objetos escultóricos, estereotipados como pretos-velhos, carrancas, crucifixos e outros objetos. Esta é a razão fundamental pela qual o Senhor Adão não consegue melhores preços para as suas peças.

5.3.2.6. Maria Lira Marques Borges
Nascida em 1945, em Araçuaí, onde reside, à rua Coronel Inácio Murta, nº 280.
É filha de Tarcísio Santana Nogueira e de Odilia Borges Nogueira.
A casa de Lira Marques é ampla de vez que é solteira. Na parte inferior a casa é alta, elevada por um grande alicerce. Está procurando melhorar a casa com recursos de peças vendidas em Belo Horizonte. Com um conjunto de 27 peças vendido em Belo Horizonte conseguiu reformar o sanitário. Já adquiriu telhas e tijolos novos para prosseguir a reforma da casa. O fogão a gás já substituiu o fogão de lenha. Geladeira e mobiliário novo é de boa qualidade. Na sala de visitas tem uma grande bandeja de folha pintada em verde e negro, destinada a empréstimos na ocasião de velórios ou casamento. Na estante encontram-se alguns livros sobre religiosidade negra. De mo geral a casa é muito limpa e o chão é acimentado. Na reforma da casa não pretende coloca o forro de vez que fica muito caro. Mas na verdade faz parte da cultura da região que não usa forro nas casas.
No quintal cultiva laranja, abacate, manga, pinha, mamão, banana. Cria galinhas poedeiras.
Muito tranqüila e saudável. Lira Marques mostra-se interessada em leitura sobre classes sociais, política, antropologia e etnologia.
No contato com a mãe aprendeu, ou melhor, possibilitou o desenvolvimento de seu potencial artístico. Trabalha no quintal, modelando as peças sobre uma banca de cimento, sob a sombra de um abacateiro. Em uma vasilha de plástico guarda uma grande e variada quantidade de instrumentos de modelagem. Ela mesma vai buscar o barro no ribeirão Calhauzinho. Ao chegar guarda em sacos de plástico. Trabalha durante o ano todo, sem interrupção. Seu trabalho é de cunho puramente estético, descartando inteiramente o utilitário. Isto é, parte de uma realidade circundante para uma ficção, como em seu conjunto de peças "Personagens de uma ladeia do passado".
Nesta obra ela imagina a gênese da raça negra; o seu contexto tribal; a complexidade da vida em sociedade; o "mistério" da fecundação e da morte, a pobreza, o domínio da liberdade e da felicidade. Todas as peças de Lira Marques têm um caráter de seriedade.
Um toque de severidade diante do sofrimento de seu povo. O que é mais importante em Lira Marques é a sua interferência no plano da imaginária. A pessoalidade do seu estilo, fantasiando as imagens, lhe transporta para a universidade dos personagens que focaliza. O barro sai ali do Calhauzinho; do quintal de sua casa a modelagem do Vale do Jequitinhonha um impressionante visual; de sua alma o sentimento. Enfim, tudo muito próximo da artista, mas projetados para o infnito ou para o universal.

5.3.2.7. José Manoel da Conceição
Residente a rua João alexandrino Pimenta, nº 275, no Povoado de Baixa Quente, no município de Araçuaí.
Atualmente, *1986), conta com 40 anos de idade. É casado e mora em um barraco, em péssima condição. Telhado e paredes são tão crivados de buracos que morar ao ar livre ou debaixo de uma árvore, faz pouca diferença.
Confecciona chapéu de couro. Consegue, com seu trabalho um mínimo além do custo do material. Seu processo artesanal é o mais rudimentar. Nada mais que agulha, linha e uma simples forma de madeira.

5.3.2.8. Aderbal Alexandrino Pinheiro
Sua oficina localiza-se à rua Malacacheta, nº 104 em Araçuaí. Instrumental, equipamento e matéria-prima de boa qualidade. O couro é buscado em um curtume em Itaobim.
Trabalha o ano todo, sem interrupção. Depois de untar a sola, leva as peças cortadas e costuradas a uma forma de madeira.

5.3.2.9. Luiz Gonzaga da Silva
Sua oficina localiza-se à rua do Santuário, nº 14, CEP.: 39600, em Araçuaí. Além de consertos em botas, cintos, sapatos e bolsas, fábrica algumas sandálias.
O senhor Luiz Gonzaga, atualmente, (1986), é o Presidente da Associação dos Artesãos de Araçuaí. Dedica boa parte de seu tempo à administração da entidade. Recebe o associado e discute as questões ao artesanato e aos artesãos.

