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Zona da Mata

Breve História

BREVE HISTÓRIA

ZONA DA MATA MINEIRA:
Breve História.
Antonio de Paiva MOURA
Desde os primeiros momentos da mineração aurífera, especialmente após a Guerra dos Emboabas (1709) a entrada ou saída na região aurífera começou a ser controlada. Ninguem entrava ou saía sem permissão das autoridades reais. Em seguida a proibição de abertura de novos caminhos nas direções Leste e Oeste. Nos caminhos oficiais havia uma severa vigilância militar e burocrática. A mata do Leste constituía-se em uma verdadeira barreira natural. Era intransponível em face das próprias condições naturais e dos indígenas que atacavam pequenos grupos ou pessoas isoladas.
Muito conhecidos pelos historiadores brasileiros o diário da jornada que fez o ouvidor Caetano da Costa Matoso, do Rio de Janeiro até Ouro Preto, de 27 de janeiro a 7 de fevereiro de 1749 e que fica impressionado com a grandiosidade e hostilidade da mata. Seguindo obrigatoriamente o chamado Caminho Novo, (1) no sexto dia de viagem entra na divisa de Minas onde há um posto de fiscalização chamado Várzea dos Três Irmãos e diz: "vim continuando todo este caminho sempre entre matos, como até aqui, sempre subindo e descendo mais e menos, com pouca ou nenhuma diferença, e sempre com cada vez piores caminhos passei (...) correndo junto e à vista sempre do rio Paraibuna que aqui corria. Ai passei a rocinha de Matias Barbosa, sempre seguindo o mesmo rio em mais légua, chegando pelas onze e meia, junto a ele, a um sítio a que chamam Matias Barbosa, que com descanso meu até a manhã seguinte. (...) Aqui se pesam todas as cargas de fazenda, o que antes faziam no registro da Borda do Campo". Continua a viagem sempre subindo e descendo morro no mato fechado. "E daí vim, sempre a vista desse rio, por iguais caminhos, em distância de mais de uma légua, e junto a ele cheguei a um sítio a que chamam Juiz de Fora, pelo meio dia, a que faz cinco léguas. (...) É este sítio como os demais; tem uma casa de sobrado e suas acomodações para os mais passageiros e é chamado de Juiz de Fora porque foi erigido por um Luiz Fortes, juiz de fora que tinha sido no Rio de Janeiro, a quem, criminaram por amizade com os franceses na ocasião em que se apoderaram daquela cidade e depois veio para este sítio no qual viveu". Faz referência de raios em Juiz de Fora e no oitavo dia de sua viagem prossegue, sempre temeroso de que viessem novas trovoadas no interior da mata, "que fazem maior eco e pela quantidade de chuva que lançam, como sucedeu nesta tarde, que se armou outra não pequena". No dia 4 de fevereiro, nono da jornada, prossegue viagem até chegar no sítio João Gomes (Palmira e depois Santos Dumont). "Neste dia se me mostrou para a parte de Oeste uma altíssima serra chamada Ibitipoca, que nasce o Rio Paraibuna". No dia 5 de fevereiro, décimo da viagem, chega à aldeia de Mantiqueira, na Serra da Mantiqueira. O viajante, pela primeira vez, vê a terra descoberta de mato, vegetação rasteira. Diz sentir-se desabafado, "vendo que respirava e se estendiam mais ao longe os objetos da vista, deixando aquele afogado e melancólico caminho que dez dias não via outra coisa senão o mato e as árvores imediatas a min. Assim, neste maior desafogo, cheguei pelo meio-dia a Borda do Campo. (Barbacena). Chama-se Borda do Campo, por nele se acabar o caminho do mato". A partir daí diz o viajante, em direção a Ouro Preto e São João del Rei, não mais a mata contínua, mas apenas capões de mata e capoeiras. (COSTA MATOSO, C. 1999, p 889/897)
No período pombalino (1750/1777) foi incentivada a procura de novas jazidas de ouro e pedras preciosas fora do meio aurífero original, explorado há mais de meio século. A região da Mata foi atingida pelos afluentes do Rio Doce. Depois de Pombal estas buscas continuam mais intensas. Em 1780, o governador da capitania de MG, Dom Rodrigo José de Menezes, (Conde de Calveiros) desejando melhorar a fiscalização do "Quinto", viajou pelos sertões circunvizinhos da Mantiqueira, pelas vertentes do Rio Paraibuna e nascentes do Rio do Peixe, onde havia notícia de faisqueiros de bom rendimento e que o extravio do ouro era grande, através da Serra do Ibitipoca, tendo encontrado alguns sitiantes nas proximidades do Caminho Novo. Mandou Francisco Antonio Rabelo, para examinar a região e outras matas gerais da Mantiqueira abaixo e procurar meios seguros de se impedir extravios de ouro. Rabelo informou que vários moradores do referido caminho haviam feito roças, paióis e aberto caminhos para dentro do sertão proibido, por onde poderia quem quisesse, passar sem encontrar patrulha. No ano seguinte (1781) o governador determinou a Tiradentes que fiscalizasse tais caminhos nas margens do Rio Preto sua travessia para o Rio de Janeiro. Ainda no final do século XVIII foi o Registro de Rio Preto, constituindo-se no segundo caminho para o Rio de Janeiro. Até 1800 o local era chamado de passagem do Rio Preto, ligado a Conceição de Ibitipoca, na comarca de Rio das Mortes. A mineração dessa região foi efêmera com o esgotamento rápido das jazidas. Passando automaticamente á atividade agrícola e pastoril, como havia autorizado o governador Rodrigo de Menezes. Mas a marca urbana da mineração ficou gravada nas paisagens de Conceição de Ibitipoca, Rio Preto e Santa Rita de Ibitipoca. (2)
