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ARLETE
Arlete, amiga querida

Na teoria freudiana, a experiência de satisfação tem como antecedente um "acúmulo de necessidades instintuais" provocadora de desamparo. Sinto-me assim mau e bem. Mau porque estou "desamparado". Bem porque (conforme a teoria) logo conhecerei o êxtase! Enquanto o gozo não vem, continuo inventando uma ilusão: o amor. Privados de algo (os seres humanos), por conta da falta, do desamparo, inventamos o amor. Atualmente busco o amor de uma vizinha que mora na cobertura do meu prédio. Com a ajuda do porteiro (uma mistura de sábio medieval e cupido iniciante) enviei-lhe dois poemas versando sobre sua beleza (claro, anonimamente). Mas o meu amigo diz que foi "torturado" para revelar a minha identidade. Veja você, querida Arlete, acho que ela também vive um momento de desamparo, porque, ao contrário, deveria deixar "rolar", dar tempo para que a paixão (que creio ter-lhe despertado) tomasse rumo. Mas você bem sabe, a paixão é uma flor que aflora à beira de um precipício: é preciso ter coragem para colhê-la!!!

Quanto ao resto, sigo viajando, viajando, viajando... (razão de minha ausência da sua cidade, conforme prometera ir e, creio ser a razão de você me ter posto na "muda"!). Escrevi sete programas de governo com muito entusiasmo. Pena que os candidatos não se deram ao luxo de ler. Os políticos são uma espécie de tarados: perseguem o poder como quem busca a salvação. No processo da disputa, se eleitos, tornam-se , eles mesmos, os salvadores do mundo. Assim, represento para eles um incomodo. Quero que procurem focalizar seu papel social, num primeiro momento, compreender a transformação que as pessoas desejam na vida de suas cidades, na promoção de suas vidas. Como estão as crianças e os jovens? São considerados cidadãos? E os velhos, como estão? E as mulheres, têm espaço, são hoje responsáveis? Ou ainda se vive numa sociedade que discrimina, que considera o feminino como elemento sem maior importância e que coloca a racionalidade no pedestal, como sinônimo de progresso? São muitas as perguntas que se deve fazer para se obterem as respostas! Mas eles não conseguem enxergar a sociedade, mas a si mesmos...
Querida Arlete, escrevo-lhe para lhe dizer que te amo, que tenho saudades, que você é uma linda mulher.

Um grande beijo, até o nosso próximo encontro

de teu amigo Carlos

Tão longe, 30 de setembro de 2004

Últimas Notícias: seu sofazinho está aqui, te esperando; Brizolinha agora é vizinho, para minha alegria, tocando tamborim; tem cachaça de Salinas (da boa, parece licor); meu livro está "andando", lembrando que você é minha revisora para os temas do amor. Então: viva a vida, e, lembre-se: um dia, o maltratado vai embora, para desespero do narciso!