5.3.2.10. Sebastião Roque
Oficina instalada à rua Malacacheta nº 48, no centro de Araçuaí.
É casado e pai de quatro filhos.
Desde 10 anos de idade trabalha em uma selaria. Diz que com sete anos de idade começou a trabalhar em uma padaria. Em companhia de dois auxiliares trabalha o dia todo, sem interrupção.
O seu processo de confecção de uma sela, consiste na limpeza da sola, inicialmente. Depois passa a moldar peça por peça. Primeiro faz o soador e coloca o colchinho por cima. Depois que é montada a estrutura sólida passa a confeccionar os acessórios como loro, lático, barrigueira, estribo, pára-lama, rabicho, peitoral, cia.
O instrumental de um seleiro é mais complexo que o de um sapateiro ou remendão. Consiste de martelo, esmeril, faca, sovela, agulhas, alicates, tesouras, compassos, vazador, máquina de costura, pua e tábua de mesa.
Segundo Sebastião Roque os seleiros vendem pouco porque os compradores nunca concordam com o preço dado pelo seleiro. Forçam a concorrência entre os seleiros até conseguirem preços mínimos.
Nas vizinhanças de Sebastião Roque foram instaladas outras oficinas de selaria e artefatos de couro. Além disso, algumas casas comerciais circundam as oficinas, a exemplo de Mozar José Esteves e Élcio José Esteves, na rua Salinas onde são encontrados os mais variados artefatos de couro e outros produtos, fabricados por eles e adquiridos de terceiros.


6. MINAS NOVAS

6.1. Toponímia e Formação Administrativa

A paróquia foi criada por alvará régio de 1728. Em 1730 foi criada a vila, subordinada à Capitania da Bahia, com o nome de N.S. do Bom Sucesso de Araçuaí. Dezessete anos depois(1747) passa à comarca do Serro, embora as jurisdições eclesiásticas e militar continuassem sob a alçada baiana até 1857, quando foi integrada ao Governo de Minas Gerais.
Na verdade a vila de Minas Novas abrangia um território equivalente ao espaço territorial dos estado do Rio de Janeiro e Espírito Santo juntos. Era portanto, imenso.
Quase todos os municípios do Médio Jequitinhonha já lhe pertenceram. Atualmente o município de resume à seguinte divisão administrativa: o distrito da sede é formado pelos povoados de Forquilha, Imbiraçu, Indaiá, Lagoa Grande, Ribeirão dos Santos. O distrito de Leme do Prado engloba os povoados de Acauã, Mandassaia e Posses.

6.2. Densidade Demográfica
A superfície do município é de 1.708 km², com uma população de 30.616 habitantes. Eqüivale a uma densidade demográfica de 18 habitantes por km², enquanto a média da macrorregião do Vale do Jequitinhonha é de apenas 12 habitantes por km².
Esta densidade relativamente alta não resulta de uma capacidade de fixação da população por iniciativas empresariais ou capacidade empregatícia. Trata-se de município de uma formação urbana que conservou alguns minifúndios oriundos da época colonial.

6.3. Atividade Artística e Artesanal

6.3.1. Aspectos Sociais

A pecuária de Minas Novas difere um pouco dos municípios do Médio Jequitinhonha e assemelha-se ao tipo de pecuária do Serro. Isto é, mas voltada para a agroindústria e para a indústria caseira de laticínios. Algumas fazendas já utilizam-se de técnicas de produção de ração e criação intensiva o que melhora a demanda de mão-de-obra no meio rural.
Outro fator econômico que, na forma, difere dos demais municípios é a agricultura de subsistência, diversificada e distorcida da monocultura. No que pese as dificuldades de produção, a agricultura de Minas Novas é basicamente de subsistência, com destaque para a produção de feijão. Não menos importante é a tradição de cultura artesanal predominante no município desde a época colonial. Pode-se dizer que, no Nordeste Mineiro, Minas Novas foi pioneira na substituição das importações de tecidos, calçados e outros utensílios.
O testemunho do viajante francês Saint Hilaire evidenciou a questão.
Registra a presença de manufaturas de cobertores e diversas confecções de tecidos de alta qualidade técnica, a exemplo da sede exportada para a Europa, além de tecidos de algodão consumidos no local.
Mas como todos os municípios do Jequitinhonha, Minas Novas vem oferecendo seus solos ao plantio de eucalipto, chegando no momento a uma área de 23 mil hectares.