Ficaram célebres as investidas do próprio governador Dom Rodrigo José de Menezes, que passando por Ponte Nova alcançou o Cuieté em 1781. Verdadeira epopéia de um cavaleiro resoluto que em muitos lugares teve que abrir caminho na selva ocupada por índios canibais (3) O caminho percorrido, o rumo tomado por D. Rodrigo de Menezes até então era proibido. Três anos depois da viagem ao Rio Doce, (1784) Dom Luiz da Cunha Menezes encarregou o sargento-mor do Regimento dos Dragões, Pedro Afonso Galvão da importante diligência de ir examinar as áreas proibidas. Foi uma diligência importante porque atravessou toda a região da Mata fundando os registros do Cunha, da Ericeria e do Louriçal nas margens do Pairaíba.(4) Da Borda do Campo (Barbacena) aos aldeamentos do Padre Manoel de Jesus as comunicações eram francas, passando por São Manoel do Pomba e seguindo a capela do Espírito Santo, no lugar do cemitério indígena. Daí até Meia Pataca encontravam-se muitos moradores. (VASCONCELOS, D. 1974) (5)
Mas antes das investidas de Dom Rodrigo José de Menezes, os bandeirantes já haviam palmilhado os lugares mais altos como o Vale do Guarapiranga em busca de ouro e apresamento de índios, a exemplo dos irmãos Antonio Fernandes Furtado e Feliciano Cardoso de Mendonça, de 1702 a 1703. . Descobriram as minas de Bacalhau (atual Santo Antonio de Pirapetinga); Pinheiros Altos, Prazeres; Calambau (atual Presidente Bernardes); Rocha (atual Senador Firmino).
Piranga parece ser a paróquia mais antiga da Zona da Mata, criada em 1724. Em torno da primeira capela já se fazia enterramento. Essa capela deu lugar à matriz, cujo frontispício é de 1758, transição da segunda para a terceira fase do barroco mineiro. Essa igreja foi demolida em 1976, na gestão do arcebispo de Mariana, Dom Oscar de Oliveira. A igreja do Rosário de Piranga, embora haja registro de sua presença desde 1762, ela parece ser mais recente, quarta fase do barroco mineiro. O Santuário do Bom Jesus de Santo Antonio do Pirapetinga, (Bacalhau) traz uma curiosidade do barroco mineiro. As sineiras laterais emendam-se com as sacristias. Uma porta central e quatro janelas com vergas curvas em bico; guarda-corpo de madeira; edificação da Quarta fase do barroco mineiro.
Senador Firmino, antigo distrito de Conceição do Turvo, pertencente ao município de Ubá, até 1938. Da descoberta das minas de ouro até o começo da exploração levou um bom tempo. Os índios da região não permitiam a fixação de mineradores e agricultores no local, destruindo casas e roças. O arraial só iria surgir com o aniquilamento dos índios, a partir da segunda metade do século XVIII. A primeira capela de Nossa Senhora da Conceição foi construída em 1753, por ordem do primeiro bispo de Mariana. Com o esgotamento das minas entrou em decadência passando a pertencer a Dores do Turvo em 1871. (BARBOSA, W A, 1971)
Presidente Bernardes, antigo Santo Antonio de Calambau. O território foi desbravado pelo paulista João Siqueira Afonso que invadiu a região atraído pela ocorrência de ouro. Com o esgotamento das minas o local foi explorado por agricultores de abasteciam Mariana e Ouro Preto. Em 1733 foi doado o terreno para construção da capela, por João Cabral da Silva. Em 1770 foi construída outra igreja em local mais plano. A freguesia foi criada em 1868, com o título de Santo Antônio de Calambau. Praça ligeiramente arqueada, tendo ao centro a matriz de SantoAntonio, reformada em estilo neo-classico. Equilíbrio de massas e simetria nos ornatos até a altura da cimalha. Acima desta, verticalidade desproporcional. Na reforma do templo prevaleceu o ecletismo. Está ladeada por casarões coloniais de dois pavimentos e janelas de guilhotinas, com caixilhos de vidro. Do lado direito de quem dá as costas para a matriz, casas mais baixas com diversos estilos, do colonial ao dèco. De frente para a matriz, dois sobrados coloniais com telhados de quatro águas, janelas de guilhotina. Por tudo isso, Presidente Bernardes é uma cidade da Zona da Mata, tão mineira quanto as da região do ouro.