6.3.2. Artesãos
6.3.2.1. Ana Fernandes de Souza (Ana do Baú)
Nascida aos 7 de fevereiro de 1929, no povoado de Campo Alegre, Município de Turmalina.
Reside no lugarejo denominado Baú, há 6 km da cidade de Minas Novas.
A casa de sua residência é a sede da fazenda do senhor José Sena Motta (José Motinha).
É filha de Justiniano Dias de Souza e Dona Rita Fernandes de Souza. Ainda muito nova desligou-se do ambiente que lhe forneceu a habilidade artesanal que é o povoado de Campo Alegre e foi com a família tomar conta da Fazenda.
Em companhia de uma irmã mais velha. Natália faz tudo na fazenda. Trata de criações, campeia animais no pasto, ordenha vacas, faz queijo e manteiga, roça pasto, planta, capina, colhe e armazena para o dono da fazenda.
O mínimo tempo que lhe sobra, aplica na confecção de peças artesanais, predominando as miniaturas de aparelho de café.
Sua alimentação é rica e variada de vez que há muita fartura na fazenda. Quintal amplo e limpo. Nele encontram-se as mais variadas espécies de frutas plantadas. Boa criação de galinhas e porcos, embora não os sejam de sua propriedade.
Busca o barro em uma fazenda próxima, não se utilizando de nenhum meio de transporte.
Depois de beneficiado o barro é amassado em pequenas porções de vez que a maioria de suas peças são pequeninas e não trabalha o tempo todo. Isto é, somente quando não há outra obrigação na fazenda. Confecciona as tintas para decoração das peças usando o tauá e sumo de folhas silvestres.
Seu instrumental é bastante delicado. Usa sabugo de milho, faquinha de taquara, pena de galinha, pincel de algodão e uma pequena tábua.
Depois de modelados em uma pequena casinha ao lado da fazenda, as peças são secadas na sombra das árvores do quintal e levadas ao forno.
O resultado artístico do trabalho de dona Ana do Baú é surpreendente. Isto é, revela uma resultado adverso ao seu sistema de vida.
Nega a brutalidade ou a rusticidade das obrigações da fazenda. São miniaturas de aparelhos de chá que fazem lembrar a transparente e leve porcelana chinesa. Quanto mais grosseira parece a sua vida social, mais singela mais delicada e leve é a sua produção artística ou artesanal. Galinhas aconchegantes, rodeadas de pintinhos; vacas que acariciam os bezerros enquanto mamam e todo um conjunto de objetos de casa, representados apenas, sem a preocupação com seu uso dinâmico.
Eis que o milagre da arte. Quando chegamos à casa de dona Ana do Baú surpreendemo-nos com a beleza e a grandiosidade de tudo que a circundava. O terreiro limpo envolvido por uma rica plantação de flores. As imensas e íngremes montanhas; enormes tarefas a serem cumpridas; a espingarda pronta, para ser usada na defesa de sua vida e dos animais domésticos.
Justamente ali é que fomos encontrar uma forma de representação artística que nos transportou para além do mundo real que acabávamos de apalpar. As histórias que biografam a sua família são amargas. A doença do pai, sua agonia, a pobreza da família impuseram-lhe um celibato e uma azeda solidão. Justamente das mãos e da mente de quem não encontra motivos para sorrir é que saem vivas e alegres.


7. ITAMARANDIBA

7.1. Toponímia e Formação Administrativa

Seu primeiro nome, ainda na época colonial, foi São João Batista. Quando a localidade era habitada pelos botocudos, bandeirantes e aventureiros já a freqüentavam na busca de ouro e pedra preciosa. Em 1840 o arraial foi elevado à categoria de paróquia. Em 1862, ainda com a denominação de São João Batista, foi elevado à categoria de vila e sede do distrito, cujo território se desmembrou de Minas Novas, conforme Lei nº 1.136.
Em 1923 a Lei Estadual nº 843 elevou o distrito à categoria de município e alterou a sua toponímia para Itamarandiba. O vocábulo é de origem tupi e significa abundância de pequenas pedras.
O município é constituído de quatro distritos a saber: O distrito da sede com os povoados de Contrato, Embaúbas, Santa Joana, Santana e Santo Antônio. As vilas de Aricanduva e Padre Afonso e o distrito de Penha de França, que conta com os povoados de Santo Antônio da Várzea e Santa Lúzia.

7.2. Demografia
A superfície do município é de 2.823 km², com uma população de 28.609 habitantes. A densidade demográfica é de 10 habitantes por km², sendo inferior à média da macrorregião do Vale do Jequitinhonha que é de 12 habitantes por km².
A sede do município está a 417 quilômetros de Belo Horizonte, numa altitude de 964 metros, servida pela MG-214.

7.3. Atividade Artística e Artesanal

7.3.1. Aspectos Sociais
O município já ingressou-se na produção cafeeira com rápida expansão. Os efeitos sociais do cultivo do valioso grão ainda não se fizeram presentes de vez que os produtores exploram os trabalhadores com baixa remuneração, na busca de lucros mais altos. A criação extensiva de gado de corte emprega um mínimo de mão-de-obra, com mísera remuneração.
Outro tipo de plantio de eucalipto para produção de carvão. Além de expulsar a fauna, expulsa também o homem, não lhe oferecendo ocupação satisfatória. A taxa líquida de êxodo rural é uma das maiores da macrorregião. Isto é, 32,89%.
As atividades artesanais se desenvolveram a partir da época colonial com a instalação de forjas. Em face da facilidade para extração de minério de ferro surgiram fundições artesanais que culminaram com a confecção de ferramentas como foice, ferradura, machado e enxada. Surgiu, na mesma época, a tecelagem artesanal aproveitando-se a produção algodoeira e mão-de-obra locais. O processo consistia-se de caprichosa preparação do algodão, cardamento, fiação, urdidura e tecelagem em tear manual. Daí para cá a atividde artesanal e a indústria caseira têm sido uma alternativa para a sobrevivência.

7.3.2. Artesãos

7.3.2.1. Raimunda Martins (Dona Mundinha)
Nascida em 1940. Reside há 60 km da sede do município de Itamarandiba, na Vila Padre João Afonso.
A casa se destaca das demais residências de artesãos do Vale, em face da limpeza e da constante ornamentação. Cultiva hortaliças, frutas variadas. Além de uma farta e variada alimentação, Dona Mundinha domina invejável técnica de confecção de vinhos e licores de frutas.
Os filhos mais novos são seu auxiliares e aprendizes, tanto na lida da casa quanto no cultivo dos alimentos. Os filhos mais velhos optaram pela alternativa da lavoura canavieira de São Paulo.
Há oito anos apenas modelava algumas figuras que eram conservadas cruas. Diz que não as queimava porque temia colocar seus "santos" em fornalhas. Por esta declaração já começamos a avaliar a sensibilidade de Dona Mundinha. Posteriormente passou a misturar massa de papel no barro com resultado plástico satisfatório. Certa vez, ao receber ajuda filantrópica em alimentos, entre os quais alguns pacotes de farinha de trigo, como esta não fazia parte de seus hábitos alimentares, resolveu experimentá-la na composição da massa, na busca de uma melhor liga.
Com os três elementos da massa (barro, papel e farinha de trigo) o resultado foi a conquista da leveza plástica das figuras, soltando-as para maior expressividade.
Dona Mundinha é uma artista inquieta e criativa, embora sua técnica temática esteja presa a cenas bíblicas. De extrema sensibilidade, deixa transparecer sua turbulência emocional ao interpretar episódios bíb;icos com a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, fustigados pelo Demônio (serpente). Outro quadro escultórico não menos patético é o fratecídio de Caim. Abel é espancado com uma borduna enquanto o sangue jorra pelo chão.
Terrorizada por um mundo conturbado e instável, Dona Raimunda se coloca diante de um milagre na espera que este possa lhe conduzir a outro mundo sem incógnitas. Na cena da aparição de Nossa Senhora das Graças à três pastorinhas, prevalece a serenidade e a calma.
Pinta estandartes para festas religiosas e já experimentou o óleo sobre madeira. Embora já esteja preocupada com a harmonia linear de seu desenho, o resultado é o mesmo de qualquer primitivo. Isto é, deformações inconscientes e total liberdade na aplicação de cores. A sua paleta se caracteriza pela não mistura das tintas que se definem na originalidade. O tema de sua atividade pictórica é, invariavelmente, o religioso.
Uma artista admirável, espelhada (não intencionalmente) em Van Gogh. Vive hoje a sua solidão, sua pobreza e seu martírio, enquanto nós vamos contemplando a sua arte.