Acontece que com a queda do governo de Pombal e logo em seguida a Inconfidência Mineira, o governo português começa a desistir da mineração aurífera pelos seguintes motivos: a) Esgotamento das jazidas superficiais, isto é, depósitos aluviais recentes, em que os minerais podiam ser extraídos com instrumental e técnicas rudimentais; b) Não era mais possível manter a repressão para abafar revoltas, motins e resistências contra os privilégios e as injustiças; c) Não puderam mais evitar as mudanças modernizadoras do sistema exploratório que exigiam aplicações de capitais a longo prazo e tecnologia mais apropriada; d) Não eram mais possível nutrir no povo a crença de que os lusitanos eram eleitos por Deus para colonizar, isto é, obrigar o povo a aceitar a sacralidade da colonização. Minas Gerais oferecia aos portugueses condições de continuar uma colônia rendosa no campo da indústria, da agricultura e da pecuária. Daí a marcha para o Leste, para a Região da Mata.
Um dos primeiros obstáculo para ocupar o Leste não era mais a mata, que na verdade se constituía em bem de riqueza, mas o indígena. Conforme classifica o estudioso Oiliam José, os purís da Zona da Mata Mineira, ocupavam entre outras, as vastas áreas dos atuais municípios de Viçosa, Coimbra, Ervália, São Geraldo, Visconde do Rio Branco, Ubá, Tocantins, Rio Pomba, Guarani, Guidoval, Astolfo Dutra, Dona Eusébia, Cataguases, Mirai, Muriaé, Patrocínio do Muriaé e Leopoldina. Reram de origem goitacá, como também o foram algumas tribos do Nordeste Mineiro, tribos essas incorporadas aos botocudos. No final do século XVIII, eram considerados muito bravos e donos das terras do ouro. Leopoldina era considerada o último refúgio dos purís escorraçados pelos mineradores. No início do século XIX, na área compreendida entre os rios Angu, Meia Pataca e Pomba imperavam ainda as matas virgens. Antes da vinda da Corte portuguesa para o Brasil, Dom João VI havia mudado a concepção política com relação ao indígena, isto é, estudava a possibilidade de aldeá-lo, torná-lo civilizado e incorporado como súdito útil ao Império. Daí o aproveitamento do militar francês, Guido Tomaz Marlière na tarefa de civilização dos indígenas da região, sendo considerado o fundador das localidades de Cataguases, Muriaé e Patrocínio de Muriaé. (JOSÉ, O 1965)
Setenta e dois anos depois da viagem de Caetano Costa Matoso, em 1821, ocorre a viagem do inglês Alexander Caldcleugh que tem o mesmo sentido claramente exploratório, a serviço do Governo Inglês. Era um cientista com interesses múltiplos e que tudo estava sob seu olhar experimental: a flora, a fauna, o solo, o subsolo e os serviços dos possíveis súditos de sua majestade britânica. Por isso vai, minuciosamente, estudando tudo que está disponível ao longo da estrada. Dia a dia, povoado por povoado: a classificação geomorfológica das rochas; os tipos humanos. Ainda para Cladcleugh a mata é um aspecto tenebroso até chegar em Barbacena. Como Minas ainda é um mercado fabuloso, com uma população três vezes maior que Rio de Janeiro e São Paulo juntos, já de volta para a Inglaterra, o viajante compra uma enorme quantidade de coisas para levar. As seis primeiras bestas não suportam as cargas e ele teve que substitui-las antes de chegar no Rio de Janeiro. Mas a mata continua sendo um lugar de difícil transposição. Caldcleugh narra situações dramáticas que ouviu durante a viagem. São inúmeros os tesouros arrebatados com assaltos espetaculares. Fortunas encontradas junto a restos mortais. Nesses setenta e dois anos muita coisa havia mudado e a mata já estava liberada. (CALDCLEUGH, A, 2000)