8. TURMALINA

8.1. Toponímia e Formação Administrativa

O nome Turmalina vem da palavra singeleza "turamali", significando pedra preciosa mista. Trata-se de mineral complexo de alumínio, contendo sódio, lítio, magnésio e ferro, nas cores rosa, vermelha, verde, azul e amarela. A turmalina é considerada pedra semipreciosa e muito apreciada em face de sua coloração e brilho.
No começo do século XIX, na microrregião mineradora de Diamantina surgiu o arraial da Piedade no termo da Minas Novas. O curato de Nossa Senhora da Piedde foi elevado a freguesia pela Lei nº 194, de 3 de abril de 1940. Tomou a denominação atual pela Lei 843, de sete de setembro de 1923. O distrito foi elevado à categoria de município pela Lei nº 336, de 27 de dezembro de 1948. Além da sede o município conta com os distritos de Caçarativa, com os povoados de Peixe Cru e Igassapaba; Veredinha, conta com o povoado de Mendonça.

8.2. Demografia
A superfície do município é de 1684 km², com uma população de 18.000 habitantes. A densidade demográfica do município é de 10 habitantes por km², sendo inferior à média da macrorregião do Vale do Jequitinhonha que é de 12 habitantes por km².
A sede do município está a 500 quilômetros de Belo Horizonte, pelas rodovias MG 208 e MG 367, numa, altitude de 718 metros.

8., 3. Atividade Artística e Artesanal

8.3.1. Aspectos Sociais

A principal atividade econômica do município é a silvicultura do eucalipto para produção de carvão, com um total de 40 milhões de árvores. Com a cultura do eucalipto a agricultura vem perdendo lugar de destaque e espaço territorial.
Mesmo assim o município produz cana-de-açúcar e cereais em grande quantidade. No conjunto da microrregião mineradora de Diamantina o município de Turmalina se destaca como o principal produtor de cebola oferecendo excedente para o comércio de outras praças. Além disso produz

abacaxi e mandioca mais que sua capacidade de consumo.
Como em toda a região do Vale do Jequitinhonha, na pecuária de Turmalina predomina a criação extensiva de gado de corte.
No setor da indústria extrativa predomina a produção de carvação vegetal para a indústria siderúrgica. Oferece poucos empregos e mesmo assim, de baixa remuneração o que deixa reflexos negativos na vida social do município.


9. CAPELINHA

9.1. Toponímia e Formação Administrativa

Seu primeiro e único nome foi dado em função de uma pequenina capela Ter sido erguida na cabeceira do ribeirão do Areião, no início do século XIX, por iniciativa do fazendeiro Feliciano Luiz Pego. Buscando proteção contra os índios os moradores da região aglomeram-se em torno da capelinha. Com o crescimento do arraial construíram uma igreja maior sem demolir a mais antiga. Ligado ao território de Minas Novas o distrito de paz foi criado por Lei provincial de 4 de junho de 1958. Em 1911 o distrito de Capelinha foi elevado à categoria de município por força da Lei estadual nº 556.
O distrito sede do município conta com povoados de Bom Jesus do Galego. Capadinha, Santo Antônio dos Moreiras, São Caetano, Vila Dom João Pimenta. O distrito de Vila dos Anjos não engloba outros povoados além de sua sede.

9.2. Demografia
A superfície do município mede 1.397 quilômetros quadrados. Sua população, é de 23.744 habitantes. A densidade demográfica do município é de 17 habitantes por quilômetros quadrados, sendo 5 pontos mais alta que a média do Vale do Jequitinhonha.
A cidade de Capelinha localiza-se a 469 quilômetros de Belo Horizonte, sendo servida pelas rodovias BR 120 e MG 214.

9.3. Atividade Artística e Artesanal

9.3.1. Aspectos Sociais
A atividade agrícola predominante no município é a cafeicultura, com 600 toneladas anuais, embora muito nova. Pode-se dizer que os benefícios d produção cafeeira ainda não chegaram a um ponto idela. Isto é, o grosso do resultado da produção ainda é escoada para outras regiões, deixando a dever uma melhor distribuição no âmbito do município. Outras produções canalizadadoras de riquezas para o município são de mandioca, milho, cana-de-açúcar, marmelo, alho, cebola e fumo.

Na pecuária, ao contrário dos demais municípios do Vale do Jequitinhonha, a predominância é de criação de suínos. Embora em números de cabeças a suinocultura supere as demais criações, a bovina é superior em rentabilidade. Em face da cafeicultura e da suinoculturao nível de emprego no município de Capelinha é um dos mais altos do Vale do Jequitinhonha.
Embora a indústria extrativa de carvão vegetal esteja em expansão no município ela não é a mais expressiva.


10. CARBONITA

10.1. Toponímia e formação Administrativa

O seu primeiro nome foi de Bom Jesus dos Barreiros. A partir de 1911 passou a denominar-se somente Barreiros, distrito ligado ao município de Itamarandiba. Denominavam-se barreiros os terrenos onde são comuns jazidos solitrosos ou barro salgado apreciado pelo gado. Em 1943, em face da Lei nº 1058, a denominação foi mudada para Carbonita. A denominação atual é em função do mineral carvão de pedra.
Segundo Pimentel Godoy, não há carvão de pedra em Minas Gerais.
Em Barreiros no município de Itamarandiba, há uma ocorrência que se tornou famosa pelas controvérsias que suscitou. Entretanto, convenientemente estudado, ficou demonstrado tratar-se de carbono grafitoso que não presta nem como carbono nem como grafite. Seja como for o mineral serviu para dar ao município um nome mais bonito que o anterior.
Em dezembro de 1962 o distrito foi elevado à categoria de município, desmembrado de Itamarandiba.
O distrito da sede do município conta com os seguintes povoados: Abadia, Barreiro, Cachoeira, Dois Córregos, Mercadinho, Monte Belo, Ribeirão e Santana.

10.2. Demografia
A área do município é de 1.337 km². Sua população é de apenas 6.568 habitantes, constituindo-se na densidade demográfica mais baixa de todo o Vale do Jequitinhonha, com 4,9 habitantes por km².
A cidade de Carbonita desta Belo Horizonte em 422 km, muna altitude de 700 metros.

10.3. Atividade Artística e Artesanal

10.3.1. Aspectos Sociais
As salinas naturais do município facilitam a criação extensiva, o que prejudica o desenvolvimento da lavoura. Mesmo assim existe uma razoável produção de arroz, feijão, milho, cana-de-açúcar, mandioca, alho e fumo.
A cafeicultura está apenas na fase inicial.
Na industria caseira prevalecem as produções de rapadura, cachaças, queijos, requeijões, manteiga, doces e farinha de mandioca.


11. BERILO

11.1. Toponímia e Formação Administrativa

A palavra berilo vem do grego "beryllos", utilizada para designar os gemas verdes. O mineral berilo é um dos silicatos mais importantes e tem grande variedade de cores.
Derivados do berilo, são muito conhecidos entre nós as pedras semipreciosas como a esmeralda, a água-marinha e a morganita.
A região que compreende a sede do município Berilo foi povoada desde as primeiras décadas do século XVIII formando o arraial com a denominação de água suja, em face da turbulência do rio Araçuaí povoado pela mineração.
Com a decadência da mineração, mais tarde o distrito passou a denominar-se Água Limpa. Durante o século XIX a emigração foi tão intensa que o arraial quase foi extinto, tendo a Paróquia transferido a sede para Sucurin, hoje Francisco Badaró.
Somente em 1923 pela Lei nº 843 de 7/9 é que o povoado foi elevado à categoria de distrito e recebeu a denominação atual. Em 30 de dezembro de 1962, por força da Lei ______ foi criado o município de Berilo.

11.2. Demografia
A superfície do município é de 917 km², e a população de 18.000 habitantes. A densidade demográfica do município é uma das mais altas do Vale do Jequitinhonha, com 20 habitantes por km², com 8 pontos acima da média da região. A sede do município desta de Belo Horizonte em 660 km, numa altitude de 436 metros.


11.3. Atividade Artística e Artesanal

11.3.1. Aspectos Sociais
Ao contrário da maioria dos municípios do Vale do Jequitinhonha, a pecuária leiteira é predominante no município de Berilo, com 480 mil litros de leite. Além disso a produção de cereais está entre os primeiros da região.
Produz suficientemente para o consumo no município, arroz e milho.
O excedente da produção de feijão é comercializado nos municípios circunvizinhos. Além disso produz cana-de-açúcar, mandioca.
O tipo de economia praticado no município favorece a elevação do nível de ocupação e empregos.