Até então os registros de cartas de sesmarias concedidos a habitantes eram nas margens do Caminho Novo como havia narrado o viajante Caetano Costa Matoso (1749). Mas nas proximidades de Carangola, nos começos do século XIX (1833) um grupo originário do Serro, tentando o garimpo instalou-se nos lugares denominados Faria Lemos, Arraial Novo, Glória e Pomba. Em 1840 surgiram os Lanes em Muriaé, iniciando o cultivo de cana, de arroz e outros cereais. Em 1842 chegam os Batalha, de Cantagalo, da província do Rio de Janeiro; os Vasconcelos da região do Serro; os Frossard, da colônia Suiça de Nova Friburgo; os Pereira de Souza, do Rio Novo; os Pedrosa, de Ouro Preto; os Machado de Santa Bárbara. (MERCADANTE, P. 1973)
Em face dos embargos legais de ocupação da parte mineira da região da Mata, os mineiros com capitais formados na mineração ocuparam o outro lado da fronteira, na Capitania Fluminense. Foi de tal forma que em 1870 o Rio de Janeiro produzia 60% do café brasileiro, seguido de Minas com 25% e São Paulo 15%. Mas com a construção das ferrovias e outras estradas, em dez anos São Paulo passa ao primeiro, Minas toma o segundo lugar e Rio de Janeiro o terceiro lugar na produção cafeeira, quando as cidades e as indústrias começam a florescer. A cafeicultura foi fundamental no povoamento da região: de Valença vieram os Feirreira Leite para Marde Espanha; Manoel José Monteiro de Barros, migrado de Congonhas para fundar lavoura de café em Pirapetinga; Antonio Monteiro de Barros proprietário da Fazenda Paraíso, de Leopoldina. José Vidal Barbosa, de Santos Dumont, José Pereira Alvim, em Mercês; José Inácio Nogueira da Gama, para Caminho Novo; José Vieira de Resende, de Queluz (hoje Conselheiro Lafaiete); Manoel Guieiro, do Serro, para Cataguases; Joaquim Monteiro Pinto e irmãos, mestres em formação de cafezal, para Palma. Provocando o surgimento das fazendas, o café concorre para o aparecimento das capelas, povoados, dos quais vilas e cidades se formaram, com a nova riqueza. (PEDROSA, M. X. V. 1962)
O desmatamento foi feito com violência da encosta ao espigão, com machado, fogo e técnicas rudimentares. O objetivo era a terra para plantar café, sem olhar para os efeitos daninhos no futuro. Não faltaram protestos contra tal devastação, principalmente dos viajantes estrangeiros. Mas o resultado foi o crescimento vertical da curva populacional da Zona da Mata de 1822 a 1920.
1822 20.000 habitantes
1872 250.000 "
1890 430.000 "
1920 840.000 "
A produção cafeeira, em arrobas foi a seguinte
1839 243.473
1860 688.946
1880 5.357.920
1900 104.196.176
As vias de transporte que se constróem na Segunda metade do século XIX e nos primeiros anos do século XX, contribuíram de maneira decisiva para o povoamento. A estrada União representou iniciativa pioneira de inestimável alcance, notadamente para a época, considerando-se que foi inaugurada em 1861. A Estrada de Ferro Pedro II (Depois Estrada Ferro Central do Brasil e hoje Centro Atlântica) penetrou na Mata, chegando a Juiz de Fora em 1871. Por sua vez, a Leopoldina, acompanhando antigas ferrovias, todas construídas em função do escoamento do café, se expande na Mata nos primeiros anos do final da época monárquica até os primórdios da República. Mas tarde, um importante rodovia federal, a Rio-Bahia, corta a região de Norte a Sul, contribuindo para a expansão demográfica de muitas localidades e beneficiando o escoamento da produção agrícola, pastoril e industrial. (DIAS, F. C. 1971)
A Zona da Mata foi colonizada por mineiros, brancos e negros. A criação do povoado de Meia Pataca, atual Cataguases, já havia sido autorizada pelo governador da Capitania, Diogo Lopes da Silva, em 1767, que deveria ser ocupado por mineradores egressos da região do ouro. Um século depois, segunda metade do século XIX, o objeto das migrações muda do ouro para o café, mas continua privilegiando os egressos da região central de Minas que levem o indispensável para o início de atividades: capital e mão-de-obra, a que Blasenheim chamou de comércio intraprovincial de escravos, relocalizando cativos da decadente zona da mineração na dinâmica mata, exatamente no momento em que o sistema de escravidão começa a se desintegrar no Rio de Janeiro e em São Paulo. (BLASENHEIM, P. 1982) A massa escrava na região mineradora é destinada ao cultivo do café, adaptando-se com rapidez e relativa eficiência às novas atividades. Havia já um processo de aculturação do negro processada na região central da Província. A linguagem, a religiosidade, os bailados, a música dos negros ainda presentes na cultura negra da Zona da Mata conferem com as da região central de Minas. O que mais caracteriza as vilas e cidades da Zona da Mata é que a formação urbana começa com a igreja matriz dedicada a Nossa Senhora da Conceição, Santo Antonio, Santa Rita, São Geraldo e outros, tendo ao seu lado a igreja de Nossa Senhora do Rosário dos pretos. Durante o ano são realizadas duas festas: a primeira é a do santo padroeiro e a Segunda é a de Nossa Senhora do Rosário.
Na certeza de continuarmos nossos estudos históricos da região mineira da Mata, queremos apenas sintetizar a sua característica primordial: Assume desde os primeiros momentos o Liberalismo, a iniciativa privada, a crença no progresso, o progresso material trazido pela máquina a vapor e pela eletricidade; o ecletismo do estilo arquitetônico e outras manifestações de uma mentalidade com tendência a romper com o estabelecimento mental, até o final do século XIX. A Zona da Mata é uma ruptura com o passado histórico de Minas Gerais. Salvo rara exceção, ela não foi devastada pelos bandeirantes, nem deve a nenhum deles a formação de seus povoados; nem vasculhada por aventureiros que apenas se enriqueciam e partiam.
(1) - Caminho Novo, construído de 1703 a 1705, por Garcia Rodrigues Paes, filho do caçador de esmeraldas, sertanista com experiência do caminho velho, o de São Paulo, pessoas de confiança dos governadores, passou a atuar nos postos de registro da saída de ouro da Capitania. A estrada foi concluída pelo capitão Domingos Rodrigo da Fonseca. (PEDROSA M. X V. 1962)
(2) - Conceição de Ibitipoca teve uma atividade mineradora, que possivelmente tenha começado na segunda metade do século XVIII. A paróquia foi criada em 1818. A devoção a N.S. da Conceição indica a oficialidade da capitania de Minas Gerais atuando na região. A capela é típica da primeira fase do barroco mineiro, embora esteja na cronologia da quarta fase. Duas janelas formando uma triangulação com a porta, de vergas em bico. A torre do lado direito de quem entra no adro, em dois pavimentos, bem isolada da faixada. A antiga torre em taipa foi substituída pela atual com vergas em arcos plenos denotando o gosto neoclássico. Os retábulos são da quarta fase do barroco mineiro. A pintura do forro da capela-mor em abóbada de berço é também da quarta fase do barroco mineiro.