12. COUTO MAGALHÃES DE MINAS

12.1. Toponímia e Formação Administrativa
Povoado elevado a distrito, no município de Diamantina,em 1938, como nome de Rio Manso.
A toponímia atual é uma homenagem ao ilustre José Vieira Couto de Magalhães, nascido em Diamantina em 1836. Foi General de Brigada do Exercíto e Presidente das províncias de Goiás, Pará, Mato Grosso e São Paulo. Além de organizador de companhias de navegação dos principais rios brasileiros, foi ensaísta e iniciador do estudo da cultura popular no Brasil.
O distrito foi elevado à categoria de município e cidade em 1962, pela Lei estadual nº 2764.
O distrito único da sede conta com os povoados de Cumpicos, Amendoim, Tijucano e Tomé.
O nome preferido para a população continua sendo de Rio Manso.

12.2. Demografia
A área do município é de 631 km², com uma população de 4.340 habitantes.
A densidade demográfica do município é de 7 km², inferior à média da macrorregião do Vale do Jequintihonha que é de 12 habitantes por km².
A sede do município localiza-se a 326 km², de Belo Horizonte e a 33 de Diamantina, à margem da rodovia BR 259.

12.3. Atividade Artística e Artesanal

12.2.1. Aspectos Sociais
A grande quantidade de nascentes, córregos ribeirões e rios do município facilita a atividade agropecuária.
A proximidade do centro comercial de Diamantina facilita a comercialização de produtos hortigranjeiros, frutas, cerais, carnes bovina e suína, produtos da indústria caseira, como aguardentes, queijos, doces.
Muito intensa na região e a mineração de ouro e diamante.


13. SALINAS

13.1. Toponímia e Formação Administrativa
A criação da Paróquia de Santo Antônio das Salinas data de 1855. A criação do distrito como o mesmo nome foi em 1880.
No dia 4 de outubro de 1887, há um século, a vila foi elevada à categoria de município. Somente em 1922 é que o seu topônimo foi reduzido para Salinas.
A denominação de Salinas foi dada em função de ser a região um centro produtor de sal da terra.
No distrito sede Salinas conta com os seguintes povoados: Água Boa, Baixa do Boi, Baixa Grande, Cambaúba, Entrocamento de Taiobeiras, Fruta de Leite, Indaiá, Lagoinha, Nova Fátima, Novo Horizonte, São João do Pequi. No distrito de Ferreirópolis, Montes Clarinhos, Coutinho. No distrito de Santa Cruz de Salinas o povoado de Curralinho

13.2. Demografia
A área do município é de 3.698 km², com uma população de 50.000 habitantes.
A densidade demográfica é de 13,5 habitantes por km².
Com um ponto e meio acima da média do Vale do Jequitihonha.
A sede do município localiza-se a 670 km de Belo Horizonte, servida pelas rodovias BR 251, 342 e MG 404.

13.3. Atividade Artísticas e Artesanais

13.3.1. Aspectos Sociais
Para cada habitante do município existem duas cabeças de gado bovino, enquanto a produção de leite daria para apenas um copo de leite para cada um, diariamente. Isto significa que grande parte do produto pecuário é para o corte. O gado é abatido em outros municípios com prejuízo para a renda municipal.
As riquezas naturais são imensas com exploração de jazidas de águas-marinhas, cristal de rocha, ametista e turmalina, feldispato, esccória e berilo. A agricultura produz quase todos os cereais tradicionais para a subsistência e para o mercado de outras regiões.
Os produtos da agroindústria e da industria caseira são conhecidos em todo o Estado, sendo disputados por preços fora do comum.
Não há quem não conheça e não procura os requeijões e as aguardentes de Salinas. Mas de modo geral os habitantes do território do município são carentes e levam vida difícil. Em Salinas a pobreza da sociedade, há dois séculos, contempla a riqueza natural.

14. COMERCINHO

Ainda pertencendo a Araçuaí, no arraial de Comercinho foi criado o distrito de paz, em 1877, pela Lei provincial nº 2.376.
Em 1880 foi criada a Paróquia. Elevado à categoria de cidade em 1848, em face da Lei nº 336, território desmembrado município de Medina.