(3) - O topônimo do município de Abre Campo foi inspirado no fato de o ruído do facão do abridor de picada no mato, ser mais ou menos o de "cotoché". Da onomatopaica tupi, cotoché passou a designar Abre Campo.

(4) A região que até o presente conserva o nome de Mata, como já se disse, além dos aldeamentos do Pomba e do Presídio de São João Batista, até os anos de 1784, nenhuma diligência para seu aproveitamento mereceu por parte do governo (...) Com as matas de leste sucedeu também que, por não darem ouro, foram rigorosamente, conservadas, sendo-lhes impedido acesso, como barreira contra os extravios, e por isso se chamavam áreas proibidas" (VASCONCELOS, D. 1974, p 275.)

(5) Meia Pataca, nome dado ao lugar também denominado Porto dos Diamantes, atual Cataguases, na margem esquerda do Rio Pomba, visto os aventureiros ali terem, na experiência apurado essa quantia na primeira bateada. (VASCONCELOS, D. 1974; 279)


BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Promoção da Família, 1971.

BLASENHEIM, Peter. Uma história regional: a Zona da Mata Mineira (1870-
1906). In: V Seminário de Estudos Mineiros.. Belo Horizonte: UFMG, 1982.

CALDCLEUGH, Alexander. Viagem na América do Sul: extrato da obra contendo relato sobre o Brasil. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 2000.

COSTA MATOSO, Caetano. Diário da jornada que faz a Minas Gerais em 1749. In: Códice Costa Matoso: Coleção das notícias (...) & vários papéis. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1999.

DIAS, Fernando Correia. A imagem de Minas: ensaio de sociologia regional. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1971.

JOSÉ, Oiliam. Indígenas de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1965.

MERCADANTE, Paulo. Os sertões do Leste, estudo de uma região: A mata Mineira. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.

PEDROSA, M. X. de Vasconcelos. Zona silenciosa da historiografia mineira: A zona da Mata. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte, Nº IX, 1962.

VASCONCELOS, Diogo de. História Média de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatatiaia, 1974.